Ingenuidade
cai bem em dois tipos de seres humanos – as crianças e os
bem-intencionados. Nas crianças porque lhes reforça aquela pureza
original, aquela ausência de malícia que lhes é peculiar. Nos
bem-intencionados porque estes ainda trazem consigo resquícios de uma
infância tardia e, mesmo nos embates e agruras da vida não se deixaram
contaminar por interesses escusos e agendas ocultas.
É assim que observo a desfaçatez com que revistas como Veja, carro-chefe da Abril e jornais como Folha de S.Paulo, apenas para citar alguns baluartes de nossa tradicional grande mídia, propagam notícias e rumores dando conta que começam a se organizar as grandes manifestações populares que encherão aos ruas brasileiras em meados de 2014. Tentarão emular as manifestações espontâneas que levaram milhares de brasileiras às ruas de boa parte das metrópoles brasileiras em junho de 2013 e que reivindicavam um mutirão de coisas por fazer, de hábitos políticos a abolir, de prioridades a estabelecer. Dentre o que se ouviu da voz rouca das ruas tínhamos de tudo um pouco – mobilidade urbana a baixo custo em primeiro, o Vasco em segundo, saúde com padrão Fifa em terceiro, educação de qualidade em quarto, além dos costumeiros protestos contra políticos tradicionais de várias cores partidárias. Repetir junho de 2013 em junho de 2014 somente se for como farsa, grosseira farsa. Isso porque no junho original, a palavra chave era espontaneidade, não era algo orquestrado de cima para baixo e nem sofreu aparelhamento político-partidário. O que se prenuncia como arremedo para 2014 já se insinua com todos os antigos vícios de origem: instrumentalização partidária, escada de certos candidatos para alavancagem de míseros índices em pesquisas eleitorais, ONGs e coisas do tipo desejando se apoderar desde o início de possíveis levantes populares e, como não poderia faltar, criar infraestrutura para praças de guerra em volta dos 12 estádios em que se realizarão os jogos da Copa 2014. E daí não tarda a existência de uma Central Única de Protestos, responsável por angariar agitadores de bandeiras, baderneiros encapuzados, líderes virtuais a atualizar datas, locais e horários de protestos em 12 capitais onde se realizarão os jogos. Será de todo lamentável que algum contingente razoável de pessoas embarque nessa canoa furada. As reivindicações não são nem razoáveis e nem plausíveis sob qualquer ângulo que se queira escrutinar. O que o Brasil ganha ao potencializar o caos por muitos previsto para a Copa? Piorar a imagem do país no exterior. País com péssima imagem é igual a menor fluxo de investimentos financeiros e menor fluxo de trânsito turístico. E quando essas duas pontas são sacrificadas, sacrificadas também são a possibilidades de desenvolvimento econômico e social, subtraem-se aos milhares os postos de trabalho, diminui grandemente a arrecadação de imposto e com esses, se inviabiliza de vez os meios para termos saúde e educação no festejado padrão Fifa. Quem perde com isso? O país como um todo. Mas principalmente os milhões de brasileiros que em caso de doença são socorridos pelo SUS, os milhões de estudantes que frequentam escolas e universidades públicas, os milhões de assalariados que precisam de transporte público de boa qualidade e assim por diante. Quem ganha com isso? Os que apostam no agravamento de nossas tradicionais mazelas (saúde, educação, segurança, moradia, mobilidade urbana) que, em um ritmo alucinante ensejaria a necessidade de salvadores da Pátria, aventureiros e oportunistas de todos os coturnos. Este filme já foi visto por todos os brasileiros com mais 40 anos de idade e o retrocesso do país, tanto no seu desenvolvimento social e econômico quanto no campo da cidadania e dos direitos humanos durou 21 anos, e foi de abril de 1964 a abril de 1985. A se repetir, somente como farsa, e farsa que continua a ser desmascarada amiúde em dezenas de Comissões da Verdade instaladas em todo o país. Em sã consciência, pergunto