O vínculo do alto comando da ditadura com as torturas
Enviado por luisnassifPor Marco Antonio L.
Da Rede Brasil Atual
Audiência pública mostra vínculo do alto comando da ditadura com torturas e mortes
Ex-militante conta na Comissão da Verdade da cidade de São Paulo como foi libertada do DOI-Codi em 1975, após visita do general comandante do 2° Exército, seu primo por Eduardo Maretti, da RBA publicado 20/05/2013 18:37, última modificação 20/05/2013 18:57 Mozart Gomes. Câmara Municipal
Sarita afirmou que, depois que seu tio passou pelo local, os militares passaram a oferecê-la privilégios
São Paulo – A ex-militante do Partido Comunista Brasileiro Sarita
D'Ávila Mello contou hoje (20), na Comissão da Verdade municipal de São
Paulo, que a presença de seu primo, o general Ednardo D’Ávila Mello,
então comandante do 2º Exército, foi determinante para sua soltura do
DOI-Codi, onde ficou por cerca de dez dias. Sarita foi solta numa
sexta-feira, 24 de outubro de 1975, um dia antes da chegada do
jornalista Vladimir Herzog ao local. Herzog foi assassinado no dia
seguinte.O general Ednardo era primo do pai dela, Newton Nunes D’Ávila Mello. “A intenção desta audiência foi mostrar a interferência direta do comandante do Segundo Exército, fardado, dentro do sistema da repressão”, explicou o presidente da Comissão da Verdade, vereador Gilberto Natalini (PV), durante o evento na Câmara Municipal, no centro da cidade. “A tortura, portanto, não era feita por loucos sem comando. O general Ednardo foi lá pessoalmente para evitar que uma parente sua fosse torturada como os outros presos.”
Sarita relatou que o general Ednardo D’Ávila Mello chegou à sala quando ela estava começando a receber choques elétricos. “Quando vi o general, pensei que fosse meu pai, por serem parecidos”. Segundo ela, o general pediu aos torturadores que preservassem a vida da moça. Ele teria solicitado ainda aos que a custodiavam que dessem um suco de laranja a ela. Sarita afirmou ter recusado aceitar o suco se suas companheiras de prisão também não recebessem o "privilégio". À tarde, relatou, ela e todas as suas colegas de prisão receberam leite com café e pão com manteiga.
Hoje professora de História, Sarita D'Ávila Mello contou que foi presa em casa e que preferiu não fugir, mesmo ao chegar em casa e encontrar a polícia. Ela diz que foi ao DOI-Codi com o pai sob o pretexto de que iria apenas prestar depoimento, mas, ao chegar lá, o pai foi dispensado.
De acordo com Sarita, no dia seguinte à sua prisão seu pai conseguiu falar com o comandante do Segundo Exército. “Meu pai disse a ele: ‘Não quero me meter no trabalho de vocês’, e pediu ao primo para que a minha vida fosse preservada”, lembrou. Depois da visita do tio às dependências do DOI-Codi, contou, não foi mais interrogada. Lembrou também que ficou encarcerada ao lado da sala em que pessoas eram torturadas e que ouvia gritos e música sertaneja em volume alto.
No depoimento na Câmara, ela se dirigiu aos jovens presentes à audiência para dizer que “corrupção existia também na ditadura, como hoje, mas a diferença é que na ditadura tudo ia para baixo do tapete”. “Na ditadura – acrescentou –, só se discutia e se fazia isso que estamos fazendo aqui, hoje, na clandestinidade.” Para Sarita, os militares que participavam da repressão eram “cães raivosos”. A ex-militante disse que nunca mais militou depois de sua prisão e libertação.
O advogado Belisário dos Santos Junior, que atuou na defesa de ex-presos políticos, disse que o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979) foi o período em que mais houve assassinatos da ditadura brasileira (1964-1985). "Não se pode esquecer que esse aparato de cães raivosos era formado por homens que tinham família e filhos. Jorge Rafael Videla comungava todos os domingos. O lugar onde Sarita esteve foi emprestado pelo governo Paulo Maluf ao 2º Exército”, disse Santos Junior, em referência ao ditador argentino e ao ex-governador biônico, que cedeu em 1978, por decreto, o prédio onde Sarita esteve presa.
A foto de Herzog
A Comissão da Verdade da Câmara Municipal recebe, na semana que vem, o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, que atualmente mora nos Estados Unidos. Vieira fez a famosa foto de Vladimir Herzog morto na cela em 1975. Na época com 22 anos, ele trabalhava para a Polícia Civil e a imagem foi resultado de uma “aula prática”.
Vieira visitará o antigo prédio do DOI-Codi com uma comissão de vereadores na segunda-feira (27) e, na terça, dará seu depoimento em audiência pública na Câmara. Ambos os eventos serão às 11h.
O vereador Natalini contou que a comissão está tentando o depoimento de Delfim Netto, ministro da Fazenda durante o regime autoritário, para tentar mostrar a versão civil da ditadura e mostrar os empresários que financiavam os militares. A comissão ainda não obteve retorno de Delfim.
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