Em vez de cortar custos, prefeitos só querem mais grana
Punhos erguidos, cara de bravos, dispostos à luta, avançando celeremente sobre o Salão Verde, o grupo de 300 prefeitos e vice-prefeitos que invadiu a Câmara nesta terça-feira só não foi confundido com uma torcida uniformizada partindo para cima da outra nas arquibancadas da Arena Joinville porque estavam todos de paletó e gravata, mas a cena era igualmente assustadora.
Mais uma vez, a tal "Marcha dos Prefeitos" foi a Brasília para pedir mais dinheiro do governo federal. Todo ano a cena se repete. À frente do grupo, como de costume, estava Paulo Ziulkoski, o eterno presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), com o discurso de sempre:
"Essa manifestação é o retrato de uma crise profunda que se abate sobre as prefeituras de todo o país. Os municípios ficaram totalmente ingovernáveis em função de uma política do governo federal, do Congresso e dos governadores, que é a questão federativa".
Os prefeitos querem aumentar de 23,5% para 25,5% a parcela de recursos da União destinada ao Fundo de Participação dos Municípios, historicamente a principal e muitas vezes única fonte de renda da maioria deles, que não se preocupam em aumentar a arrecadação própria e muito menos em cortar despesas, como bem lembrou meu colega Heródoto Barbeiro, no Jornal da Record News.
Poderiam aumentar para 50% esta parcela do FPM que, no ano que vem, eles estarão de novo em Brasília, reivindicando mais grana, sob o argumento de que os pobres municípios vivem falidos e não podem pagar o aumento do piso salarial dos professores nem têm dinheiro para o 13º salário do funcionalismo. Para os desfiles de Carnaval, no entanto, nunca faltam recursos, muitas vezes utilizados até para financiar o time de futebol da cidade.
Alguém já viu em algum lugar, em qualquer época, a iniciativa de um prefeito de diminuir os custos da administração, demitindo funcionários fantasmas, cortando verbas para a Câmara Municipal e despesas com viagens e outras mordomias, cancelando shows e rodeios, que fazem a festa dos donos do poder nos pequenos municípios brasileiros?
Mesmo barradas pela segurança na entrada do salão, as excelências municipais continuaram avançando em direção ao gabinete do presidente da Câmara, Henrique Alves.
Queriam porque queriam ser recebidos porque se achavam no seu direito de autoridades dispostas a tudo para arrancar mais recursos, sem lhes passar pela cabeça que, em 2014, em vez de pedir mais, poderiam começar a gastar menos. Que tal?
No fim, para evitar mais confusão, Ziulkoski conseguiu ser recebido por Henrique Alves que, é claro, se comprometeu a dar prioridade às reivindicações dos prefeitos na tramitação das propostas de seu interesse. No ano que vem, podem ter certeza, as mesmas cenas vão se repetir, ainda mais que estaremos em plena campanha eleitoral.
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