terça-feira, 18 de março de 2008

Opiniões do vice-presidente americano em visita ao Iraque

Nesta matéria abaixo apresentada, com o título de "Reflexões de Fidel", o ex-comandante comenta com uma certa ironia, o que teria sido uma "viagem triunfal" do vice-presidente americano Dick Cheney, juntamente com o candidato à presidência McCain, ao Iraque. Esta viagem tem lugar nomomento em que se completam cinco anos da invasão americana, ao seu ex-aliado na guerra Irã contra o Iraque. Além disso, essa viagem é muito importante para o McCain, grande defensor desta guerra, na qual está apostando seu futuro político.
Uma das coisas mais importantes desta matéria é que todo o otimismo que o Bush tenta passar para os americanos, é desmentido pela realidade dos fatos. Tal realidade é possível ser conhecida por alguns dados divulgados não só pela Cruz Vermelha Internacional como também por um relatório da Anistia Internacional.
Ao mesmo tempo que o McCain faz estas declarações sobre o Iraque, soubemos hoje, que a candidata Hillary fez a seguinte declaração:"Não podemos vencer", se referindo a guerra que, segundo ela, já está custando quase um trilhão de dólares.
Voltando ao Fidel, ele encerra seu artigo perguntando: "Foi ou não uma viagem triunfal?"


