Após a batalha naval da MP dos Portos, que deixou a base conflagrada e a articulação política do governo em frangalhos, parece que a presidente Dilma Rousseff resolveu mudar radicalmente de estratégia neste ano pré-eleitoral.
Presidente pode muito, mas não pode tudo, deve ter concluído a presidente depois das noites insones provocadas por líderes da sua própria base aliada, comandados pelo indomável Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro, que já havia mostrado disposição, em artigo publicado na "Folha", para enfrentar o governo novamente também na questão da MP da Mineração.
Claro que não foi só por isso, mas a sequência de confrontos no Congresso em que a presidente compra muitas brigas com muita gente ao mesmo tempo mostrou que não valia continuar dando murro em ponta de faca. Assim, Dilma achou melhor desistir de enviar ao congresso o novo código de mineração. Se e quando retomar a proposta, deverá faze-lo em forma de projeto de lei e não mais por medida provisória, que dá um prazo de apenas 120 dias para a discussão na Câmara e no Senado.
Da mesma forma, o governo também já havia desistido de discutir agora a proposta para aliviar a dívida dos Estados e municípios (em seu relatório, Cunha havia reduzido algumas dívidas em até 45%), e também de levar adiante agora a questão das mudanças nas alíquotas do ICMs para evitar a guerra fiscal.
Se o presidente do Senado, Renan Calheiros, cumprir a palavra de não votar textos de MPs vindos da Câmara sem recebe-los com sete dias de antecedência, outras quatro deverão caducar proximamente, e parece que o governo não tem o menor interesse no momento em apressar a sua discussão.
Às vésperas de embarcar na noite desta quinta-feira para uma viagem à Etiópia, junto com os ministros Aloisio Mercadante e Fernando Pimentel, seus fieis conselheiros políticos, a presidente Dilma dava a impressão de estar cansada desta guerra no Congresso e mais interessada em cuidar do combate à inflação, a principal bandeira escolhida por Aécio Neves, o provável candidato presidencial tucano.
O mais importante agora é saber quem vai ficar no lugar de Nelson Barbosa, o segundo homem do Ministério da Fazenda, que pediu demissão, depois de bater de frente com Guido Mantega por ter alçado vôo próprio na interlocução com a presidente Dilma.
Saber quem vai para o lugar de Barbosa e quais serão as próximas medidas a serem tomadas pelo governo no combate à inflação são certamente prioridades mais importantes para o governo neste momento do que enviar qualquer projeto polêmico ao Congresso, onde o clima não continua bom.
O maior sinal disso é a desistência na última hora da presidente Dilma de participar de um jantar com os caciques do PMDB no Palácio do Jaburu, onde o vice Michel Temer reuniu os rebelados de várias latitudes do seu partido. Até o final do ano, pelo jeito, não teremos mais nenhuma votação polêmica no Congresso como foi a MP dos Portos e, certamente, isto também não acontecerá durante a campanha eleitoral do próximo ano.
Passando a régua, pode-se concluir que, em matéria de reformas e mudanças, especialmente na política tributária, a presidente Dilma dá por finda sua tarefa neste primeiro mandato _ até para não comprometer a montagem das suas alianças na disputa pela reeleição.
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