Universidade de Columbia ameaça usar Forças Armadas contra estudantes pró-Palestina
O coletivo Estudantes de Columbia pela Justiça na Palestina (CUAD, na sigla em inglês) denunciou na madrugada desta quarta-feira (24/04) que a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, intimidou os alunos com uso da força ao ameaçar chamar as Forças Armadas dos Estados Unidos caso permaneçam protestando contra o genocídio palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza.
“A Universidade de Columbia ameaçou os negociadores da CUAD de chamar a Guarda Nacional e a polícia de Nova Iorque (NYPD) se não concordarmos com suas exigências”, anunciou o comunicado de imprensa do coletivo pró-Palestina, que se mantém em acampamento no campus como forma de protesto.
Classificando a coação como “ameaça perturbadora da universidade sobre uma escalada de violência”, os estudantes que têm promovido manifestações no campus de Morningside contra a guerra em Gaza e o financiamento norte-americano para a violência afirmaram que continuam “firmes em suas convicções pela libertação palestina e não serão intimidados pela ameaça”.
O comunicado do CUAD informou que a ameaça da Universidade de Columbia foi feita durante uma mesa de negociação entre a faculdade e o coletivo. Assim, os representantes da organização deixaram a mesa e se recusaram a retornar até que haja um compromisso por escrito de que a administração não acionará a polícia de Nova York ou a Guarda Nacional contra seus alunos.
O coletivo pró-Palestina justificou sua resistência contra a chamada do exército norte-americano porque “ao longo da história, vimos manifestantes pacíficos serem violentamente reprimidos e atacados pela Guarda Nacional: desde manifestantes do Black Lives Matter em Ferguson, Missouri, até estudantes que protestavam contra a Guerra do Vietnã na Kent State, em Ohio”.
Os estudantes denunciam que os manifestantes nessas ocasiões “foram brutalmente espancados e assassinados por se manifestarem pacificamente contra a guerra e a destruição”.
Uma das representantes do CUADA, Sofia Ong’ele, argumentou sobre a decisão da coalizão, afirmando que o coletivo é “diversificado com estudantes predominantemente negros, pardos e judeus, que correm sério risco de sofrer violência policial”.
A ameaça da Universidade de Columbia em recrutar o exército dos Estados Unidos para combater a resistência dos estudantes acontece no sétimo dia de protestos. No entanto, não é a primeira intimidação com violência policial.
No segundo de manifestação, no sábado (20/04), a universidade chamou a polícia de Nova Iorque para remover à força mais de cem estudantes que protestavam contra os “ataques genocidas de Israel a Gaza”.
O coletivo ainda questiona o desejo da universidade em querer voltar à normalidade das aulas: “como se o assassinato de mais de 30.000 palestinos – a maioria dos quais são mulheres e crianças – e a destruição sistemática de todas as universidades de Gaza pudesse ser interpretada como “normalidade”.
“Nós nos recusamos a aceitar um mundo em que o massacre em massa de palestinos seja visto como aceitável, normal e lucrativo. Recusamos a aceitar a cumplicidade da Universidade de Columbia com o genocídio”, finalizou o comunicado.
Columbia compra denúncia de antissemitismo
Por sua vez, a Universidade de Columbia não fez nenhuma declaração oficial sobre a ameaça com as Forças Armadas contra os alunos. Desde o início das manifestações, na última semana, o primeiro posicionamento da faculdade foi nesta segunda-feira (22/04), com a declaração do presidente do instituto, Minouche Shafik.
No documento, Shafik declarou estar “profundamente triste” com a situação no campus, pendendo sua posição para o lado do “receio pela segurança dos alunos”.
Avaliando especificamente as manifestações pró-Palestina, o presidente de Columbia avaliou os protestos como “tensões exploradas e amplificadas por indivíduos não afiliados à Columbia que vieram ao campus para perseguir os seus próprios objetivos”.
Também mencionou “exemplos de comportamento intimidador e de assédio no campus”, apelando para o discurso da “linguagem anti-semita” nas manifestações.
Ao falar sobre a guerra em Gaza, Shafik afirmou que “há um conflito terrível que assola o Oriente Médio”, mas que não pode permitir que “um grupo [em Columbia] dite os termos e tente interromper marcos importantes como a formatura para promover o seu ponto de vista”.
Na tentativa de voltar à normalidade das aulas, o presidente chamou por aulas ministradas virtualmente e que apenas o “pessoal essencial” comparecesse ao campus para trabalhar, além de orientar que os alunos que residem nos alojamentos da universidade não fossem até lá.
O pronunciamento do presidente também chamou por uma mesa de negociação “para concluir pacificamente o mandato e regressar a um envolvimento respeitoso uns com os outros”, que, no entanto, foi finalizada com as ameaças recebidas pelos estudantes.
Já o segundo, e até o momento, último posicionamento da universidade, foi nesta terça-feira (23/04), com mais uma declaração do presidente Shafik, ao afirmar que apoia “plenamente a importância da liberdade de expressão, respeita o direito de manifestação e reconhece que muitos dos manifestantes se reuniram pacificamente”.
Mas pondera que os protestos pró-Palestina “levanta sérias preocupações de segurança, perturba a vida no campus e criou um ambiente tenso e por vezes hostil”, de forma que era “essencial um plano para desmantelá-los”.
Nessa declaração, o representante disse que o CUAD e a universidade tinham até meia noite desta quarta-feira (24/04) para concluir as negociações, “caso contrário, opções alternativas para limpar o gramado [dos acampamentos dos manifestantes]” precisariam ser consideradas.
Shafik ainda agradeceu “o apoio das autoridades municipais e estaduais na gestão da crise”, de forma que na segunda-feira (22/04), a governadora de Nova Iorque, a democrata Kathy Hochul, visitou o campus, convocou a prefeitura, a polícia e Shafik para “discutir a necessidade de combater o anti-semitismo e proteger a segurança pública”.
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