“Precisamos de algoritmos de propriedade pública, precisamos criar um procomum de capital na nuvem.” (Yanus Varoufakis em entrevista que reproduzo na íntegra neste artigo:
Com a Revolução Tecnológica, o advento das Redes Sociais e algoritmos transformaram a Comunicação que já não é mais só jornalismo, propaganda e marketing. Comunicação é Guerra Mundial permanente, que destrói nações, submete populações ao império das bightechs e transforma trabalhadores em meros vassalos de uma espécie de neo feudalismo do Século do Século 21.
O ataque ainda em andamento de Elon Musk, dono do Twitter, a Soberania Nacional do Brasil é só mais um exemplo do que estamos enfrentando. Estamos falando de uma Guerra Permanente contra a Soberania dos Países e direitos dos cidadãos neles vigentes que teve os combates massivos nas intentonas da "Primavera Árabe" de 2011, parte integrante das "Revoluções Coloridas", como as batizou Obama, que destruiu a institucionalidade, subverteu culturas de muitas nações árabes e levou ao assassinato de Líderes Populares como Muhamar Kaddaffi, Sadam Hussein e outros.
Aqui no Brasil sentimos da força das "revoluções coloridas" na Intentona de Junho de 2013, que em meses fez consumir toda a credibilidade popular em um Governo que havia levado a nação e seu povo a uma condição econômica superior a qualquer outra época, com Pleno, Emprego, Salários dignos, educação acessível a Classe Trabalhadora e Saúde Universal entre outros avanços e conquistas da sociedade.
Sou um leigo no Tema da Tecnologia da Informação, mas sei que sem ela, a Comunicação hoje não é mais nada.
O enfrentamento judicial que o STF faz contra Elon Musk é necessário, porém nem de perto suficiente para continuar garantindo a Soberania Nacional.
Qualquer dono debightech pode romper nossa Soberania via Redes Sociais, permitindo que através de mentiras e narrativas várias, a história esteja sendo reescrita.
A resposta aos ataques, é ter nossas próprias redes sociais, Públicas, de Qualidade, e gratuita para todos os cidadãos. E não venham me dizer que não é possível. As Grandes Redes como Facebook, Instagram, Whatsapp, Twitter e outras, nasceram a partir de baixos investimentos. Não é possível que um País como o nosso não tenha condições de financiar uma Grande Rede Social Pública que faça tudo o que estas que aí estão fazem e mais ainda.
“Precisamos de algoritmos de propriedade pública, precisamos criar um procomum de capital na nuvem.” Esta é a solução oferecida pelo economista grego Yanis Varoufakis (Grécia, 1961) frente ao poder das megacorporações digitais dos Estados Unidos e da China, que está mudando o sistema econômico mundial.
Em seu livro Tecnofeudalismo, o ex-ministro da Economia, em diálogo com o seu pai recentemente falecido, afirma que avançamos para um sistema em que “os mercados estão sendo substituídos por feudos da nuvem. São feudos criados a partir de capital na nuvem, do capital digital. Nestes feudos, produtores e consumidores são vassalos ou servos do dono dessa plataforma digital que se dedica a acumular renda” e onde “não existem meios de produção que ofereçam a venda de produtos, mas, sim, meios de produção de modificação do comportamento”.
A solução é eminentemente política: criar as condições para deter as grandes corporações a partir da política. Agora, Varoufakis, que tem uma vasta experiência como político, sabe qual é o principal obstáculo: “A dificuldade está em como converter este discurso em um programa político que possa penetrar no nevoeiro que os nossos sistemas políticos criam para que seja impossível falar do que realmente importa”.
A entrevista é de Rodrigo Ponce de León, publicada por El Diario, 29-03-2024. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Em seu livro, uma longa conversa com o seu pai, quando você pergunta se o tecnofeudalismo é mais capitalismo, ele responde várias vezes que não. Ainda que de um ponto de vista marxista, o tecnofeudalismo não significa outra mudança da forma de valor, em um sistema capitalista mais oculto e sombrio, que não revela de forma transparente a sua verdadeira natureza?
Meu ponto de vista é totalmente marxista. Neste livro, observo a produção e a distribuição com uma lente marxista, então, não sejamos apócrifos. O capitalismo é um sistema que se baseia em dois mecanismos fundamentais: um sistema de mercado descentralizado, através do qual passa toda a atividade econômica, do capital de giro aos bens de raiz, e a busca do lucro.
O feudalismo se baseou na renda dos servos aos seus senhores. A renda sobreviveu à grande transformação do feudalismo para o capitalismo. Embora a renda tenha sido sempre onipresente sob o capitalismo, os donos do capital que adquiriram mais poder foram aqueles que obtiveram maiores lucros.
