sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ELEIÇÕES - A continuidade de uma luta interrompida.

A linha de continuidade de uma luta interrompida pelo golpe de 1964.

No excelente artigo O sentido histórico de uma candidatura (e de um programa), Marco Aurélio Weissheimer afirma sobre o primeiro programa eleitoral da candidatura Dilma Rousseff:

Dilma representa, portanto, a linha de continuidade de uma luta interrompida pelo golpe de 1964, retomada no processo de redemocratização e que hoje materializa-se em um governo com aproximadamente 75% de aprovação popular. Ela representa também a possibilidade de outras retomadas para fazer avançar a democracia brasileira. Em outras palavras, é uma candidatura com sentido histórico bem definido, um sentido que remonta a um período anterior inclusive ao golpe militar de 1964. Quando Dilma diz que olha o mundo com um olhar mineiro e que pensa o mundo com um pensamento gaúcho, não está fazendo um gracejo regionalista, mas sim retomando uma referência histórica que remonta à primeira metade do século XX e que, ainda hoje, causa calafrios nas elites econômicas e políticas de São Paulo.

Essa feliz relação, a construção, via Lula, de uma ponte entre Jango e Dilma me fez recordar um longo artigo, recheado de citações, do Fabrício P. da Silva para o site Gramsci e o Brasil. Em Os socialistas desarmados - memórias pecebistas de oposição à ditadura civil-militar, Fabrício "propõe analisar, a partir de depoimentos orais, a atuação ao longo da ditadura civil-militar (1964-1985) do partido de esquerda que iria iniciar aquela quadra histórica como o mais importante daquele período: o Partido Comunista Brasileiro (PCB).". Trata-se de uma revisão do papel da esquerda no pós-golpe e procura defender a atuação do PCB no período, em contraposição aos que "defendiam a superação da ditadura pelas armas". Mas antes dessa "revisão/defesa" propriamente dita, ele cita Gilvan Cavalcanti Melo falando sobre o papel da esquerda, do PCB, durante o governo João Goulard:

"A gente chegou até ao absurdo de considerar o Plano Trienal, elaborado pelo Celso Furtado na época, um plano conservador. Fruto da política de conciliação que o governo fazia com a grande burguesia. E os teóricos por coincidência dessa visão eram grande parte da Executiva Nacional do partido, que depois, na crise do pós-64, explicitaram suas posições mais à esquerda, que eram o Mário Alves, o [Carlos] Mariguella, o Jacob Gorender e outros. E tinha o grupo minoritário que era o Giocondo Dias, o Armênio Guedes, o chamado "grupo baiano", dos nordestinos, que eram mais pela abertura. Com essa complicação chegou o momento em que o próprio [Luiz Carlos] Prestes que era o fiador dessa política nossa, de vez em quando ‘vinha lá e vinha cá’.

Numa hora ele dizia que o governo Goulart era de esquerda, na outra dizia que tinha que dar combate à política de conciliação do Goulart. [...] no dia do golpe a gente já havia sofrido uma derrota política, o governo já estava praticamente isolado, em relação à esquerda estava totalmente isolado em função dessa fragmentação da esquerda. A esquerda aguçou a questão da conciliação do João Goulart, e partiu para achar que o Governo Goulart era a mesma coisa que qualquer outro governo. Não entendeu o que representava o Governo Goulart. Isso é uma coisa traumática para nós porque... eu sei que o movimento radical de esquerda não criou o golpe, mas ajudou, deu pretexto para que a direita criasse os elementos psicológicos, da chamada guerra psicológica, para isolar o Governo Goulart da classe média"

Para eles, "o Governo Goulart era a mesma coisa que qualquer outro governo". Qualquer semelhança com o hoje PPS, com os partidos de esquerda mais radicais e até com setores do PSDB, não é mera coincidência.


POSTADO POR ALEXANDRE PORTO no Blog do Alê.

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