à minha meia dúzia de leitores, quem acredita que ao inviabilizar e condenar a retumbante fracasso a Copa do Mundo de Futebol 2014, a saúde e a educação pública serão regiamente beneficiadas? Existiria alguma conexão direta, causal, entre o fracasso da Copa 2014 e a melhoria substancial dos sistema de saúde pública? Não, nenhuma. Mas a recíproca é verdadeira: Sim, existe conexão direta entre o sucesso da Copa 2014 e a infraestrutura do país, e a imagem do país. Se não, vejamos: Estádios - Ao momento, meados de dezembro de 2013, existem 93 obras em andamento ou já concluídas, no valor total de R$ 22,9 bilhões. E não está sendo tudo aplicado na construção, ampliação ou modernização dos estádios de futebol. A verdade é que desse montante, os estádios receberão, ao todo, R$ 8 bilhões em investimentos, sendo R$ 3,88 bilhões de financiamento do ProCopa Arenas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O desembolso – parcial ou total – já foi realizado para dez obras. Ainda não houve desembolso para a Arena Corinthians, em São Paulo. O Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha não solicitou recursos do BNDES. E é óbvio que a existência de tão modernos e sofisticados estádios, atendendo aos mais elevados padrões internacionais para esse tipo de obra, será legado permanente da Copa 2014. Outro ganho adicional diz respeito à elevação da autoestima dos brasileiros, e não apenas de uma ou outra região do país, mas antes, de brasileiros espalhados por todas as regiões do país. Mobilidade Urbana - Bandeira-estopim dos protestos de junho de 2013, ao momento o Brasil tem nada menos de 45 obras concluídas ou em fase de execução na área de mobilidade urbana nas 12 cidades-sede dos jogos da Copa. São dez obras de Bus Rapid Transit (BRT), dois Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), 17 corredores e vias, 16 estações terminais, Centrais de Controle de Tráfego (CCTs) e obras em entorno de arenas. Os investimentos nesse gargalo de nossa vida urbana ultrapassam a marca dos R$ 8,02 bilhões, sendo R$ 4,38 bilhões de financiamento federal. Os empreendimentos ainda em obras têm conclusão prevista para o período entre dezembro de 2013 e maio de 2014. Somente no item “Aeroportos”, são quase 30 obras – 10 já concluídas. Incluem obras de reforma, ampliação e construção de terminais de passageiros, de módulos operacionais e de pistas e pátios de aeronaves, além de uma nova torre de controle no terminal de Salvador. As outras 20, nas cidades-sedes do jogos, devem ser entregues à população até maio de 2014. O valor destinado a melhorias da infraestrutura aeroportuária está estimado em R$ 6,28 bilhões, sendo R$ 3,62 bilhões de investimentos privados, por meio das concessões dos aeroportos de Brasília, São Gonçalo do Amarante (RN), Guarulhos (SP) e Campinas (SP). É pouco? No item “Portos”, temos seis projetos onde serão alocados R$ 587,3 milhões. Um deles encontra-se concluído – o porto do Recife. As obras no Porto de Salvador e o alinhamento de cais do Porto de Santos devem terminar até fevereiro de 2014 e as intervenções no Porto de Natal serão concluídas até março. As obras nos portos de Manaus e Fortaleza têm previsão de entrega para maio de 2014. O país terá preços mais competitivos para escoar suas exportações. Não se trata de “obras emergenciais”. Ao contrário, são obras permanentes, perenes. E terão a Copa 2014 apenas como seu ponto inicial de partida para um novo salto de desenvolvimento. Nenhum aeroporto ou porto deixará de existir após a partida final da Copa no novíssimo Maracanã. Alguém em sã consciência, novamente, poderia antever esses vultosos investimentos, tanto públicos quanto privados, em ao menos 12 capitais brasileiras, caso o Brasil não tivesse sido escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014? Não, ninguém, em sã consciência, repita-se. Não precisa ser ufanista para encher os olhos. Basta, apenas, ser bom observador. Turismo e Hotelaria - No ranking geral do turismo mundial de 2013, o Brasil amarga uma 51ª posição entre 140 países, tendo subido uma colocação em relação ao ano passado. Entre os países das Américas, o país ficou em sétimo lugar, ficando atrás de Estados Unidos, Canadá, Barbados, Panamá, México e Costa Rica. Nem precisamos nos referir a Roma, Paris ou Londres. Com esses no páreo nós, historicamente, perdemos e feio. Mas é intrigante um país como o Brasil – tão multifacetado culturalmente, com clima aprazível, praias, selvas e topografia mais que privilegiadas, povo festeiro e hospitaleiro – consiga estar atrás na opção de turistas de países como Estados Unidos, México, Canadá e ainda os minúsculos Barbados, Panamá, e Costa Rica! Um dos mais festejados atrativos para quem busca sediar evento como Copa de Futebol e/ou Jogos Olímpicos são que estes oferecem oportunidades para superar o déficit de infraestrutura, além de um vitrine planetária para o país-sede. E o Brasil conseguiu emplacar nada menos que os dois – Copa de futebol em 2014 e Olímpiadas em 2016. Mas, é fato consumado que para a Copa 2014, o tema turismo escalou algumas posições rumo ao topo nas agendas dos governos. Já foram destinados R$ 196 milhões para implantação ou complementação de sinalização e obras de acessibilidade nos atrativos turísticos nas 12 cidades-sede para a construção. O setor hoteleiro está recebendo R$ 1,03 bilhão em investimentos, por meio da linha de financiamento ProCopa Turismo do BNDES. Dos 16 empreendimentos beneficiados, cinco hotéis foram inaugurados, dois foram reformados e nove estão em obras. As intervenções estão localizadas em seis cidade-sede e redondezas. O objetivo não deixa de ser ambicioso: aumentar em 15% a oferta de leitos até 2014. Alguns dos gargalos que impedem o Brasil de fazer deslanchar sua indústria de viagem e turismo é a rede de transporte terrestre brasileira que segundo especialistas deixa muito a desejar com a estradas, portos e ferrovias exigindo melhorias para se manter em dia com os desenvolvimentos econômicos do país. E é verdade. Não seria razoável esperar que em menos de 10 anos um país do tamanho e importância do Brasil pudesse soterrar cinco séculos de quase contínuo descaso administrativo. Não, tudo não será resolvido a toque de caixa e nem na pontualidade dos trens ingleses e alemães. Há que se mudar a mentalidade de nossos governantes e também de nossa sociedade como um todo. E para isso seria necessário se reinventar, se redescobrir o Brasil, o que não é, absolutamente, o caso. Telecomunicações - Este é um outro campo que o país tem avançado e avançou exatamente devido à urgência de preparar o país para a Copa. Até março de 2014, a Telecomunicações Brasileiras S. A. (Telebras) pretende entregar toda a rede de fibra óptica nas 12 sedes. Entre as cidades que receberam a Copa das Confederações, três estão com as redes concluídas para a Copa e outras três passam por obras adicionais visando ao Mundial. O investimento total é de R$ 233 milhões, e dotará o País de uma rede de telecomunicações mais eficiente. Por outro lado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) acelera investimentos no setor. Serão R$ 171 milhões em 46 projetos englobando fiscalização, monitoramento e gestão do espectro, suporte à mobilidade dos agentes e segurança de infraestruturas críticas. Não consigo imaginar investimentos dessa monta no Brasil na área de telecomunicações caso não tivéssemos conquistado o direito de sediar a Copa em junho-julho de 2014! Agora, as perguntas que não querem calar: Que bandeiras deverão carregar os incautos que venham a participar de protestos contra a Copa em junho próximo? A quem pode interessar o fracasso dessa próxima Copa no Brasil? O que o Brasil fez para essa gente que mereça tão ruidosa torcida do contra? Por Washington Araújo |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
POLÍTICA - A torcida do contra.
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