sábado, 3 de maio de 2014

POLÍTICA - O Globo em campanha feroz.

Em véspera de campanha, PT esboça reação. Será eficaz?



O Globo: Em campanha feroz, vai muito além dos assinantes; é um outdoor nas bancas
por Luiz Carlos Azenha


Há alguns anos os blogueiros de esquerda abriram espaço na internet para três movimentos sociais que consideram politicamente importantes e que militavam por:
1. Universalização da banda larga, com acesso gratuito em espaços públicos;
2. Democratização da mídia, que inclui regulamentação das concessões eletrônicas, apoio às rádios comunitárias, financiamento para os sem voz e combate à propriedade cruzada, dado que nossa mídia corporativa é controlada majoritariamente por homens brancos ricos e conservadores;
3. Neutralidade na rede, para evitar que o conteúdo do site de O Globo ande mais rápido que o do Escrevinhador.
Dos três pontos acima os governos do PT só avançaram no terceiro, não completa mas significativamente. Ainda assim, com riscos. Isso porque as empresas de telefonia, que controlam a infraestrutura da internet, devem repetir no Brasil o que fizeram nos Estados Unidos: uma tentativa de “flexibilizar” o conceito de neutralidade na rede. Como dispõem de milhões de reais para aplicar em lobbies no Congresso, eventualmente comprarão o que pretendem comprar.
Nos dois primeiros pontos não houve avanços significativos, por causa dos compromissos políticos dos governos petistas:
1. Com as empresas de telefonia;
2. Com a mesma coalizão conservadora que controla concessões de rádio e TV nos estados e municípios (José Sarney, retransmissor da Globo no Maranhão, é um dos exemplos).
Agora, chegou a hora de a onça beber água. Estamos, outra vez, em período eleitoral.
O PT lança sua agência de notícias digital.
Numa entrevista a ela, o presidente do partido disse:

A pergunta é: foi tarde demais?
Do ponto-de-vista da realpolitik, só saberemos quando e se Dilma Rousseff se reeleger presidente da República.
Já sabemos o que virá durante a atual campanha eleitoral.
O resumo está na capa de O Globo reproduzida no topo:
1. Mensaleiro na prisão: Genoino volta para a Papuda
2. Caso Labogen: Padilha assinou compromisso
3. Pacote de Dilma custará R$ 9 bi até o fim de 2015
4. Manutenção da política do salário mínimo terá impacto de R$ 50 bi em 4 anos
5. Miriam Leitão: Dilma confunde crítica ao governo com desamor ao país
6. Um Primeiro de Maio de oposição
7. [Abaixo da dobra] Público vaia petistas e atira latas durante festa da CUT
É mais ou menos o que se viu já nas campanhas eleitorais de 2006 e 2010, porém com maior cuidado, já que as redes sociais estão aí para desmentir as manipulações mais evidentes.
A manipulação agora se dará, acima de tudo, na escolha da pauta, nos espaços dedicados a este ou aquele assunto, na mobilização de recursos para esta ou aquela cobertura.
Quantos furos O Globo deu, por exemplo, no caso do escândalo dos trens envolvendo as maiores lideranças tucanas? Quantos repórteres do jornal estão mobilizados para apurar o esquema?
Quantos minutos o Jornal Nacional dedicou ao escândalo da Petrobras? E ao trensalão tucano?
Para além disso, cabe também refletir sobre a dinâmica das redes sociais: uma vez O Globo tendo noticiado que Público vaia petistas e atira latas durante festa da CUT, por conta dos compartilhamentos a notícia ganha ares de verdade e, a não ser que seja refutada imediatamente por quem de direito, fica difícil contrapor depois a informação de que foram três latas ou de que as vaias vieram de apenas parte do público ou de que o público protestou foi contra a interrupção dos shows.
Nosso ponto: há uma nova dinâmica da informação de massa, por conta da junção do trabalho de repórteres + editores com o dos internautas, seja nas críticas, seja nos compartilhamentos.
Conhecemos razoavelmente as ideias que dominam a liderança do PT no campo da comunicação.
É mais ou menos o seguinte:
1. Os jornais tem impacto eleitoral limitado, por conta de sua pequena base de assinantes;
2. Mesmo o Jornal Nacional, por conta de sua decadência, importa menos do que parece e está perdendo espaço para as redes sociais;
3. A melhor solução ainda é o controle remoto;
4. O ex-presidente Lula é a bomba atômica que garante vitórias eleitorais.
O problema é que as circunstâncias de 2014 não são as mesmas que as de 2010:
1. A crise internacional limitou o crescimento da economia brasileira;
2. Houve a explosão de descontentamento popular em 2013 que juntou a classe média tradicional das metrópoles com a “nova classe média” das periferias, que quer mais e aderiu ao discurso antipetista;
3. Dilma Rousseff não tem a mesma perícia do ex-presidente Lula para lidar com uma coalizão tão abrangente e heterogênea de interesses.
Além disso, os petistas deixaram de levar em conta dois aspectos importantes da comunicação no mundo das redes sociais:
1. Os mesmos donos de jornais e emissoras de rádio e televisão que promovem abertamente o antipetismo, desde muito antes do julgamento do mensalão, também investiram muito na internet e em redes sociais; hoje produzem material massivo, seja através de colunistas, seja através de repórteres, para disseminação instantânea;
2. O efeito cumulativo do discurso antipetista foi acelerado pelo fato de que as notícias e opiniões agora perseguem os eleitores 24 horas por dia, do You Tube às manchetes que se lê no celular; em resumo, a sociedade está de tal forma midiatizada que, apesar da queda relativa de audiência do Jornal da Nacional e da tiragem dos jornalões, o poder de formulação da pauta da mídia tradicional lhe dá hoje maior influência política que em 2010.
Grifamos o formulação da pauta: é por isso que o Viomundo, desde o primeiro encontro de blogueiros, ainda em 2010, já insistia que a produção de conteúdo próprio, independente das redações da grande mídia — algo que requer financiamento, que o PT concentra na Globo — é o caminho.
Trocado em miúdos, com sua agência de notícias o PT dá uma resposta depois que a imagem do partido já está profundamente desgastada pelo trabalho demolidor da grande mídia nos últimos meses.
Além disso, do ponto-de-vista de conteúdo, o partido parece focar em comparações estatísticas com outros tempos, por acreditar que são de fácil assimilação, quando a resposta deveria ser política.
Espertamente, os tucanos — com a ajuda da mídia — focaram na Petrobras, justamente um tema que poderia ser o diferenciador entre propostas de governo, embora as diferenças tenham sido diluídas pela própria decisão de um governo petista de promover o leilão de Libra.
Por isso, a pergunta do título: a reação esboçada pelo PT será eficaz?
Na hora agá, nos parece que a eleição de 2014 será definida pela grande massa de eleitores que ascendeu socialmente nos últimos 11 anos, sem no entanto ter aderido ideologicamente ao PT ou à esquerda.
O projeto petista focou em melhorias sociais descoladas de um projeto de politização, que passaria necessariamente por inclusão digital universal e por democratização das comunicações como forma de escapar do discurso único.
Agora, a “grande massa” está em jogo. De um lado o poder da Globo + Abril + Folha + Estadão. De outro, a Agência de Notícias do PT.

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