terça-feira, 18 de maio de 2010

COMÉRCIO DE LUXO E PRECONCEITO CONTRA LULA.




Altamiro Borges *

Adital -
Só mesmo o preconceito de classe ajuda a entender porque uma expressiva e barulhenta parcela das elites brasileiras, incluindo a chamada classe "mérdia", continua tão refratária ao presidente Lula -como atestam as pesquisas de opinião nas regiões Sul e Sudeste. Afinal, ela nunca ganhou tanto dinheiro na vida. Pesquisa recente aponta que o comércio de luxo teve um crescimento de 30% no primeiro trimestre deste ano- quase o dobro do registrado em 2007, quando o setor já havia batido o recorde histórico de 17% de expansão nas suas vendas.

A farra do comércio de luxo é tanta que 13 novas empresas de "marca" já negociam sua entrada no país, segundo reportagem da Folha. "Está havendo um reaquecimento da economia acima do esperado e não há grife estrangeira que não planeje vir ao Brasil", comemora Carlos Ferreirinha, presidente da MCF, uma das principais consultorias deste setor. A Associação Brasileira de Empresas de Luxo (Abrael) avalia que, mantido o ritmo atual de crescimento, o mercado das elites fechará 2010 com receitas da ordem de R$ 8,5 bilhões - contra R$ 6,5 bilhões em 2009.

Pressão e chantagem das elites

Mesmo no ano passado, quando a grave crise econômica abalou o sistema capitalista, houve um aumento de 10% na venda do setor. Empresas como Armani, Montblanc, Gucci, Louis Vuitton e outros paraísos de consumo das elites, aproveitaram para aumentar a remessa de luxos para suas matrizes quebradas. Caraduras e ambiciosas, elas ainda reclamam da carga tributária do Brasil e fazem chantagens para obter vantagens. Segundo a Folha, as 13 marcas estrangeiras que estão em negociação para se instalar no Brasil exigem "menos impostos para os artigos de alto luxo".

A pressão das "grifes estrangeiras", apoiada pela histeria dos ricos consumidores da elite, deveria servir de lição para o governo Lula e para os movimentos sociais. No primeiro caso, ela confirma que persistem graves problemas estruturais no país, que ampliam a péssima distribuição de renda e riqueza. Sem reformas estruturais mais profundas o fosso social só crescerá; a elite continuará transformando seus lares em "depósitos de produtos de luxo" -como sempre alerta o economista Marcio Pochmann- e, mesmo assim, manterá a sua postura de oposição hidrófoba ao governo.

Hora de chutar o pau da barraca

Já no caso dos movimentos sociais, a pressão das "grifes de luxo" confirma o ditado de "quem não chora não mama". Mesmo se esbaldando na ostentação, as elites querem muito mais. Dane-se a miséria da maioria da população. As várias categorias que estão em campanha salarial também poderiam aproveitar a retomada da economia -com alguns analistas prevendo crescimento de até 7% no Produto Interno Produto (PIB)- para exigir mais nas suas mobilizações e negociações.

Esta é a hora de chutar o pau da barraca. Os empresários nunca ganharam tanto dinheiro na vida - daí o aumento de 30% no consumo de luxo. Quando da eclosão da crise no ano passado, eles tentaram "socializar o prejuízo" e até fizeram terrorismo para cortar salários e direitos trabalhistas. Agora, eles não têm como alegar dificuldades. Nada mais justo do que "socializar a bonança", contribuindo para atenuar o péssimo quadro de distribuição de renda e riqueza no Brasil.


* Jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB - Partido Comunista do Brasil

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