Se minha hipótese estiver correta, estamos em um processo de mudança. Os mercados estão sendo substituídos pelo que eu chamo de feudos da nuvem. São feudos criados a partir de capital na nuvem, do capital digital. Nestes feudos, produtores e consumidores são vassalos ou servos do dono dessa plataforma digital que se dedica a acumular renda
Essas plataformas digitais como Amazon, Alibaba e outras não são mercados descentralizados, mas grandes feudos comerciais na nuvem que carecem de todas as características dos mercados e onde cerca de 40% das receitas são retidas sob a forma de rendas. Isto não é mais capitalismo. Avançamos para um novo sistema que se baseia na acumulação de rendas, que é muito diferente de todas as formas anteriores de capital, onde não existem meios de produção que ofereçam a venda de produtos, mas, sim, meios de produção de modificação do comportamento.
A grande diferença em relação ao feudalismo ou ao capitalismo é que as pessoas precisavam ter uma terra para cultivar ou um salário para comprar alimentos. Contudo, neste momento, não considera que é possível viver alheio às grandes plataformas digitais?
Foi possível viver fora do capitalismo, os hippies criaram pequenas comunidades e foram para a floresta. Robert Owen, o famoso socialista utópico do século XIX, criou toda uma indústria de cooperativas com áreas livres do capitalismo. Não é impossível, as utopias surgiram aqui e ali. Meu argumento é que avançamos para o tecnofeudalismo, que é muito diferente do feudalismo, ainda que compartilhe algumas características. O capitalismo continha aspectos do feudalismo, da mesma forma que o meu corpo contém o DNA de serpentes e bactérias.
No entanto, há uma diferença: uma coisa que torna o tecnofeudalismo pior do que o feudalismo são os servos. Com o feudalismo, ao menos tinham acesso à terra, produziam alimentos e do pouquinho de alimentos que o senhor não lhes tirava, tinham como viver. Ao passo que hoje, quando nós ou os nossos filhos estamos no TikTok ou publicamos vídeos, fotografias e textos no Facebook, estamos produzindo capital na nuvem, mas não conseguimos meios de subsistência. Não podemos comer, nem pagar o aluguel, o que torna o tecnofeudalismo insustentável, mais propenso a grandes crises.
Em geral, não é possível viver apenas dessas plataformas digitais.
Isto levanta uma questão muito interessante sobre a renda básica universal. Eu apoio um dividendo básico universal, mas, ao mesmo tempo, reconheço o grande risco de que a renda básica universal se torne o sustento para que os servos digitais permaneçam sendo vassalos.
Como diz em seu livro, a principal função destas tecnomegacorporações é extrair rendas, não lucros. No entanto, se uma economia começa a funcionar baseada em rendas, sofrerá uma estagnação. Então, seu próprio modo de funcionar a extinguirá, certo?
Correto, é inclusive menos sustentável do que o capitalismo ou o feudalismo. Por isso, sentimos que vivemos em uma crise muito profunda, em uma multicrise. Vivemos em um sistema extrativo e incapaz de reproduzir os níveis de demanda agregada necessários para manter esta economia como está funcionando.
Sendo assim, os governos estão em estado de pânico. É por isso que os bancos centrais continuam imprimindo dinheiro. Os governos cedem cada vez mais o trabalho de governar aos banqueiros centrais porque precisam repor o dinheiro que corre pelo sistema, o fluxo circular de ingressos.
Os governos estão em falência porque não podem tributar as rendas dessas grandes corporações. A Amazon quase não paga impostos, mas canibaliza as lojas físicas e as empresas na Espanha e em outros países. A capacidade do governo de se financiar diminui. Desse modo, aumenta a pressão sobre o banco central para fornecer dinheiro, o que cria pressões inflacionárias.
O que os bancos centrais deveriam fazer?
O verdadeiro problema são os nossos governos e os nossos parlamentos, que renunciaram a fazer política e cedem a sua obrigação aos banqueiros centrais. Os bancos centrais poderiam ajudar, dando a cada um de nós uma carteira digital, com moeda digital, para que todos na zona euro tivessem um moedeiro digital e cobrar a mesma taxa de juros que o BCE paga em um dia aos bancos. Não podem fazer isso, não deixarão.
Por quê?
Os banqueiros não permitem porque é assim que extraem rendas financeiras. A única maneira é mudar os estatutos do BCE e lhe dar mais independência. No momento, está completamente dependente dos banqueiros. Só é possível fazê-lo mudar através da política. Por isso, apesar da minha idade, sigo na política, não na linha de frente, mas permaneço porque não há outra forma de fazer mudanças. Não há obstáculos técnicos, é um problema político.
