Com a imagem de Lula, Serra confunde a oposição e a si mesmo.
Pedro do Coutto
Na reunião de emergência convocada pela direção do PSDB em São Paulo, diante da pesquisa do Datafolha que revelou 47 para Dilma Rousseff e 30 pontos para José Serra, este apesar da distância dos números, afirmou que não altera a estratégia usada até agora. E que acentua o repórter André Magnabosco, O Estado de São Paulo de 23 de agosto, vai manter na televisão a peça publicitária na qual incorpora a imagem de Lula à sua campanha eleitoral. A meu ver, comete um erro gravíssimo. Não apenas pela prática de uma divulgação ilusionista, mas também porque menospreza e até esbofeteia os candidatos do próprio PSDB, do DEM e do PPS que disputam governos estaduais, cadeiras no Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas.
Estes candidatos – pensem só os leitores – assumiram a condição de opositores de Lula nos contatos que mantiveram e vêm mantendo com o eleitorado. De repente, a figura maior da oposição se auto-retrata co lado do presidente da República e, ainda por cima, imprime uma legenda em que se lê: Serra e Lula, dois homens de história, dois líderes experientes. O que vão pensar disso os candidatos que estão com o ex-governador de São Paulo e os eleitores de modo geral? Desastre absoluto.
O PT – matéria de Vanildo Mendes, também no O ESP da mesma data – tentou obter liminar do TSE contra essa propaganda de Serra. Mas o Ministro Henrique Neves, relator do tema, negou-a sob o argumento – aliás precedente – que reclamar contra o uso da imagem só o próprio poderá arguir. Se Lula arguir, o que não acredito, já que no fundo os candidatos do PT, seu partido, e do PMDB são beneficiados indiretamente, Henrique Neves seguramente concederia a medida. Mas não foi isso que aconteceu. Não devemos passar dos fatos à suposições. Voltemos ao plano concreto.
Neste plano, efetivamente, o que Serra está causando com a intenção de não se afastar da absurda atitude, é provocar um desabamento das pilastras eleitorais que seus correligionários representam sustentando a candidatura deles nos estados e a dele no cenário nacional. Creio que este tema esteja esgotado. Passemos a outro também diretamente ligado às urnas de outubro.
Ainda na edição de segunda-feira, ontem, o jornalista José Roberto Toledo publicou artigo no Estadão, com base em índices do Datafolha sobre audiência dos horários eleitorais. Montou um gráfico ao lado do texto e esclareceu que ela está atingindo, em média, entre 32 a 33%. Índice altíssimo. Basta dizer que, pelo Ibope, como a Folha de São Paulo publica aos domingos, a novela Passione, da Globo, está dando 32 pontos. Esta taxa não pode ser subestimada. Trinta e dois por cento dos 58 milhões de telespectadores. E quando se fala em horário eleitoral tem que se levar em consideração um aspecto essencial.
É que enquanto 32 pontos de Passione podem ser preenchidos diariamente pelas mesmas pessoas, a audiência da propaganda gratuita varia. Uns assistem na segunda, outros na quinta, outros no sábado. No fim, todo o eleitorado do país está abrangido pela TV. Trinta e dois por cento não quer dizer, isso sim, que parcelas de eleitores substituem-se entre si. Alguém chega em casa e liga a televisão. No mesmo momento, alguém tira o carro da garagem e sai. É uma rotatividade abrangente no final. Até porque o eleitorado corresponde a dois terços da população. Se o horário político atinge 33 pontos, alcança metade desse eleitorado. Cinquenta e cinco milhões de pessoas: alguém pode falar com 55 milhões? Só pela TV, a aldeia global de Mc Luhan.
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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