sábado, 11 de abril de 2009

ASSEMBLÉIA HISTÓRICA NO ABC : O trauma de Vila Euclides.

Assembleia histórica no ABC completa 30 anos e companheiros de Lula querem evitar que o presidente cometa os mesmos erros do passado.

Alan Rodrigues

Autor da proposta do terceiro mandato para o presidente Lula, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) entrou para a história como um dos idealizadores da assembleia dos metalúrgicos da Vila Euclides. O ato é, sem dúvida, o mais importante na trajetória do primeiro sindicalista que chegou ao Palácio do Planalto. Mas, 30 anos depois, ainda é percebido como uma vitória. Talvez por força da famosa fotografia de Lula, em pé em cima de mesas no meio de uma multidão reunida no estádio daquele bairro de São Bernardo do Campo. Aliás, tudo começou num jogo de futebol.

Devanir lembra: "Eu, o Lula e outros companheiros assistíamos a uma partida de futebol entre Corinthians e Guarani, no Morumbi lotado, em março de 1979, quando o Lula disse: 'O dia em que a gente fizer uma assembleia com um tanto assim de gente, nós vamos virar este país de ponta-cabeça!"


CRISE "Naquele dia eu voltei para casa como o mais arrasado dos seres humanos", diz Lula.
Poucos dias depois, estavam diante de 160 mil operários. "O Lula tremeu. Eu disse: 'Você não queria o povo? Ele está aí!' Ele me respondeu, trêmulo: 'Não basta ter o povo, tem que ter cabeça e muita responsabilidade'", lembra o deputado. Depois de 30 anos, as testemunhas daquele episódio destacam duas coincidências importantes com o atual momento. Aquela foi a primeira vez na vida em que Lula experimentou tamanha popularidade. Havia sido eleito para a presidência do sindicato com 98% dos votos. Era quase uma unanimidade.

A outra coincidência é que Lula também enfrentava uma crise inédita, só que no movimento sindical. Apesar da aceitação popular e do completo domínio da multidão, registrado pela fotografia, Lula saiu derrotado e a Vila Euclides virou um trauma em sua trajetória. "Naquele dia eu voltei para casa como o mais arrasado dos seres humanos", diz o presidente, em sua biografia Lula, o filho do Brasil, de Denise Paraná (Ed. Fundação Perseu Abramo), que serve de base para o filme sobre sua vida, dirigido por Fábio Barreto.

Lula saiu derrotado da assembleia porque, depois de 14 dias de greve, ele e sua diretoria convenceram os operários a voltar ao trabalho, quase sem conquistas. Numa jogada até hoje considerada obscura, o fim da paralisação espalhou entre os metalúrgicos o sentimento de que Lula teria se vendido aos patrões. "Amigos meus, caras que me carregavam no pescoço, pessoas para quem na assembleia anterior eu era o herói delas, falavam assim para mim: "Ah, você se vendeu! Traiu os trabalhadores!", diz Lula, no livro. E compara com suas referências futebolísticas: "Sabe qual era a impressão que eu tinha? Maracanã em 1950, quando o Brasil perdeu do Uruguai. Um silêncio... Nego saiu chorando do estádio... Pela primeira vez eu passava pelos meus amigos e eles nem davam a mínima para mim." Mais tarde, Lula foi obrigado a gastar muita saliva para se explicar e reconquistar o apoio dos metalúrgicos.

Os mais próximos de Lula sabem que seu sonho é descer a rampa do Palácio do Planalto, no dia 1º de janeiro de 2011, como o político mais importante do mundo. Para tanto, um dejà vu de Vila Euclides nem pensar. Lula sabe muito bem, por exemplo, que a crise pode e deverá comprometer seu desempenho. Para evitar um novo trauma, ele lançará mão de todas as armas possíveis. No dia 13 de maio, aniversário dos 30 anos da histórica greve geral pós-68 e dentro da comemoração do 50º aniversário do sindicato que o lançou ao mundo, Lula levará sua candidata, Dilma Rousseff, a conhecer sua base, para onde ele promete voltar assim que deixar o poder.

POPULARIDADE Lula no meio da multidão no estádio de São Bernardo e sendo carregado pelos metalúrgicos: "Não basta ter o povo, tem que ter cabeça e muita responsabilidade"

Para continuar bem na foto, alguns de seus ex-companheiros de 1979 dão conselhos. "Ele não pode é enganar a massa", diz o ex-ministro do Superior Tribunal do Trabalho, Almir Pazzianoto, na época um dos principais personagens do movimento. "Ele não pode mudar o discurso. Manter o carisma é fundamental", diz o advogado Maurício Soares, outro amigo do período, autor do primeiro discurso de Lula como dirigente sindical. Os conselhos não param por aí: "Ele precisa fazer as reformas sindicais e trabalhistas para gerar emprego", entende Pazzianoto. "Reformas sempre são a favor dos empresários", rebate Soares, devolvendo ao presidente a antiga polêmica do capital e do trabalho de 1979. Ou seja, 30 anos depois, o estádio será tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual e serve de cenário para o filme biográfico, mas os desafios do Lula presidente continuam bastante semelhantes aos do sindicalista.
Fonte:Isto É

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