sexta-feira, 14 de maio de 2010

IRÃ - Entrevista com exilado iraniano.

Entrevista com exilado iraniano

Por Bruno

Da Folha

Exilado iraniano apoia visita de Lula a Teerã

MARCELO NINIO
enviado da Folha de S. Paulo a Moscou (Rússia)

Embora se oponha ao governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, o professor iraniano Farhang Jahanpour defende o diálogo com Teerã como forma de reduzir as tensões no Oriente Médio. Especialista em estudos persas da Universidade de Oxford (Reino Unido), ele deixou o Irã pouco antes da Revolução Islâmica, em 1979, e nunca mais voltou. Para Jahanpour, o Brasil tem credibilidade para mediar as negociações com o Irã e “quebrar o gelo” entre o país persa e o Ocidente.

FOLHA – A visita do presidente Lula ao Irã tem sido criticada dentro e fora do Brasil. Qual sua opinião?

FARHANG JAHANPOUR – Todo esforço que puder reduzir a extrema tensão que existe hoje no Oriente Médio é bem-vindo, estejamos ou não de acordo com as posições do presidente Ahmadinejad e com o programa nuclear iraniano. O Brasil pode ajudar porque não representa as superpotências, mas o resto do mundo que não concorda que o monopólio nuclear fique nas mãos de alguns poucos países. Os que criticam Lula devem lembrar que sua ida ao Irã não significa um apoio às políticas de Ahmadinejad ou ao programa nuclear, apenas uma tentativa de buscar formas construtivas de reduzir a tensão. Um país como o Brasil, que também mantém boas relações com os EUA, pode ter um papel de mediação importante e trazer o Irã de volta para a comunidade internacional.

FOLHA – Por que o Brasil seria capaz de algo que outros não foram?

JAHANPOUR – As potências europeias nunca foram totalmente imparciais. Elas agiram muito mais do ponto de vista de quem tem as armas e não quer que outros também tenham. O Brasil pode ter sucesso por ser mais equilibrado. Ao mesmo tempo em que examina os argumentos do Ocidente, leva em conta a frustração de países que se sentem discriminados. Se você quer fazer uma intermediação, é preciso que seja visto como um ator imparcial. Países como Brasil e Turquia podem ajudar a colocar um fim a essa situação desequilibrada, em que alguns poucos países creem ter o direito de ser superpotências e ter armas nucleares, enquanto outros não podem nem enriquecer urânio para ter o próprio combustível. Seria importante criarmos um banco internacional de urânio para que países que querem desenvolver energia nuclear pacificamente possam receber o combustível sem dar satisfação a europeus e americanos.

FOLHA – O Brasil também poderia ter um papel na proposta de troca de urânio por combustível?

JAHANPOUR – Sem dúvida, o Brasil é suficientemente respeitado e importante para fazer parte de qualquer proposta. As potências negociadoras do P5+1 [EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha] são o mesmo clube de sempre. Uma negociação que incluísse países em desenvolvimento teria muito mais chance de convencer o Irã. Espero que a revisão do Tratado de Não Proliferação almeje a eliminação total das armas nucleares. Mas o mundo caminha cada vez mais em direção à energia nuclear. É preciso haver um acordo que permita a proliferação de tecnologia nuclear, sem a proliferação de armas.

FOLHA – O governo americano diz que o Irã está usando o Brasil para ganhar tempo.

JAHANPOUR – O Brasil é grande e inteligente demais para ser usado. Lula não deve apoiar a produção de armas atômicas no Irã, mas sem dúvida pode ajudar a quebrar o gelo entre Teerã e o Ocidente. O Irã é um grande país do Oriente Médio e não pode ser excluído da equação regional. Quanto mais deixarem o Irã exercer seu papel natural de potência regional, menos extremista ele será. Se o mundo reconhecer a importância do Irã, será mais fácil negociar com o país. Pressão resultará em mais extremismo.

FOLHA – O Brasil crê na alegação do governo iraniano de que seu programa nuclear tem fins pacíficos. E o sr.?

JAHANPOUR – As indicações são de que o Irã pode estar avançando para o desenvolvimento de armas nucleares. Mas as maiores autoridades no assunto dizem que isso levaria pelo menos cinco anos. Se o Irã fizer um teste nuclear, isso não poderá ser tolerado. Mas dizer que o Irã está prestes a ter armas não é suficiente para puni-lo. Para produzir uma bomba e ter a capacidade de lançá-la, tudo indica que o Irã precisa de até mais que cinco anos. O que precisamos agora são negociações.

FOLHA – Lula deveria pedir um encontro com a oposição iraniana?

JAHANPOUR – Eu acho que sim. Em minha opinião a oposição venceu as eleições, mas teve sua vitória roubada. Um encontro com a oposição seria um bom gesto para mostrar que Lula não apoia Ahmadinejad, mas o povo iraniano.

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