Daniel Oiticica | Todo apoio a Mujica mas… o que dizer da Argentina?
Todo apoio a Mujica e sua corajosa ideia de deixar de enxugar gelo para encarar o problema do narcotráfico sob outra perspectiva. Mas o prêmio dos liberais da The Economist para o Uruguai me fez pensar que de fato a grande mídia internacional mantém a Argentina invisibilizada, como muito bem reconheceu certa vez o Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman.
Em tempos de retrospectivas e prêmios aos melhores e maiores, nao custa nada relembrar que a Argentina tem dado passos gigantescos no que diz respeito a leis de vanguarda, que ampliam direitos ou simplesmente rompem com certa ordem estabalecida, que desagrada ao establishment e aos donos da mídia.
Vejamos algumas:
Identidade de gênero – qualquer pessoa, independentemente da composição da genitália que carrega tem direito a ser reconhecida perante a lei como quiser. Maria pode ser João e Pedrinho pode ser Joana. Basta comparecer a um cartório e solicitar a troca de documento, grátis e simples.
Matrimônio igualitário – Homem com homem, mulher com mulher dava lobisomem e jacaré, mas aqui na Argentina agora pode dar casamento de verdade. Pedro se casa legalmente com Fabio e tem os mesmos direitos de Marcelo, que escolheu se casar com Ana Paula.
Petroleira estatal – Durante quase duas décadas, a YPF, companhia de petróleo argentina, esteve controlada pelo grupo Repsol, que pagava dividendos milionários a seus acionistas, mas investia quase nada no país, além de remeter fortunas à matriz. Trocando em miúdos, praticava uma política de esvaziamento da YPF às custas de desabastecimentos. A lei de reestatizaçao da YPF permitiu que a Argentina recuperasse o controle de parte importante de seus recursos naturais.
Aposentadoria para todos (todos mesmo) – Um dia a galinha dos ovos de ouro de alguns banqueiros deixou de botar ovos para se dedicar aos idosos. Com uma lei, o governo argentino estatizou os fundos de pensao. A medida resultou em pouco tempo em um aumento em termos reais da renda média dos aposentados e incluiu no sistema todos os idosos maiores de 65 anos, independentemente de terem ou nao realizado contribuiçoes ao sistema previdenciário.
Lei de Serviços de Comunicaçao Audiovisual – Aqui talvez esteja a explicaçao de tudo. Pela primeira vez na regiao, uma lei democraticamente debatida e aprovada define o que verdadeiramente significa liberdade de expressao. Voz pra todo mundo, ou seja, um espectro radiofônico bem dividido. A The Economist – e um punhado de empresários que controlam o mercado mundial das comunicaçoes – não gosta desta lei, nem da Argentina.
Salve, salve, Mujica! ;)
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