quinta-feira, 6 de março de 2008

Entrevista na Caros Amigos com Luis Nassif

Entrevista explosiva - Luis Nassif

Tudo pelo jornalismo, inclusive pôr a cara para bater. É isso que ele diz movê-lo a desafiar a revista Veja por meio de uma série de matérias contundentes que publica na Internet: Dossiê Veja. Seu blog tornou-se um dos campeões de audiência. Porque não é todo dia que alguém decide enfrentar os supostamente mais poderosos meios de comunicação.

entrevistadores: José Arbex Jr., Renato Pompeu, Thiago Domenici, Marcos Zibordi, Mylton Severiano, Sérgio de Souza. fotos: Eduardo Zappia.

trecho 01
SÉRGIO DE SOUZA Como é que você chega nessa imprensa grande?
Me formei em 69, em São João da Boa Vista. Depois prestei vestibular pra ECA, pra USP e passei. Tenho uma tia que foi casada com o jornalista Luis Fernando Mercadante, que foi da Abril e da Globo, e quando vim pra cá ele me apresentou para o jornalista Talvani Guedes da Fonseca, que me arrumou um estágio na Veja. Fiquei três meses estagiário, daí fui contratado como repórter. Fiz carreira na Veja até 79, quando fui pro Jornal da Tarde. Na Veja a gente pegou aquela fase complicada de ditadura e à medida que comecei a entrar mais na área econômica as informações que a gente levantava passava para o movimento (jornal oposicionista), do Raimundo Pereira. No Jornal da Tarde, quando começou a era da informática eu já passei a me preparar, achava que o computador – não pensava em Internet ainda, mas havia o chamado Cirandão (uma espécie de rede) – seria a liberação do jornalista. Daí fui pra Folha em 83, saí em 87, 88, e fi quei com o Dinheiro Vivo, continuo até hoje. Em 91 voltei pra Folha de novo e agora estou um blogueiro.

trecho 02
JOSÉ ARBEX JR. Qual foi o elemento detonador desse movimento dentro da Veja?
Foi uma pesquisa feita pelos jornalistas Pompeu de Souza e o D´Alembert Jaccoud mostrando que o Euler Bentes tinha uma votação boa no Congresso contra o João Baptista Figueiredo. Quando chegou na redação, eles inverteram os dados, e aquilo foi um problema, juntou todo mundo e “ó, gente, vocês podem ir na linha da revista, mas não podem inverter dados assim”. Ali começou o processo de “passaralho” (demissão em massa), começou uma perseguição terrível em cima das pessoas. Eles não conseguiram me demitir, eu saí quando tive a proposta do Jornal da Tarde. Agora, aquilo foi muito importante, porque quando eles te jogam no meio da guerra você perde o medo e manda bala. Pra mim foi uma maneira de sair da concha e saber que os ambientes de redação são complicados; se você não cria uma imagem, uma marca própria, você fi ca refém. Lembro um ótimo colega que falava: “Não adianta, você não vai fazer carreira porque você é bom jornalista mas não sabe conviver com a estrutura”. E eu nunca consegui. O período que fi quei secretário de redação da Folha foi o pior período da minha vida, porque se eu tiver que trabalhar catorze horas por dia eu trabalho com gosto; se eu tiver que dedicar trinta minutos pra entender essas guerrinhas de puxar o tapete daqui e dali, pra mim é um desespero. No Jornal da Tarde tive o período mais criativo. Montei o Seu Dinheiro, o Jornal do Carro, mas quando surgiu o computador eu falei: “Preciso criar uma marca própria, se depender de redação eu não dou certo”. MARCOS ZIBORDI E a Internet hoje, você faria esse trabalho sem ela? Ah não, não tinha Internet, a minha aposta foi quando entrou a era do computador pessoal e do cirandão. Dinheiro Vivo foi o primeiro a trabalhar com informação eletrônica. Meu sonho lá atrás demorou um pouco pra chegar, mas agora chegou. A Internet é fundamental.


"Estou falando do tanto de ataques cometidos contra a honra de terceiros na revista, é uma coisa inacreditável"


trecho 03
JOSÉ ARBEX JR. Eu acho que a Veja merece uma caracterização um pouco melhor, mais precisa. Porque, na minha opinião, ela é diferente da Folha e do Estadão. Tem um lugar que a Veja ocupa, que você citou de passagem. Na minha opinião, ela é o veículo propagador do neoconservadorismo no Brasil. Fiquei pensando: com quem a Veja dialoga? A única resposta que eu achei foi George Bush.
A Abril não é uma editora ideológica. Quando você pega a Abril, a Folha, o Globo, eles cavalgam movimentos da opinião pública. Se a opinião pública quer um pouco mais à esquerda, eles vão, faz parte do conceito da grande mídia em relação ao ambiente de mercado. Depois das Diretas-Já tinha uma onda mais à esquerda, eles foram. Depois tem uma onda um pouco mais à direita. Tem um conjunto de fenômenos aí que ajuda a explicar essa questão de mais pra direita. Tem de um lado uma classe média que foi massacrada quinze anos; aí tem uma insegurança, porque fi nanceiramente ela começa a cair. É uma classe média ameaçada. De repente você tem uma ascensão da classe D. Isso cria uma dupla insegurança pra classe média, que é a insegurança fi nanceira e insegurança de status. Daí o Lula é eleito. Você tem o deslumbramento inicial do pessoal que chega ao governo, o que vai acentuando a resistência da classe média. Tudo isso dentro de um ambiente em que mundialmente há essa tendência à direitização. E a grande imprensa sempre refletiu esses movimentos lá de fora, sempre foi cópia malfeita desses movimentos. Então já havia uma tendência de ocupar esse espaço mais à direita. Os jornais fazem isso. Daí surge o escândalo do mensalão, eles têm a chance de refletir o que eles acham que era o sentimento de seus leitores contra o governo e derrubar o governo. Nada de conspiração, estamos falando de mercado. Então todos partem pra isso. Doeu meu coração ver a Folha a reboque da Veja, mas ela tinha lá a visão de mercado dela. O Estadão, com mais discrição, como sempre. O Globo, com exceção das intervenções de Ali Kamel, faz um jornalismo um pouco mais sólido. A IstoÉ é aquilo que a gente já conhece. Mas a Veja envereda por um caminho onde entra um profundo amadorismo desse pessoal. Quando eles começam a subir o tom, com aquela agressividade, colocar o presidente da República...

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