Por que considera que os sindicatos tradicionais não estão sabendo se adaptar a essas empresas e não têm a capacidade de influenciar em sua tomada de decisões?
O poder de extrair mais-valia foi transferido para capitalistas com os quais os sindicatos não têm uma relação direta. O empresário se tornou vassalo de algum feudo na nuvem, de Jeff Bezos, por exemplo, que fica com 40% do preço de um produto na Amazon. O empregador não fica com a mais-valia que extrai.
Qual é o sentido de negociar com ele? E não podem negociar com Bezos, está em outro continente e não se importa o mínimo. Assim, essencialmente, esgota-se a capacidade dos sindicatos de reivindicar a mais-valia que corresponde aos trabalhadores, porque o próprio capitalista se tornou um vassalo, esse é o ponto central do meu livro.
No entanto, deve existir outras formas de reivindicar os direitos trabalhistas.
Não estou argumentando contra os sindicatos. O que estou dizendo é que os sindicatos devem continuar trabalhando duro e devem ser internacionalizados, assim como a nuvem capitalista e as finanças se internacionalizaram. Precisamos de sindicatos internacionais e de uma aliança entre os usuários, o que eu chamo de proletários da nuvem.
Na Internacional Progressista, da qual sou membro ativo, iniciamos a campanha Make Amazon Pay com o objetivo de que esta empresa remunere os seus trabalhadores de forma justa, por seu impacto no meio ambiente e pague os seus impostos. Nós, consumidores, deveríamos fazer um boicote em massa a Amazon só por esse dia, mas os sindicatos costumam se posicionar contra porque temem que os seus empregadores ou a Amazon os levem aos tribunais.
Um dos problemas das grandes corporações tecnológicas é que aparentemente são gratuitas e funcionam com a participação das pessoas, o que torna muito difícil identificá-las como algo negativo. Como convencer os jovens acerca do seu perigo?
Sempre foi o problema dos revolucionários de esquerda, mesmo na sociedade escravista. Como Spartacus convenceu os jovens escravos a se rebelarem? Não é fácil, porque a mente humana tem a tendência de considerar como determinado o status quo e a assumir que as coisas são como têm que ser. Mobilizar os jovens sempre foi uma tarefa muito difícil.
Hoje, com a minha experiência de viajar pelo mundo e falar deste livro, penso que não é tão difícil. Só é preciso lhes explicar a forma como funciona o capital na nuvem. A dificuldade está em como transformar este discurso em um programa político que possa penetrar no nevoeiro que os nossos sistemas políticos criam para que seja impossível falar do que realmente importa.
Deveríamos ter campeões digitais na Europa ou seria adotar a fórmula são ‘canalhas, mas são nossos canalhas’?
A resposta não é tentar criar nosso próprio Google ou um Facebook europeu. De qualquer modo, não podemos. Os chineses conseguiram, mas porque estão organizados de outra maneira. A Europa está completamente fragmentada, somos cada vez mais irrelevantes. Pretendemos ser uma grande potência, mas somos uma piada. As pessoas no Vale do Silício ou em Xangai, mesmo na Índia, olham para a Europa e riem. Temos uma opinião muito superior sobre nós mesmos, que não se reflete em nossa real capacidade.
A resposta não é ter megacorporações europeias globais para se opor à nuvem dos chineses ou dos estadunidenses. A resposta é criar algoritmos públicos que possam ser oferecidos, como um bem público, às empresas para que construam o seu próprio capital na nuvem, um capital na nuvem de propriedade comum e cooperativa que lhes permita reter e distribuir a mais-valia. E que essas empresas utilizem os dados dos clientes de forma democrática e respeitosa. Precisamos de algoritmos de propriedade pública, precisamos criar um procomum de capital na nuvem.
Verdadeiramente, considera que isto é possível? Há muitos interesses em jogo.
Claro que é possível. Trabalhei com programadores fantásticos, aqui na Europa – em Barcelona, em Londres -, que criaram algoritmos extremamente úteis para apoiar as cooperativas. Tenho um projeto nos Estados Unidos, com 20.000 cooperativas, no qual produzimos algoritmos para que possam funcionar como verdadeiras cooperativas econômicas democráticas.
É perfeitamente possível, mas temos que protegê-las dos abutres e dos predadores que são capazes de comprá-las, destruí-las ou boicotá-las. Estas megacorporações têm um poder exorbitante, mas podem ser detidas através da política. A Europa pode agir assim.
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