sexta-feira, 26 de abril de 2024

Valas comuns com pelo menos 400 corpos.......

 

Valas comuns com pelo menos 400 corpos descobertas perto de hospitais

26 de abril 2024 - 14:35

Há sinais de que várias das vítimas foram sujeitas a torturas, enterradas vivas ou executadas com as mãos atadas, segundo a Defesa Civil Palestiniana. Entretanto, continuam os bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza. Rafah está a ser especialmente visada e a ofensiva terrestre contra esta cidade pode estar iminente.

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Vala comum descoberta perto do hospital Nasser em Gaza.
Vala comum descoberta perto do hospital Nasser em Gaza. Foto de HAITHAM IMAD/EPA/Lusa.

Há vários dias que a Defesa Civil Palestiniana escava as valas comuns na zona dos hospitais de Nasser e al-Shifa. Para já, foram descobertos 392 corpos empilhados. Estes incluem mulheres, crianças e idosos e vários deles apresentam sinais de tortura ou de terem sido executados. Apenas 65 foram até ao momento identificados.

Mohammed Mughier, responsável daquela instituição, confirmou esta quinta-feira que dez dos corpos tinham as mãos atadas e vários outros ainda tinham os tubos da medicação ligados ao corpo. Para além disso, segundo a Al Jazeera, declarou serem precisos “exames forenses para aproximadamente vinte corpos de pessoas que pensamos terem sido enterradas vivas”.

A mesma fonte noticia que, em conferência de imprensa, Yamen Abu Sulaiman, o chefe do departamento de Defesa Civil no sul Khan Younis, aquela onde se situa o hospital Nasser, indicou que, nas imediações das instalações deste, há três diferentes valas comuns: uma atrás da morgue, outra à frente e uma perto do edifício onde se realizava a diálise. Para além de apelar a um “fim imediato desta agressão contra o nosso povo”, ele apela a que se deixem entrar em Gaza as organizações humanitárias e os meios de comunicação social internacionais para “examinar estes crimes”. Na ocasião, foram mostradas provas fotográficas e vídeos de que entre os mortos havia crianças.

Os jornalistas da Reuters testemunham que viram os corpos a serem desenterrados nas ruínas do hospital Nasser e que existe um vídeo de janeiro deste ano que mostra soldados israelitas a escavar valas comuns e a colocar nelas corpos de palestinianos. Também nas imediações do hospital al-Shifa, a agência noticiosa internacional confirma igualmente a existência das valas. Admite-se, porém, que algumas das pessoas possam ter sido aí enterradas por familiares ou pessoal médico no contexto do cerco e operações militares israelitas dentro dos hospitais.

Perto do hospital Nasser, em declarações ao Democracy Now  o jornalista Akram al-Satarri, diz que a estimativa é que o total de corpos seja de 700. Ele descreve como há um buldozzer a trabalhar nas escavações e como os familiares estão à espera em desespero para identificar os corpos. Confirma igualmente os sinais de pessoas terem sido enterradas vivas e outras terem sido sujeitas a tortura.

ONU pede investigação

A ONU pede uma investigação ao sucedido. A porta-voz do Alto-Comissário para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, declarou que “claramente foram descobertas múltiplos corpos”, “alguns deles tinham as suas mãos atadas, o que indica graves violações da lei internacional dos direitos humanos e das leis humanitárias”. O próprio comissário, Volker Turk, exige “investigações independentes, eficazes e transparentes”, lembrando que “os hospitais têm direito a uma proteção especial ao abrigo do Direito Internacional Humanitário, e o assassinato intencional de civis e outras pessoas que estão fora de combate é considerado um crime de guerra”.

O exército israelita responde dizendo serem alegações “infundadas” já que as valas teriam sido escavadas pelos palestinianos antes das operações das Forças de Defesa Israelita e que estas só tinham “examinado” as valas para tentar descobrir se havia reféns israelitas aí enterrados.

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, falou aos jornalistas para dizer que o seu governo “quer ver isto investigado de forma exaustiva e transparente”. Mas nunca defende que a investigação seja independente das forças de ocupação israelitas.

O que é certo é que na quarta-feira o presidente Joe Biden promulgou uma lei de financiamento externo no valor de 94 mil milhões de dólares, que dará ao Estado sionistas cerca de 17 mil milhões de dólares de ajuda adicionais.

O número de mortes não para de crescer, Rafah está a ser bombardeada

Ao mesmo tempo, o número confirmado de pessoas mortas pelo exército sionista é agora de 34.356. O número de feridos é de 77.368. Ambos são adiantados pelo Ministério da Saúde de Gaza. Nas últimas 24 horas houve mais 51 mortes e 75 feridos, segundo a mesma fonte.

Estes valores estão sub-avaliados, não contando ainda com muitos dos desaparecidos que se presume estarem soterrados nos destroços dos bombardeamentos. Pehr Lodhammar, do Serviço de Ação das Nações Unidas sobre Minas, contabilizou numa conferência de imprensa em Genebra que haverá 37 milhões de toneladas de destroços na Faixa de Gaza neste momento. Estima-se que possa levar 14 anos a limpar esses destroços se existirem 100 camiões inteiramente dedicados a esse serviço ao longo desse tempo.

Entretanto, a parte leste de Rafah continua a ser bombardeada. A Aljazeera dá conta que um oficial sénior israelita diz que o seu exército está a “avançar” com a planeada invasão terrestre da cidade.

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