quarta-feira, 31 de agosto de 2011

POLÍTICA - PSDB descarta "Alckmin paz e amor"

Para tucanos, historicamente hostis ao PT e aos movimentos sociais, reuniões do governador com sindicalistas, reajustes salariais e elogios a Dilma são apenas fruto da conjuntura

Por: João Peres, Rede Brasil Atual

A nova postura de Alckmin tenta sugerir uma hostilidade menor com o governo federal


São Paulo – Reuniões com centrais sindicais, aumento salarial para algumas categorias profissionais do serviço público, elogios à presidenta Dilma Rousseff e integração de políticas. Geraldo Alckmin (PSDB) vive o nono mês de seu terceiro mandato como governador de São Paulo em um panorama diferente do que os paulistas acostumaram-se ver nas gestões do PSDB no estado.

O encontro de lançamento do programa Brasil Sem Miséria - Sudeste, com afagos a Dilma, foi o sinal mais marcante de que uma possível versão "paz e amor" do governador. Ao mesmo tempo, uma demonstração de esforço para se descolar de vez de seu principal desafeto dentro do partido, José Serra, cuja postura era sempre de hostilidade com o governo federal e de trator em relação aos movimentos sindicais e sociais.

Na bolsa de apostas da política, há quem enxergue na versão 2011 de Alckmin, além de um chega pra lá em Serra, uma forma de oposição no plano federal à lá Aécio Neves (PSDB-MG), o senador mineiro que aparece de vez em quando, faz uma crítica pontual, moderada, e volta para a moita. A aproximação com o Palácio do Planalto também poderia ser útil para viabilizar recursos agora e uma maior visibilidade eleitoral depois.

Parlamentares do PSDB desconversam. Argumentam que o governador está apenas respondendo a uma nova conjuntura, esta, sim, marcada por uma estabilidade econômica mais duradoura e uma nova titularidade em Brasília.

Fora isso, o governo já antecipou a diversas categorias reajustes salariais aplicados a prestação, nos próximos anos.

Em seu mandato anterior, e também nos quatro anos de José Serra/Alberto Goldman, havia imperado a política de aumentos pífios e diálogo zero. No caso dos professores, ganhou destaque as fórmulas atreladas a desempenho e méritos, sem incorporação ao salário.


Aumentos concedidos em 2011 em São Paulo

42,2% nos próximos quatro anos para professores
De 13% a 19% para os servidores da saúde
15% para policiais militares e agentes penitenciários

“Em cada governo você tem metas e desafios a serem superados", afirma Duarte Nogueira, líder do PSDB na Câmara dos Deputados. Nogueira considera que o estado estar bem de infraestrutura abre espaço para um o "arcabouço institucional" modernizado e para se "investir em capital humano". Mas o líder evita comparar Serra e Alckmin, ou o mandatos atual com anteriores.

Para Samuel Moreira, líder do governo na Assembleia Legislativa paulista, a questão é que no mandato de Serra houve muito mais pressões por recomposição salarial.“O diálogo no governo Serra foi até onde foi possível”, diz o parlamentar. Ele discorda da leitura de que o Palácio dos Bandeirantes esteve, até este ano, fechado ao diálogo. “Tivemos em 2009 crescimento zero do país”, justifica-se. Mas sem menção ao fato de em 2007, 2008 e 2010 o país ter alcançado bons índices de crescimento e de arrecadação, sem impactos nos rendimentos dos servidores.

Durante os mandatos anteriores, acumularam-se acusações de que os representantes do governo estadual se negaram a receber sindicalistas. Eram mais recebidos, em suas manifestações, pela Polícia Militar. Logo depois de eleito, ano passado. Alckmin chamou representantes da Força Sindical e da União Geral dos Trabalhadores (UGT) para uma conversa. A CUT, maior central do país, ficou de fora.

Em seguida, convidou para a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho Davi Zaia, do PPS, ex-dirigente do sindicato dos bancários de Campinas e da federação dos bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul – adversária da CUT no estado. Neste ano, o governador foi à celebração do Dia do Trabalho da Força, ocasião em que afirmou que sempre valorizou “mais o trabalhador do que o capital".

