Chavistas em campanha pró-Maduro depois da morte de Chávez
O texto abaixo foi publicado originalmente no site El País.
Não
eram poucas as interrogações que existiam sobre a viabilidade do
chavismo. Especulava-se. Dizia-se que “uma vez que não esteja Chávez
isto cai como um castelo de cartas”.
O
chavismo sem Chávez, como passou a se chamar essa figura, era algo que
existia na bruma do futuro. Intangível e insondável. A crença era de que
só Chávez tinha o carisma, a ascendência e presença para carregar seu
movimento político nas costas.
Durante
sua vida, ninguém lhe fez sombra na política venezuelana, muito menos
dentro do chavismo. Os colaboradores que manteve a seu redor eram vistos
como simples fofoqueiros, garotos de recado, indivíduos sem poder nem
discernimento para tomar decisões de relevância alguma.
Quando
se soube da sua enfermidade fatal, muitos na oposição, mesmo sem
admitirem publicamente, se regozijaram. Começaram a salivar, acreditando
que o desaparecimento físico do caudilho levaria a sua “Revolução
Bolivariana” à breca.
Começaram
a contar com os ovos dentro da galinha. Convenceram-se de que o momento
havia chegado. Sem Chávez em cena, nenhum de seus escudeiros
conseguiria manter o chavismo unido, por questão de gravidade, ou falta
dela.
Nem
Maduro, nem Cabello, muito menos o supostamente
todo-poderoso presidente da PDVSA, Rafael Ramirez, eram vistos como
“homens de Estado” no estilo de Hugo Chávez. Ao menos essa era a crença.
Mas,
desde a morte de Chávez, houve uma série de eleições que não deixam
lugar a dúvidas. O chavismo se consolidou em 2013 como a força política
preferida da maioria dos venezuelanos.
Já
não se trata de um líder que exalava carisma, atuando como
o porta-aviões de uma plataforma política repleta de mediocridades e de
personalidades cinzentas que não despertam nem mesmo um mau pensamento.
Não. Estamos na presença de um movimento que, com ou sem um líder
galáctico, derrota eleitoralmente qualquer um que a oposição decidir
lançar à arena.
A
oposição considerou que estava dando uma aula de democracia quando
organizou eleições primárias para escolher o adversário de Chávez.
Henrique Capriles venceu essa disputa, e basicamente é o único que a
vence desde então.
Mas
já foi derrotado três vezes, em curta sucessão, por Chávez e por
Nicolás Maduro. Como líder da oposição, não conseguiu abalar em nada a
popularidade do chavismo.
Por
isso, é preciso reconhecer, sem rodeios, que este ano prestes a
terminar foi o ano em que o chavismo nasceu como força política. O
encantador de serpentes, o líder supremo, já não está mais por aí, e no
entanto seus delfins demonstraram, no mínimo, que a oposição em qualquer
das suas formas é minoritária.
Devido
à singularidade da correlação de forças políticas e do poder real na
Venezuela, essa nova realidade prenuncia um futuro bastante incerto para
a Venezuela, mas não para o chavismo.
E,
antes que se esgrima o argumento de oportunismo do Governo em matéria
eleitoral, no que seria uma justificativa para as recorrentes derrotas
eleitorais da oposição, é imperativo recordar que a oposição tem como
pilar ideológico não questionar seriamente a forma pela qual se realizam
os processos eleitorais na Venezuela, nem as autoridades que
administram e organizam tais processos.
Portanto,
se esses processos são bons para reivindicar vitórias, também devem
sê-lo para reconhecer que o chavismo, com ou sem Chávez, é uma
plataforma viável, e é a preferida pela maioria dos venezuelanos. Disso
já não resta dúvida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário