Juscelino assassinado, corrupção, enterros… Quem lê tanta notícia?
A Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo declara: Juscelino Kubitschek foi assassinado pela ditadura.
O acidente de carro que o matou em 1976 foi uma farsa. O motorista
que dirigia o carro do ex-presidente teria sido morto com um tiro na
cabeça.
Imaginem o terremoto que informação dessa importância provocaria
num país qualquer, mundo afora? No Brasil, a bombástica acusação já não
estava nas manchetes 24 horas depois.
Por quê? Por que depois de décadas de especulação já se imaginava
isso? Por que faltaria credibilidade à Comissão por ser municipal? É
possível. Mas, se falta, onde estão os questionamentos à investigação?
Um dos pais da industrialização do Brasil, o construtor de
Brasília, Juscelino já não tem importância alguma? Ou a torrente de
informações, de notícias, iguala quase tudo? Torna tudo irrelevante em
poucos dias, ou em poucas horas?
O dilúvio e a tragédia dos desabrigados no Rio enterraram as
manchetes da manhã. Logo cedo, quem estava nas manchetes eram os tucanos
de São Paulo.
Em novo depoimento, um ex-diretor da Siemens citou deputados
federais e dois secretários de Alckmin; eles teriam recebido propina no
escândalo do metrô.
O caso vai para o STF. Se aceito, "Trensalão" versus "Mensalão" num ano eleitoral… Haja…
Os trens do PSDB atropelaram as manchetes da véspera: dezenas de
empresas pagaram propina à Máfia, também dos fiscais, da prefeitura de
São Paulo.
Isso para pagar menos Imposto Sobre Serviço (ISS) em 410
empreendimentos. Isso no tempo em que Gilberto Kassab (PSD) era o
prefeito.
A Era digital vai assim enterrando, cinco séculos depois, a Era do
impresso, a Era de Gutemberg. A foto do falso intérprete de sinais, no
discurso de Obama, se superpõe à foto de Obama com a loura premiê
dinamarquesa.
A sucessão de fotos e fatos vai enterrando Mandela antes mesmo dele
ser enterrado. E Mandela que se cuide nas manchetes: a Portuguesa pode
ser enterrada em lugar do Fluminense. Que havia sido enterrado no
domingo.
Ok, nada que pensadores -como McLuhan e Guy Debord- não tenham
antevisto sobre a Sociedade da Fama e do Espetáculo. O que talvez
surpreenda é a velocidade desse efêmero, e a leviandade de tanto e em
quase tudo.
Em Maio de 1967, Juscelino deixou o exílio e voltou ao Brasil.
Onde, declara agora a Comissão da Verdade, ele teria sido assassinado
pela ditadura. Naquele mesmo 1967, há quase meio século, Caetano Veloso
perguntava:
-Quem lê tanta notícia?
Fonte: Terra Magazine.
Nenhum comentário:
Postar um comentário