terça-feira, 24 de agosto de 2010

GETÚLIO VARGAS - A Carta Testamento, mais atual do que nunca.

Tinha 14 anos e fazia parte de uma família de lacerdistas leitores da Tribuna da Imprensa.Me lembro como se fosse hoje e já se passaram 56 anos, a fala do Heron Domingues, no Repórter Esso, anunciando a morte do Getúlio. Minha família soube respeitar essa tragédia ao contrário de muitos lacerdistas da época.Eu, que já gostava de política, era a ovelha negra de casa. Acompanhava a campanha do Petróleo é Nosso e tive um choque com o suicídio do Getúlio, pelo qual tinha grande admiração. Meu choque inicial se transformou em indignação e saí para rua direto para a rua do Lavradio, onde ficava o jornal Tribuna da Imprensa, onde uma multidão estava atacando esse jornal e a eles me aliei.Foi um momento marcante na minha vida como foi também minha militância no movimento estudantil na luta contra a ditadura. Até hoje fico arrepiado ao me lembrar das passeatas dos 100 mil.
As mesmas forças que combateram o Getúlio na década de 50, reunidas em torno do PSD e UDN, estão hoje transfiguradas em PSDB e DEM e lutam mais uma vez contra as aspirações populares e nacionalistas do povo brasileiro.É a elas que mais uma vez, no alto dos meus 70 anos que me oponho.
PS. tal carta deveria ser leitura obrigatória em todas as escolas brasileiras.
Carlos dória

CARTA TESTAMENTO


Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

Nenhum comentário: