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Como os jornalões conseguiram estragar um Natal surpreendente
Folha e Estadão esmeraram-se em tratar as vendas de Natal como um fracasso.
Manchete da Folha: “Comércio tem o pior resultado no Natal em 11 anos”.
Manchete do Estadão: “Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam”.
Ambos os jornais trabalham em cima de dados da Serasa Experian e da Alshop (a associação dos lojistas de shoppings).
Vamos a alguns erros de manchetes e de análises.
1. Erro de manchete: Se em 2013 vendeu-se mais do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado em 11 anos?
2. A Serasa trabalha especificamente com pedidos de informação para
crédito. Houve retração no crédito, mas a maior ferramenta de vendas têm
sido o parcelamento (em até dez vezes) em cartões de crédito e de loja.
Os jornalões trataram os dados da Serasa como se representassem o
universo total de vendas.
3. As vendas em shoppings deixam de lado o comércio para classes C e D -
justamente as que mais vêm crescendo. Mesmo assim, os jornalões
trataram os dados como se representassem o todo.
4. A Alshop (associação dos lojistas) informou que as vendas cresceram
6% no Natal. O problema maior foi o aumento do número de lojas, que fez
com que as lojas mais antigas permanecessem com o mesmo faturamento.
Ora, o que expressa o mercado são as vendas totais. A distribuição entre
lojas novas e antigas é problema setorial, que nada tem a ver com a
conjuntura.
5. Os jornalões deixaram de lado o comércio eletrônico - que tem sido o
principal competidor das lojas de shopping. Em 2013 os shoppings centers
venderam R$ 138 bilhões, 8% a mais do que em 2012. O comércio
eletrônico vendeu R$ 23 bilhões, ou 45% a mais do que em 2012. Somando a
venda dos dois segmentos, saltou de R$ 151 bi em 2012 para R$ 161 bi em
2013, aumento de expressivos 12%.
6. Os jornais falam em “decepção”, porque a Alshop esperava crescimento
de 10% nas vendas de Natal e conseguiu-se “apenas" 6%. Esperar 10% de
crescimento com uma economia rodando a 2% é erro clamoroso de análise.
Mas, para os jornalões, o erro está na realidade, que não acompanhou os
sonhos.
Se não houvesse essa politização descabida do noticiário econômico, as
análises estariam em outra direção: a razão do consumo ainda não ter se
acomodado mesmo com dinheiro mais caro, o crédito mais escasso, com a
competição de Miami, com o PIB andando de lado etc. E suas implicações
sobre as contas externas brasileiras. Estariam questionando também que
raios de política monetária é esta, na qual aumenta-se a Selic para
supostamente reduzir a demanda agregada, e ela continua crescendo.
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