quarta-feira, 24 de abril de 2024

O papel do revolucionário no século XXI.

 

David Harvey e o papel do revolucionário do século XXI

Humberto Matos comenta "Crônicas anticapitalistas", nova obra do teórico marxista David Harvey, que chega primeiro para os assinantes do Armas da crítica, o clube do livro da Boitempo.

Por Humberto Matos

David Harvey é um dos mais influentes teóricos marxistas do século XXI. Aos 88 anos e com mais de vinte livros publicados – entre eles a famosa avaliação do novo imperialismo, os importantes escritos sobre o neoliberalismo e os conhecidos comentários sobre a crítica da economia política de Marx –, ele desde cedo se mostrou sensível à importância de usar o espaço da internet como ferramenta de educação popular e democratização do saber, a exemplo de seu célebre curso sobre capital, traduzido para quarenta e cinco idiomas.

Estas Crônicas anticapitalistas derivam de um projeto de podcast em que o professor emérito de antropologia e ciências ambientais e da Terra utiliza de sua projeção para se debruçar sobre o mundo contemporâneo a partir das lentes do marxismo. Dirigido a jovens e veteranos, acadêmicos e militantes, iniciantes e iniciados, o livro traz uma abordagem ampla e contundente sobre a dinâmica de reprodução do capital e sua sanha de crescimento infinito. Colocando a natureza do capitalismo como insustentável e causadora do atual esgotamento climático e político, Harvey  demonstra a necessidade de uma interpretação mais robusta das diversas frentes da luta anticapitalista hoje.

A perspectiva da geografia, por exemplo, permite focalizar fenômenos como o choque entre as potências capitalistas centrais e a China comunista. Aqui, o autor revê parte de suas posições acerca do gigante asiático. Analisando seus processos socioeconômicos comandados pelo Partido Comunista, Harvey defende que há uma necessidade constante de reprodução ampliada do capital no mundo contemporâneo e que a China ocupa uma posição de destaque, inclusive na manutenção do próprio capitalismo. Entretanto, a lógica e o compromisso dos chineses com o socialismo, assim como a nova formação econômica surgida no sudeste asiático, levam o autor a refletir sobre os limites da organização política e econômica do mundo, bem como o papel dos marxistas nessa nova Guerra Fria.

Harvey sintetiza avaliações de conjuntura e debates teóricos muito avançados em linguagem fluida e acessível. Realizando uma nova interpretação de antigos conhecimentos do campo marxista, este livro traz um balanço fundamental do que sabemos e do que precisamos aprender para construir um futuro de superação do capitalismo. Atual e imponente, é obra imperdível para quem se interessa por marxismo e geopolítica. Acessível e original, é leitura indispensável para compreender o papel do revolucionário do século XXI.


Inspirado nas Crônicas anticapitalistas, podcast quinzenal em que David Harvey analisa as atuais conjunturas política, social e econômica global, a obra homônima apresenta ao leitor um sobrevoo acessível e aprofundado de assuntos variados como o neoliberalismo pós-crise de 2008, a ascensão da extrema-direita no mundo, o papel da China na economia, as mudanças climáticas, o mundo pós-covid e, claro, o futuro do socialismo.

Sem deixar de lado a análise marxista, que é parte fundamental de sua obra, Harvey perpassa conceitos essenciais como alienação, acumulação primitiva, financeirização, etc. Com uma linguagem acessível, própria da oralidade, o autor apresenta novas maneiras de entender a crise do capitalismo global e as lutas por um futuro melhor.

Ao mesmo tempo em que aborda assuntos espinhosos, Harvey também narra a esperança e a possibilidade de inventarmos alternativas para o futuro. Ele descreve, com brilhantismo característico, como as alternativas socialistas estão sendo imaginadas em circunstâncias muito difíceis. Ao entender as dimensões econômicas, políticas e sociais da crise, a análise do geógrafo em Crônicas anticapitalistas será de importância estratégica para qualquer pessoa que queira compreender e mudar o mundo.

Crônicas anticapitalistas tem tradução de Artur Renzo e texto de orelha de Humberto Matos.

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