Samuel Moreira admite que o movimento do governador foi uma tentativa de se aproximar da Força, e por tabela do PDT de Paulo Pereira da Silva, mas nega tratar-se de uma tentativa de azedar a relação entre as duas centrais historicamente opostas, que sentarem-se como nunca à mesma mesa, no governo Lula, para negociação de temas como os reajustes do salário mínimo. A ponto de o PDT incorporar-se de vez à base aliada do governo Dilma. E Moreira não acredita, também que Alckmin terias interesse em pôr o pé da política estadual na porta dessa aliança nacional. “Não é uma estratégia: essas coisas acontecem.”

Dilma e elogios

Em política, elogios nem sempre são uma maneira de agradar. Às vezes, ressaltar qualidades de alguém significa criticar defeitos de outrem. O noticiário, por exemplo, consegue dar à recente troca de afagos entre Alckmin e do ex-presidente FHC a Dilma uma forma de atingir José Serra e, principalmente, Luiz Inácio Lula da Silva – o líder a ser batido em 2014.

Dilma por sua vez, frequentemente "acusada" de ser uma boa gestora que não sabe fazer política, teria aproveitado o ensejo para enviar recados a alguns partidos de sua base "aliada" que andam cobrando menos guerra de investigações em ministérios e autarquias e mais amor, atenção e verbas. “Provemos que a melhor forma de administrar é buscar o bem de todos os brasileiros”, cobrou.

Para deputados alinhados e desalinhados ao Planalto, não há motivo para enxergar segundas intenções nos elogios de grão-tucanos à presidenta. Seriam apenas declarações circunstanciais, durante o lançamento no Sudeste do Programa Brasil sem Miséria, carro-chefe dos planos de governo de Dilma, e em torno do qual todos os governadores da região firmaram participação concreta e integração imediata às iniciativas federais. “Acho que tem de elogiar mesmo a atitude da presidenta”, diz Ênio Tatto, líder do PT na Assembleia Legislativa. “Nada melhor que juntar esforços para resolver esse problema tão grave.”

O deputado Fernando Capez, do PSDB, entende que a convivência entre Dilma e Alckmin deve ser um modelo para a política brasileira. Ele considera que a gestão deve se dar em torno de questões técnicas, e não partidárias. Provocado a comparar a atual relação estado-Planalto com as relações entre Serra e Lula, Capez, não deixa de sugerir que a diferença pode ter origem nos processos de escolha dos tucanos derrotados à Presidência nas eleições anteriores – Alckmin em 2006 e Serra em 2002 e 2010. “Quando há disputas personalistas em que a visão de cada um suplanta a do próprio partido, isso é muito ruim”, define.

O líderes tucanos tanto na Assembléia Legislativa quanto na Câmara Federal, demostram que o discurso visando poupar Dilma e desconstruir Lula está afinado, e que a sombra do bem-sucedido ex-presidente perturba mais o PSDB do um eventual sucesso da presidenta. Duarte Nogueira, reitera que não vê mudanças no comportamento do Palácio dos Bandeirantes. Para ele, a mudança se deu em Brasília. “Lula é uma pessoa do rompimento, de fazer a política do contraste e da diminuição de seu adversário.” Samuel Moreira concorda, argumenta que Dilma tem “capacidade intelectual melhor”, embora mas vê “vaciladas” da presidenta. “De vez em quando ela tem uma recaída de achar que o país só teve sucesso agora, nunca teve melhora. Aí estreita um pouco.”

O petista Ênio Tatto concorda que houve mudanças, mas em São Paulo, e não na capital federal. Para ele, o fechamento de Serra à conversa prejudicou o estado na relação com Brasília, e Alckmin adotou outra postura. “Tomara que continue assim, porque São Paulo já perdeu muito dinheiro por falta de fazer convênios com o governo federal.”

Políticos ligados ao governador discordam que ele tenha adotado uma linha mais branda. Apensa gostam de repetir a máxima de que política é corrida de revezamento, e o corredor que assume o bastão precisa ir melhor que o anterior. Longe deles considerar que Alckmin seja apenas um pacato candidato com um olho na reeleição em 2014 e outro em cacifar-se com menos riscos para a disputa do bastão federal em 2018 – se as regras e o calendário não mudarem até lá.

Tatto, por sua vez, lembra que os tucanos teriam de "combinar com os russo", pois a corrida de bastão é complexa . “Até lá tem muita coisa pela frente. Vamos para a reeleição da Dilma e depois vamos tentar fazer a sucessão da Dilma com um candidato do PT.”

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