É lamentável, como mostra o texto abaixo, do Zé Dirceu, a posição da marinha brasileira, mais de cem anos após tal revolta. Há alguns anos li um livro do jornalista Edmar Morel, que para mim causou um impacto muito grande. Êle revela que apesar da armada inglesa ter abolido a prática de castigos físicos com chibata em 1881, a nossa marinha continuava a punir seus marujos com esta prática condenável.O que a marinha fez com os revoltosos foi uma coisa abominável. Eles foram anistiados pelo congresso nacional e, logo depois, a marinha forjou um nova revolta, única e exclusivamente com o objetivo de não só cassar, como eliminar fisicamente os revoltosos, o que de fato ocorreu. Não sei direito, mas parece que um neto do Morel voltou a pesquisar este tema, e teve espaço na FSP.
Dessa forma, é triste e preocupante vêr que passados quase 100 anos, ainda existam cabeças pensantes na marinha iguais as de 1910.
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Uma posição e um texto vergonhosos da Marinha do Brasil
Como resgate histórico, particularmente de... Como resgate histórico, particularmente de um assunto tabu que praticamente nunca é tratado, constitui um feito extraordinário a reportagem do Marcelo Beraba, na Folha de S.Paulo, no fim de semana, sobre a "Revolta da Chibata" e seu herói, o marinheiro negro João Cândido, que a liderou em 1910. Lamentável, no entanto, sob todos os aspectos e pontos de vista, a nota emitida a respeito pela Marinha do Brasil.
Se a nota é lamentável a posição, tornada pública, é mais que isso - é condenável. Alguém seria capaz de imaginar que, em 2008, primeira década do terceiro milênio, uma instituição tivesse a coragem, como acaba de fazê-lo a Marinha, de considerar "ilegal, sem qualquer amparo moral ou legítimo", a revolta contra a aplicação de castigos com chibatadas ?
Espera aí, Marinha, isso é injustificável em qualquer época - na idade das trevas, da pedra, na idade média. A revolta liderada por João Cândido ocorreu porque ele descobriu que a Inglaterra, por exemplo, abolira os castigos físicos com a chibata 30 anos antes, em 1881. Aqui, em 1910, um marinheiro brasileiro era punido com 250 chibatadas. Estou falando de um tipo de castigo abolido há exatos 129 e que, pasmem, a nossa Marinha acaba de defender em nota oficial!.
Nem agora, nem nunca, se justifica condenar a revolta porque ela representou uma subversão da hierarquia, da lealdade que o subordinado militar deve ao seu superior. Hierarquia e lealdade não têm limites? Superior militar tem poder de agredir até fisicamente o subordinado? Já não é tempo de mudar, abrir a cabeça?
O episódio guarda semelhanças com outros da história do Brasil, de compromissos não honrados, documentos, fatos e até revoltas forjadas. A Revolta da Chibata acabou em poucos dias, com a aprovação pelo Congresso do fim dos castigos físicos e anistia para os revoltosos. Pouco depois nova rebelião, forjada para incriminá-los, levou João Cândido e mais 16 companheiros à prisão. Três dias depois, os outros 16 estavam mortos. João Cândido sobreviveu, mas foi expulso da Marinha e centenas de outros revoltosos foram enviados para trabalhos forçados na Amazônia, de onde poucos voltaram. Foram fuzilados.
O que a Marinha deve propor, imediatamente, é a anistia post mortem, a volta da anistia que lhes foi concedida, para João Cândido e companheiros. O que ela escreveu agora é uma vergonha sem precedentes. Com essa mentalidade podemos esperar qualquer coisa, qualquer mesmo. O que tem a dizer o presidente Lula? Se não der um basta, corrigir isso, daqui a 20 anos os mesmos militares que escrevem uma barbaridade dessas poderão escrever o mesmo sobre ele e as greves que liderou contra a ditadura.
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