As medidas levaram o deputado europeu Daniel Cohn-Bendit, que faz parte do Partido Verde Alemão e foi um dos líderes dos protestos estudantis de 1968 na França, a dizer que a União Européia enlouqueceu ao colocar tais medidas como condição para que o empréstimo fosse concedido.
O objetivo é fazer com que o déficit público do país que é de 13,6% seja reduzido para abaixo de 3% em 2014.
Nesta semana estive em Atenas e Salônica, a primeira e a segunda cidades gregas. Em Atenas no dia 5, quarta-feira, havia acontecido o maior protesto das últimas décadas no país. Líderes do movimento social local afirmam que aproximadamente 300 mil pessoas estiveram na passeata. O evento, porém, não teve um desfecho favorável. Alguns manifestantes lançaram uma bomba de gasolina em um banco e três bancários morreram sufocados. Uma delas estava grávida de quatro meses. O fato causou comoção no país, em especial em Atenas, e está sendo explorado pela mídia e pelo governo. Isso pode levar os protestos a perderem força e apoio popular. Antes desse episódio, uma pesquisa apontava que aproximadamente 2/3 da população era contra as medidas e a favor das manifestações para que o acordo com a União Européia não fosse implementado nos termos que foi anunciado.
Em Salônica, não se vê indícios das manifestações, mas em Atenas muitas lojas de grifes e principalmente bancos estão com suas vitrines e portas vidros quebradas e pichadas. Há uma parte mais radicalizada do movimento social que tem como bandeira principal a nacionalização do sistema financeiro como uma das soluções para enfrentar a crise. Isso explica em parte o ataque às agências bancárias e a tragédia que levou à morte os três bancários.
A crise grega ainda não foi solucionada com o empréstimo de 110 bilhões de euros pelo FMI e pela comunidade européia. A solução apresentada pelo mercado é exageradamente neoliberal e dura com trabalhadores e aposentados e por isso deve resultar em uma forte reação popular. Quando as medidas começarem a ser implementadas e seus efeitos passarem a ser sentidos no dia a dia, tudo indica que os protestos podem ser ainda mais duros e radicais.
Conheça as principais medidas que têm motivado os protestos:
- Os benefícios dos trabalhadores do setor público serão reduzidos em 8%, enquanto os salários dos empregados em empresas estatais sofrerão corte de 3%;
- Os bônus de férias dos servidores públicos civis que ganham mais de 3 mil euros por mês serão cortados para até 1 mil euros, sendo que serão pagos da seguinte forma (250 euros no Natal, 250 na Páscoa e 500 nas férias);
- Os salários e aposentadorias do setor público serão congeladas por 3 anos;
- Corte de 13º e 14º salários no setor público;
- Drástica revisão da legislação trabalhista, que permitará pagamentos de salários menores que o mínimo e elimina adicional de hora extra, por exemplo;
- Aumento da idade mínima para aposentadoria para 65 anos para homens e mulheres. Sendo que a idade média aumenta em função do aumento da expectativa de vida;
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