Os alimentos transgénicos (geneticamente modificados) perpetuam a fome, concentrando a produção e os seus lucros nas mãos das corporações transnacionais e destruindo as produções abalando as produções familiares, sustentáveis e agro-ecológicas. Essas são algumas das conclusões do relatório “Quem beneficia com os transgénicos?” (Who benefits from GM Crops? (PDF)), dado a conhecer nesta terça-feira pela organização Amigos da Terra Internacional (ATI).
No caso do Uruguai, a política de coexistência entre produção orgânica, convencional e transgénica levará, pelo que tem sido feito, à contaminação das duas primeiras, já que os critérios de bio-segurança impostos pela lei vigente não impedem a contaminação cruzada, segundo se depreende de uma investigação realizada, pela REDES - Amigos da Terra (2008) em convénio com os Departamentos de Estatísticas e Produção Vegetal da Faculdade de Agronomia, da Secção Bioquímica da Faculdade de Ciências e com a colaboração da Cadeira de Bioquímica da Faculdade de Química da Universidade da República. Os alimentos transgénicos, que se apresentam como a solução para o aumento do preço dos alimentos no mundo e como produto de uma tecnologia de ponta, a qual as sociedades deveriam aceitar em nome do “progresso”, comprometem a produção soberana e sustentável de alimentos, e só beneficiam as transnacionais que os produzem.
Contaminação transgénica no Uruguai
Em Julho de 2008, o Conselho de Ministros do Uruguai pôs fim à moratória de autorização de novos eventos transgénicos - que se tinha estabelecido por um período de 18 meses -, passando a definir uma política de «coexistência regulada na utilização de organismos geneticamente modificados», política que as organizações sociais definiram na altura como impossível de levar por diante sem riscos para a saúde ou para a produção orgânica e convencional. A partir da possibilidade da “coexistência”, o Uruguai dedicará cada vez mais hectares a este tipo de produção, que contamina a de tipo agro-ecológico e convencional, e afoga as famílias produtoras sem possibilidades de competir contra os grandes capitais.
O relatório da REDES-AT conclui que as medidas estabelecidas pela regulamentação não podem conter a contaminação derivada do cruzamento entre cultivos transgénicos e não transgénicos de milho, e acrescenta que, ao ser um tipo de contaminação acumulativa, será impossível de reverter, tal como o demonstra o estudo. A distância regulamentar de 250 metros não evita esta contaminação cruzada, mas para além disso esta distância não é respeitada a nível de terrenos produtivos, o que confirma a inviabilidade da coexistência.
Na realidade, a produção familiar está a ficar cada vez mais ensombrada pela produção realizada pelas transnacionais do agro-negócio. Aos produtores familiares é cada vez mais difícil aceder ao crédito e à terra, já que a mesma toma preços exorbitantes devido à especulação dos grandes capitais. O hectare passou a multiplicar por dez o seu valor e o agro-negócio da soja alcançou zonas «(…) especialmente sensíveis à produção de alimentos básicos para o mercado interno», expressa o relatório ambiental da REDES-Amigos da Terra Uruguai publicado em Dezembro no relatório do SERPAJ de Direitos Humanos.
Para além disso, os agro-tóxicos utilizados para os cultivos transgénicos também são caros para os pequenos produtores e geram problemas de saúde e meio-ambientais. Por seu lado, as sementes transgénicas custam de duas a quatro vezes mais que as tradicionais.
Algumas conclusões do relatório internacional
O relatório da federação ambientalista Amigos da Terra Internacional, publicado nesta terça-feira, conclui, entre outras coisas, que os alimentos geneticamente modificados, não apenas não permitem aumentar a produção alimentar, como a diminuem.
Este tipo de cultivos não contribuem para a redução da fome e da pobreza, como se quis publicitar. A maioria do milho transgénico é utilizado como alimento para os animais, para a produção de combustível ou para comida processada nos países ricos.
A produção de transgénicos é ao mesmo tempo uma produção altamente concentrada. «Cerca de 90% da área mundial cultivada com transgénicos está em apenas 6 países com sectores agrícolas altamente industrializados e orientados para a exportação: Estados Unidos, Canadá, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai», expõe no seu comunicado a Amigos da Terra Internacional.
Outros pontos do relatório têm a ver com os debandada que as produções transgénicas geram nas produções familiares e nos conhecimentos agro-ecológicos que vão paulatinamente desaparecendo, apesar de terem demonstrado o seu êxito no aumento da produção.
«Apesar de mais de uma década de propaganda, a indústria não introduziu nem um só cultivo transgénico que aumente os rendimentos, que seja mais nutritivo, resistente à seca ou à salinidade».
O relatório conclui com o anunciado no título: as reais beneficiárias dos cultivos transgénicos são as empresas transnacionais que os produzem e patenteiam, e não as populações, que necessitam de alimentar-se de forma soberana e sustentável.
Fonte: REDES-AT/Site Informação Alternativa.
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