Acho que o BNDES só deveria emprestar para as empresas brasileiras. As multis depois mandam para fora,principalmente em forma de remessas de lucros, às vezes, mais do aplicaram aquí.
carlos dória
Múltis pegam empréstimos no BNDES e trazem menos dólares para o País
Com as matrizes em dificuldades financeiras e o mercado externo ainda complicado por causa da crise, as multinacionais estão recorrendo mais ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e trazendo menos dólares ao País para financiar seus projetos.
A reportagem é de Raquel Landim e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 29-08-2010.
Os empréstimos do BNDES para empresas de capital estrangeiro dobraram de R$ 9,8 bilhões em 2007 para R$ 20,4 bilhões em 2009, conforme informações fornecidas pelo banco. Em 2008, foram R$ 14,6 bilhões. Entre janeiro a julho deste ano, os desembolsos para multinacionais ficaram em R$ 8,6 bilhões.
Uma consulta ao site do BNDES revela algumas operações. Nos últimos 12 meses, o banco emprestou R$ 300 milhões ao francês Carrefour e R$ 400 milhões à italiana TIM para capital de giro. A alemã Mercedes-Benz também levantou R$ 1,2 bilhão para ampliar sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP). A também alemã Volkswagen recebeu R$ 642 milhões nos últimos 12 meses. Entre 2009 e 2014, a montadora investirá R$ 6,2 bilhões, 38% com dinheiro do BNDES.
A americana Cargill conseguiu R$ 160 milhões no banco estatal - o equivalente a um quarto do que a empresa de alimentos vai investir em novas fábricas em Primavera do Leste (MT) e Uberlândia (MG). Procuradas pelo Estado, as empresas confirmaram os empréstimos, mas não deram entrevista.
O BNDES informou que a legislação não permite discriminação entre empresas de capital nacional e companhias estrangeiras instaladas no Brasil. As multinacionais, no entanto, não receberam tratamento especial. A participação dessas empresas na carteira do banco se manteve entre 15% e 16% nos últimos três anos. De janeiro a julho, está em 12%. A perspectiva da área econômica do banco é de queda este ano em relação aos 16% de 2009.
O fato é que o bolo cresceu tanto que sobrou mais dinheiro para todo mundo, nacionais ou estrangeiros. Graças aos R$ 180 bilhões que recebeu do Tesouro, o BNDES elevou significativamente seus empréstimos e ajudou a blindar o País da crise.
Em 2007, os financiamentos totais do banco estatal estavam em R$ 64,9 bilhões. Saltaram para R$ 91 bilhões em 2008 e para R$ 136 bilhões no ano passado (o dobro de 2007). De janeiro a julho deste ano, foram desembolsados R$ 72,7 bilhões.
Segundo Fernando Pimentel Puga, chefe do departamento econômico do BNDES, a carteira de crédito cresceu porque o Brasil está investindo mais em infraestrutura, que demanda financiamentos de longo prazo, e por conta da ação anticíclica do banco. "Não tem relação com uma eventual maior demanda por crédito das multinacionais."
Vulnerável
Para economistas do mercado, o crescimento significativo de recursos do BNDES garantiu os investimentos, contribuindo para elevar a oferta de produtos e controlar a inflação. Mas teve um efeito colateral, que é ajudar a reduzir a entrada de investimento estrangeiro produtivo, o que deixa o País mais vulnerável ao capital volátil para fechar suas contas.
"A agressividade do BNDES minimiza a necessidade de as empresas buscarem parceiros no exterior para realizar investimentos", disse Julio Callegari, economista do JP Morgan.
"Parte dos investimentos das empresas estrangeiras está sendo feita com recursos do BNDES", disse Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
Pelas projeções do Banco Central, o investimento estrangeiro direto não vai cobrir o déficit externo brasileiro, em conta corrente, pela primeira vez desde 2001. O BC estima US$ 49 bilhões de déficit e um ingresso líquido de investimento estrangeiro direto de US$ 38 bilhões.
Isso significa que o País vai depender da entrada de pelo menos US$ 11 bilhões em investimentos em ações e renda fixa para fechar as contas. Nada preocupante, por enquanto, dada a magnitude de capitais especulativos que o Brasil vem atraindo.
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