Avenida Atlântica, termômetro para desfecho da eleição.
Pedro do Coutto
O presidente Lula, a candidata Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral, de acordo com o que o PT noticiou no espaço eleitoral, vão sair em passeata, domingo pela manhã, percorrendo a Avenida Atlântica, do Posto Seis em direção ao Leme. Tem início marcado para as 9 horas e significa a primeira e mais forte incursão da chapa PT-PMDB num reduto de renda alta, no qual, segundo a recente pesquisa do Datafolha, publicada na edição de 21 de agosto da FSP, Rousseff encontra-se atrás de Serra.
No geral, ela alcançou 47 contra 30 pontos. Mas nas classes A/B, que possuem presença expressiva nas areias de Copacabana, Ipanema e Leblon, ela perde por 41 a 28. Ela lidera aquela pesquisa de intenção de voto, como também as do Ibope, Vox Populi e Sensus, porque encontra-se disparada nas classes de renda menor. Como é tradicional, ao longo do tempo, as classes de melhor rendimento têm uma posição diversa das de remuneração mais reduzida. Esta divisão, entretanto, que observei no meu livro “O Voto e o Povo”, de 1966, tem se tornado menos nítida com o passar do tempo. Nesta sucessão presidencial, contudo, ainda está acontecendo segundo acentua a empresa da Folha de São Paulo.
Exatamente por isso é que sustento ser a Avenida Atlântica na manhã de domingo um termômetro essencial. As previsões até agora apontam bom tempo, portanto praia cheia, não lotada porque estamos no inverno, mas cheia. O termômetro, no caso, terá dois ponteiros: os que estiverem ao nível da rua e os que assistirem de suas varandas e janelas. Se a recepção a Dilma for positiva, podem acreditar, o rumo do pleito estará decidido. Vencerá no primeiro turno, da maneira com que Elena, minha mulher, foi a primeira a perceber. Antes de mim.
Mas porque atribuo tanta importância a um só reduto eleitoral? Hão de perguntar os leitores. É porque Copacabana é um bairro síntese da tendência das classes A/B. Se ela vibrar com Lula e Dilma é sinal que a ex-chefe da Casa Civil fechou o círculo a seu favor em todos os segmentos sociais. Ela já tem os de renda mais baixa. Se elevar pelo menos sua penetração nos de rendimento mais alto, José Serra ficará sem liderança em qualquer grupo sócio econômico. Da mesma forma que, no momento, exceto no Sul, perde em todas as regiões do país.
Assim, a Copacabana cantada nos versos imortais de Braguinha e Alberto Ribeiro, interpretação de Dick Farney e Lúcio Alves, pode se transformar também na bússola que aponta para o planalto no alvorecer de 2011, data da posse dos eleitos pelas urnas de outubro.
Há na História do Brasil precedentes. Um deles, contudo, o mais importante e decisivo de todos. Junho de 1945, chegada ao Brasil do primeiro escalão da FEB que lutou bravamente nos campos da Itália. Na companhia de meu avô, o historiador Pedro do Coutto, estava com minha bandeira nas mãos. Em frente ao antigo JB, calçada repleta.
Vargas, então ditador desde 37, saiu do Catete e foi à Praça Mauá esperar os heróis. Entrou na Avenida Rio Branco a partir do Obelisco, mão oposta a que hoje é adotada. Carro aberto. Foi a maior ovação a um político no Brasil. Um homem frio, na ocasião emocionou-se. Acenava para a multidão. A ditadura chegava ao fim. Mas ele, Vargas, manobrava para ser candidato. Tal movimento tinha adeptos. Muitos. Mas ao verem a aclamação, de parte da classe média no alto dos edifícios, seus adversários sentiram que nas urnas perderiam. Se ele estava bem na classe média, que diria junto ao povão? O 29 de outubro nasceu ali, no início de Junho. Foi deposto. Getúlio Vargas não pôde ser candidato a presidente. Porém elegeu-se senador por São Paulo e Rio Grande do Sul e deputado por cinco estados.
A Rio Branco foi o termômetro da época.
Fonte:Tribuna da Imprensa.
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