Do Brasilianas.org
 
Para escapar da maldição do petróleo país deve incentivar empresas de capital nacional
 
A política de conteúdo local, que obriga a indústria petroleira a contratar insumos nacionais, não é suficiente para melhorar o nível de produtividade da economia brasileira, avaliou nesta quinta-feira (12) o diretor da Inovação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), João De Negri, durante abertura do fórum “As redes de pesquisa para o setor de petróleo e gás natural”, promovido pelo portal Brasilianas.org, no Rio de Janeiro.
 
A proposta de conteúdo local é aplicada desde 1998 pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), como clausula de classificação nos processos de leilões de exploração de campos de petróleo e gás. As companhias que apresentam índices maiores de contratação de serviços e produtos de empresas nacionais têm mais chances de ganhar a concessão de áreas nas rodadas de licitação.
 
A exploração e produção nas áreas do pré-sal se tornou o centro dos debates sobre a produtividade da economia brasileira, por se tratar de um setor de extensa cadeia, que envolve desde empresas especializadas em geofísica até àquelas voltadas a distribuição de combustíveis.
 
De Negri destacou durante o Fórum Brasilianas.org que a política de conteúdo local não é suficiente por entender que o salto de produtividade da economia depende fundamentalmente de investimentos focados no desenvolvimento tecnológico de empresas de capital nacional.
 
Para corroborar sua tese apontou o exemplo da Noruega, país que soube aproveitar os recursos do petróleo para criar uma indústria competitiva mundialmente. “O desenvolvimento econômico passa, necessariamente, por empresas com capacidade de desenvolver tecnologias em território nacional e com capital local”, completou.
 
O porta-voz da Finep fez uma leve crítica a atração de empresas de capital estrangeiro para o parque tecnológico da Ilha do Fundão. “Existem várias formas de explorar petróleo e gás natural no mundo. Você pode importar essas tecnologias, então o estado paga por esses modelos de exploração já desenvolvidos. Mas também existe o modelo norueguês, que incentivou empresas de capital nacional e acabou criando empresas globais”, ponderou.
 
Após as críticas, De Negri destacou ações brasileiras que se alinham a estratégia de incentivar o domínio de tecnologias por empresas de capital nacional, afirmando que hoje o país dispõe de instrumentos de políticas públicas adequadas para impulsionar a cadeia de petróleo, a exemplo do Inova Petro, programa federal que disponibilizou R$ 3 bilhões na primeira rodada.
 
O edital de lançamento este ano recebeu 38 cartas de empresas e instituições de pesquisa interessadas em financiar seus projetos, demandando R$ 2,8 bilhões de investimentos. Desse total, 23 propostas foram aprovadas (R$ 848,6 milhões). O programa aplica taxas de juros sobre os empréstimos abaixo do mercado, oferece quatro anos de carência e prazos de até doze anos para amortização das dívidas contraídas pelas empresas contempladas no programa.
 
O Inova Petro integra a Finep, BNDES, Petrobras e ANP. As linhas temáticas de pesquisa contempladas pelo programa são de processamentos de superfícies, instalações de poços e instalações submarinas. Dentre os projetos selecionados está o desenvolvimento de uma árvore de natal molhada em quatro anos por uma empresa brasileira. A estrutura faz parte de uma complexa válvula que chega na cabeça do poço do petróleo aberto no fundo do mar. Atualmente todos os equipamentos relativos à árvore de natal molhada disponíveis para o setor no Brasil são produzidos por multinacionais estrangeiras.