Havana. 18 Março de 2008

REFLEXÕES DE FIDELA viagem triunfal
AS agências noticiaram rapidamente. As notícias não são risíveis, mas irônicas. Cada um disse sua parte. Houve uma competição, isto é, competiram. Também chegaram imagens fílmicas de Dick Cheney, o autor intelectual, e de seu discípulo McCain; aparecem disciplinadamente entre numerosas pessoas, numa espécie de sala de aulas com cadeiras simples, onde se encontra todo o tipo de chefes treinados na arte de matar. Empregarei frases simples e algumas opiniões de alunos, professores, repórteres e instituições que refletem a crua realidade.
Do próprio discurso de Cheney, televisionado pela onipresente CNN, foram extraídas as seguintes palavras:
"Temos progredido na frente da segurança, mas também no governo."
"Quando a gente vem aqui, depois de vários anos, e constata como se desenvolveram os acontecimentos ―de fato, nesta semana é o quinto aniversário da guerra lançada em março de 2003―, muitas coisas boas passaram e não apenas nos últimos 15 meses."
"O nível de violência e de baixas militares, bem como de civis diminuiu muitíssimo, portanto, isso tem sido um grande sucesso."
"Foram anos difíceis, porém tivemos sucesso naquilo que fizemos e o esforço valeu a pena."
"Alegro-me de estar aqui, e estou muito contente de voltar a Washington na semana próxima para informar ao presidente sobre o importante avanço que conseguimos no Iraque."
Respondendo a uma pergunta, disse:
"Eu acho que o fato de que o presidente tenha tomado a decisão que tomou há mais de um ano, de não reduzir o número de forças no Iraque, mas, ao contrário, aumentá-lo e adicionar cinco unidades de combate, descarta qualquer idéia de a gente esperar, que quer seja aqui, no Iraque, na região, que vamos embora."
"A gente tem certeza de que estamos aqui para ficarmos e terminarmos a missão."
"Temos o benefício de um ano de êxitos. Eu acho que os estadunidenses podem falar de que o que está acontecendo no Iraque é um sucesso."
Às 9h50, foi interrompida a transmissão para informar sobre o dicurso de Bush a respeito do estado da economia.
"Neste momento estamos lidando com uma situação difícil", declarou o presidente.
A transmissão foi novamente interrompida e o repórter acrescenta que "o presidente Bush disse que os Estados Unidos estão controlando a situação da economia, que está em crise, mas tudo está sob controle. Pelo menos essas foram as palavras do presidente estadunidense".
Neste momento, Alan Greenspan publicava no Financial Times, "A actual crise financeira nos Estados Unidos será julgada como a mais grave desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Esta crise deixará numerosas vítimas." Acrescente-se a isso que, enquanto Bush falava, o preço do ouro atingia US$1.023,68 cada onça Troy e US$112, um barril de petróleo.
As notícias se amontoam.
"Segunda-feira, 17 de março de 2008. Milhões de iraquianos têm pouco ou nenhum acesso à água potável ou aos serviços médicos e sanitários cinco anos depois da invasão dos Estados Unidos, segundo um relatório da Cruz Vermelha", transmite a BBC Mundo e continua:
"A situação humanitária no Iraque está entre as mais críticas do mundo."
"Milhões de pessoas ficam abandonadas à sorte."
"Algumas famílias gastam a terça parte de seu salário médio mensal, de US$150 dólares, em comprar água potável."
"Os serviços médicos no Iraque são agora pior que antes e os serviços disponíveis são caros demais."
"Os hospitais do Iraque carecem de pessoal qualificado e de medicamentos básicos, os hospitais públicos têm apenas 30 mil leitos, quando eles precisam de 80 mil."
"Muitos dos mortos, vítimas do atual estado de violência, jamais foram identificados."
"O fato de existir mais segurança nalguns lugares do Iraque não deve distrair a atenção da situação extrema em que vivem milhões de pessoas que foram essencialmente abandonadas à sorte."
Um relatório de Anistia Internacional, divulgado pela DPA, adverte:
"As violações dos direitos humanos são constantes em todo o país, onde milhões de iraquianos dependem da ajuda humanitária para sobreviverem."
"Foram investidos milhões de dólares em segurança, mas dois em cada três iraquianos não têm acesso à água potável, e quase um em cada três ― uns oito milhões de pessoas ― depende da ajuda de emergência."
"Não se sabe com certeza o número exato de pessoas assassinadas no Iraque desde a invasão estadunidense em março de 2003."
"Os julgamentos que realizam são habitualmente injustos, com confissões de culpabilidade obtidas presumivelmente sob tortura."
Por outra parte, a agência ANSA informa:
"O vice-presidente estadunidense, Dick Cheney, se reuniu hoje em Bagdá com o primeiro-ministro iraquiano, Nuri Al-Maliki, ao passo que uma série de explosões sacudiu a capital iraquiana deixando um saldo de dois mortos e alguns feridos."
"Cheney se reuniu, além do mais, com o candidato republicano às eleições presidenciais estadunidenses de novembro, John McCain, que chegou no domingo, também de supresa, ao Iraque."
"Pouco depois da chegada de Cheney, houve uma violenta explosão no centro de Bagdá, ao que parece, um disparo de morteiro lançado contra a Zona Verde de máxima segurança da capital, onde estão as embaixadas e os principais prédios governamentais."
"O general Kassim Atta, porta-voz das operações de segurança em Bagdá, declarou que uma terceira bomba estourou hoje contra um carro civil na praça de Tahariyat, na zona central do bairro Karrada, deixando um saldo de um civil morto e três feridos."
A agência norte-americana AP afirma que:
"Explosões abalaram esta capital na segunda-feira, durante a visita do virtual candidato presidencial republicano e do vice-presidente, Dick Cheney."
"Helicópteros artilhados sobrevoaram o centro de Bagdá e a fortificada Zona Verde, onde se encontra a sede do governo iraquiano e as embaixadas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, mas não se ofereceram inicialmente detalhes sobre a causa das explosões."
"O vice-presidente realiza sua terceira visita ao Iraque, onde os Estados Unidos têm uma força de 160 mil soldados e já morreram quase quatro mil efetivos seus."
"McCain, que apostou seu futuro político no êxito militar dos Estados Unidos no Iraque, reuniu-se na segunda-feira com o primeiro-ministro, Nuri Al-Maliki, pouco antes de que o líder iraquiano conversasse separadamente com Cheney."
"Al-Maliki disse que ele e o vice-presidente discutiram as atuais negociações sobre um acordo de segurança a longo prazo entre ambos os países."
"A embaixada dos Estados Unidos em Bagdá disse que não podia confirmar versões de que a Zona Verde havia sido atacada com mísseis, após a chegada de Cheney."
Mais adiante, a DPA informa e acrescenta:
"Um atentado triplo matou hoje duas pessoas e feriu outras sete na capital iraquiana, Bagdá, horas depois da chegada de improviso do vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney."
"A primeira bomba explodiu contra uma patrulha da polícia no bairro ocidental de Mansur. Um agente morreu e outro foi ferido."
"Uma segunda explosão no bairro de Zayuna causou ferimentos a três civis, e no centro da cidade, um civil perdeu a vida e outros três foram feridos, informou o general Kassim Atta."
Mas isso não aconteceu apenas na capital iraquiana:
"Para 42 vítimas mortais e 58 feridos aumentou o número de vítimas num dos atentados em Kerbala, a 110 quilômetros de Bagdá", comunicou a Efe.
Noutra informação acrescentava que era "um atentado suicida perpetrado por uma mulher que detonouou a carga explosiva que levava no corpo."
"Entre 25 e 36 mortos e dezenas de feridos foi o saldo hoje de um atentado suicida", informou a ANSA.
Com esses dados, que se incrementam a cada hora, a de Cheney, foi ou não uma viagem triunfal?
Fidel Castro Ruz
17 de março de 2008

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