por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile
05 de Abril de 2024
Seis meses passam voando
Olá, no calendário da política, as eleições são amanhã. E todos os problemas precisam ser resolvidos até lá.
.Entrando em campo. Todos os esforços estão voltados para organizar e animar o time para entrar na disputa eleitoral. A começar pelo fechamento da janela de troca partidária esta semana, que mobilizou os arquirrivais PT e PL. De sua parte, Lula tem aproveitado as inaugurações de obras país afora não só para recuperar sua popularidade em regiões estratégicas, mas também para aparar as arestas com as lideranças locais para outubro. Na lista de prioridades, estão as indicações do PT para comporem as chapas de Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro e João Campos (PSB) no Recife, além de definições sobre ter ou não candidatura própria em João Pessoa e Curitiba e escolher o nome petista para a prefeitura de Fortaleza. Do lado oposto, o PL também se movimentou, contando com seu maior puxador de votos, Jair Bolsonaro. O ex-capitão passou por São Paulo, onde fez afagos no prefeito Ricardo Nunes (MDB), o mesmo que contabiliza mais uma crise envolvendo o setor elétrico na maior cidade do país. E é claro que não poderia deixar de prestigiar seu fiel eleitorado em Balneário Camboriú, a Miami brasileira. Porém, assim como Lula, Bolsonaro também têm que gerenciar sua própria queda de popularidade nas pesquisas recentes, que indicam que a pecha de golpista pegou. Além disso, até um tradicional apoiador do ex-capitão, o agronegócio, está dividido, já que uma parcela está de olho na política de biocombustíveis do governo que avança dentro do Senado e não vê problemas em se aproximar de Lula. E, enquanto todos pensam no que podem ganhar, o senador Sérgio Moro, que já foi craque no elenco da direita, luta para não ter seu mandato de senador cassado.
.Dissonância cognitiva. Na avaliação do governo, a economia está melhorando, mas nas pesquisas de opinião, a percepção é o contrário, inclusive entre os eleitores lulistas. Onde está o ruído? Segundo o Planalto, na comunicação. Para isso, o ministro Paulo Pimenta tem a tarefa de unificar a estratégia de comunicação dos 38 ministérios, enquanto aposta em fortalecer a ação nas redes sociais a partir de maio. Além disso, o pacote de boas medidas do governo vem recheado: a aposta no programa Pé de Meia de permanência no ensino médio, medidas para baratear a energia elétrica e mais mil e quinhentos novos participantes do Mais Médicos. A captura dos fugitivos do presídio federal de Mossoró também ajuda a melhorar a imagem do governo na segurança pública, uma área sempre sensível. Mas, se a inflação parece sob controle e o emprego formal dá demonstrações de crescimento, de onde vem o descontentamento? Só pelo desconhecimento da mensagem? Sergio Lamucci chama a atenção que apesar dos números, grande parte dos empregos criados é de baixa qualificação e de renda entre 1 e 1,5 salários mínimos e a taxa de subutilização permanece alta. O crescimento também foi centralizado nas regiões sul e sudeste. Para esta edição do Ponto, a economista Cristiane Ganaka, do Instituto Tricontinental, acrescenta os seguintes elementos: a inflação foi maior na alimentação e transporte, que atingem diretamente os trabalhadores; o endividamento tem caído, mas ainda atinge 77,9% das famílias; e a renda permanece estagnada. Para além das medidas econômicas, Aldo Fornazieri alerta que a “batalha de ideias” tem sido perdida pela esquerda, no governo ou nos movimentos sociais. E Philippe Scerb recomenda ao governo “esquecer Bolsonaro” para esvaziar a polarização e não fortalecer ou dar sobrevida ao campo adversário.
.Perigos que rondam. Não é apenas a inflação e a renda que preocupam o governo. Há também pautas que dependem do trabalho dos ministros e do Congresso para andar e que estão deixando a desejar. Nas questões internas, o governo viu o superministro Rui Costa ser implicado em uma delação premiada que aponta irregularidades na compra de respiradores na sua gestão no governo da Bahia, enquanto prossegue a disputa entre o Ministro das Minas e Energias Alexandre Silveira e o presidente da Petrobras Jean Paul Prates, que é também parte da disputa entre Rui Costa e Fernando Haddad. O ministro da Fazenda, por sua vez, tem pressa, afinal a reforma tributária, que dominou a agenda política durante meses, ainda não foi regulamentada. Mas, tudo vai depender da boa vontade do Congresso, e a pretensão de manter boas relações com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para compensar as chantagens de Arthur Lira tem seus limites. Pelo menos é o que indicam os novos atritos entre o Senado e a equipe econômica em relação à reoneração da folha de pagamento dos municípios e suas consequências sobre a meta fiscal. Mas, além das reformas econômicas, os problemas no fornecimento de energia elétrica causados pela privatização dos serviços vão ganhando dimensão nacional, ainda mais depois que a ANEEL diz não ter condições de fiscalizar todo o setor. Na conta, ainda temos a crise sanitária da dengue, com uma queda nos gastos voltados à prevenção da doença e uma sensação geral de descontrole da epidemia mal-gerida pelo Ministério da Saúde. Sem contar uma greve nacional de servidores e professores das universidades e institutos federais que está apenas iniciando e ninguém sabe onde vai dar.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.As elites do Senegal queriam sabotar a democracia – os eleitores não. A Jacobin analisa o recente movimento democrático que levou à derrota do neocolonialismo francês.
.México: a esquerda pode chegar ao poder. Claudia Sheinbaum é a aposta para suceder Andrés Manuel López Obrador e poderá ser a primeira presidenta mexicana.
."A fome é criada antes de a temperatura subir". Em entrevista ao DW, Vandana Shiva fala do desafio de construir uma agricultura não industrial no mundo.
.Jogou pôquer e foi explodir o Riocentro: Wilson Machado, o fantasma vivo da ditadura. Conheça a única testemunha militar viva do atentado a bomba no Riocentro, em 1981. Na Pública.
.A greve dos boias-frias de Guariba que desafiou usineiros e policiais na ditadura militar. Há 40 anos, cerca de 7.000 trabalhadores da cana cruzavam os braços numa greve vitoriosa contra a ditadura. Veja na Pública.
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.Exclusivo: em 448 cidades brasileiras, todas as vítimas da polícia foram pessoas negras. A Alma Preta mostra as macabras estatísticas do racismo institucional da polícia brasileira.
.Em defesa do livro. No podcast Quatro cinco um, os escritores Jeferson Tenório e Airton Souza comentam a censura a seus livros.
.Documentário sobre o Clube da Esquina traz Milton, Beto Guedes e irmãos Borges às telas de cinema. No Esquerda OnLine, a história do grupo de amigos que mudou a música brasileira.
Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile
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