quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MÍDIA - Tão Gomes: "O dia em que a revista Veja "Dilmou"

Do site "Pragmatismo Político".

O que está por trás dos elogios da Veja à Dilma?


Faz tempo deixei de ler a revista Veja. Mas continuo assinante em função do fantástico mecanismo de re-assinatura automático, que entra em ação caso você não se dê ao trabalho de telefonar para a revista.

Telefonar já exige algum esforço. Ainda mais quando se sabe que antes de conseguir seu objetivo terá de passar por um robô de delicada voz feminina que lhe dará instruções de altíssima complexidade para chegar ao ramal desejado e poder finalmente estabelecer um diálogo com um ser humano e manifestar seu desejo: eu quero cancelar a assinatura da revista, pô!
Assim, a pilha de Vejas não lidas vai aumentando semana a semana.

Quando chega a incomodar o visual do meu escritório doméstico, lixo com elas. Desde que a internet chegou em casa, o mesmo acontece com os jornais.

Apenas com mais frequência porque são diários. Ah… sim.

Dos jornais eu ainda leio alguma coisa. O caderno de esportes, por exemplo.

Da Veja, abro o envelope apenas para ver qual o assunto de capa. E esta semana, uma surpresa…Jack Nicholson na capa!

Ledo engano, como se dizia antigamente. O Jack Nicholson da capa era o ministro da Agricultura, cujo nome a revista, talvez para manter a ilusão de que se tratava do ator, sequer menciona. Apenas agrega à foto o título, “A praga da corrupção”, seguida de uma série de falcatruas, como se tivessem algo a ver com o velho Jack e seu sorriso cínico de “As Bruxas de Eastwick”

Talvez em função da surpresa provocada pela capa, o fato é que resolvi dar uma folheada rápida na revista…e caio exatamente na Carta ao Leitor…Uau!

Um novo impacto, dessa vez mais chocante. O título: Toda força à presidente.

No rodapé, ao lado de uma foto da presidenta uma recomendação: “que ela continue a limpar a administração pública dos corruptos que a infestam por causa do loteamento político”.


Não me ocorre tratamento tão generoso à Dilma Rousseff feito por Veja, a ponto de convocar seu exército de leitores a apoiar a chefe de governo tão ostensivamente. Veja não mudaria sua postura assim de um dia para o outro. E Dilma, é bom lembrar, foi eleita pelo partido presidido pelo ‘apedeuta’ Lula da Silva. Também não dou crédito aos que sempre veem por baixo dos panos manobras urdidas para desestabilizar o governo, provocando um racha interno.

A força que Veja pede aos seus leitores seja dada à ‘tia’ Dilma (é assim que costumo trata-la no meu blog, sem nenhum desrespeito, muito pelo contrário, com carinho) me faz voltar ao passado. Ao dia em o ‘seu’ Frias, o pai, dono da Folha de S. Paulo, passou aos seus redatores (eu era um deles) a seguinte ordem: ” A partir de amanhã, eleições diretas na primeira página, haja ou não notícia”.


Foi uma brilhante jogada de marketing que transformaria a Folha, na época até sob suspeita de ser “colaboracionista”, no veículo-referência da campanha pela redemocratização. Decisão tomada em agosto ou setembro de 1983, enquanto a Campanha Diretas Já só tomaria corpo a partir do comício da Praça da Sé, em 25 de janeiro de 1984.

‘Seu’ Frias percebeu que o chamado ‘sistema’ chegara ao seu limite, estava agonizante e decidiu desafiá-lo. Talvez alguém na Veja tenha percebido que a corrupção de fato extrapolou e aproveite o momento para uma necessária e urgente revisão da agressiva linha editorial da revista. Uma decisão puramente mercadológica, mas com desdobramentos positivos para o país.

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