24 de maio de 2013
É um erro imaginar que os privilegiados lucram com a iniquidade.
Escrevi há alguns meses para a Exame um artigo sobre um tema que provoca nervosas, apaixonadas, raivosas discussões mundo afora neste momento: a desigualdade social, um processo que ganhou velocidade galopante nas últimas três décadas.
Vejo, satisfeito, que a BBC foi a fundo no assunto, e preparou um documentário chamado “The Wealth Gap” – a disparidade da riqueza, numa tradução livre.
Onde a iniquidade mais se manifesta é nos obcenos salários dos CEOs, os presidentes de empresas. Peter Drucker, o papa da moderna administração, dizia que a relação entre o salário de um presidente e o da média dos funcionários não poderia ser superior a 25 para 1. Ou então se rompiam coisas fundamentais para o sucesso de um empreendimento, como o sentimento de time.
Na Viacom, multinacional americana, o CEO em 2010 ganhou quase 2 000 vezes mais que a média dos empregados: mais de 80 milhões de dólares. Há muitos outros casos. Um levantamento do Senado americano mostrou que a renda do 1% mais rico dos Estados Unidos cresceu 275% entre 1979 e 2007. Os 20% de baixo da tabela viram sua renda crescer apenas 18%.
Na Inglaterra, atingida por uma crise econômica persistente, os salários dos CEOs das 100 maiores empresas listadas na Bolsa de Valores de Londres cresceram mais de 40% no ano passado – numa desconexão completa com o panorama do país.
Como os governos podem pedir sacrifícios à população quando uma elite ganha mais dinheiro que nunca e comanda uma concentração de renda absurda e injusta?
Uma das reações a esse quadro está na série de protestos que se espalharam pelo mundo sob o guarda-chuva do imperativo “Ocupe”. Os 99% estavam dizendo basta ao 1% ganancioso que se beneficia de sua proximidade com o poder para extrair vantagens indecentes.
Constato que a BBC mudou de tom em relação aos protestos. Os manifestantes que acampavam em frente da Catedral de São Paulo, em Londres, eram chamados, antes, de “anticapitalistas” pela BBC. Depois, a BBC reconheceu que os protestos são contra a “ganância” corporativa e executiva.
Desigualdade em excesso gera mais crimes, mais insegurança etc etc. Por isso o tema é de interesse público, a despeito de ideologias. Estudos mostram que em países onde a diferença é menor, como no Japão e na Escandinávia, a vida é melhor – para todos, ricos e pobres. Um estudo do epidemiologista Richard Wilkinson que mostra isso tem sido intensamente lido e debatido por homens públicos nos países ricos. (Aqui, você pode ver um vídeo em que Wilkinson expõe suas idéias, com legendas disponíveis em várias línguas, incluído o português.)
Reduzir as desigualdades sociais é provavelmente o maior desafio do mundo moderno. Ou os governantes se mexem ou os próximos tempos serão plenos de tumultos, porque a paciência e a resignação dos excluídos têm limite — e isso ao longo da história já se manifestou em coisas como reis guilhotinados.
Escrevi há alguns meses para a Exame um artigo sobre um tema que provoca nervosas, apaixonadas, raivosas discussões mundo afora neste momento: a desigualdade social, um processo que ganhou velocidade galopante nas últimas três décadas.
Vejo, satisfeito, que a BBC foi a fundo no assunto, e preparou um documentário chamado “The Wealth Gap” – a disparidade da riqueza, numa tradução livre.
Onde a iniquidade mais se manifesta é nos obcenos salários dos CEOs, os presidentes de empresas. Peter Drucker, o papa da moderna administração, dizia que a relação entre o salário de um presidente e o da média dos funcionários não poderia ser superior a 25 para 1. Ou então se rompiam coisas fundamentais para o sucesso de um empreendimento, como o sentimento de time.
Na Viacom, multinacional americana, o CEO em 2010 ganhou quase 2 000 vezes mais que a média dos empregados: mais de 80 milhões de dólares. Há muitos outros casos. Um levantamento do Senado americano mostrou que a renda do 1% mais rico dos Estados Unidos cresceu 275% entre 1979 e 2007. Os 20% de baixo da tabela viram sua renda crescer apenas 18%.
Na Inglaterra, atingida por uma crise econômica persistente, os salários dos CEOs das 100 maiores empresas listadas na Bolsa de Valores de Londres cresceram mais de 40% no ano passado – numa desconexão completa com o panorama do país.
Como os governos podem pedir sacrifícios à população quando uma elite ganha mais dinheiro que nunca e comanda uma concentração de renda absurda e injusta?
Uma das reações a esse quadro está na série de protestos que se espalharam pelo mundo sob o guarda-chuva do imperativo “Ocupe”. Os 99% estavam dizendo basta ao 1% ganancioso que se beneficia de sua proximidade com o poder para extrair vantagens indecentes.
Constato que a BBC mudou de tom em relação aos protestos. Os manifestantes que acampavam em frente da Catedral de São Paulo, em Londres, eram chamados, antes, de “anticapitalistas” pela BBC. Depois, a BBC reconheceu que os protestos são contra a “ganância” corporativa e executiva.
Desigualdade em excesso gera mais crimes, mais insegurança etc etc. Por isso o tema é de interesse público, a despeito de ideologias. Estudos mostram que em países onde a diferença é menor, como no Japão e na Escandinávia, a vida é melhor – para todos, ricos e pobres. Um estudo do epidemiologista Richard Wilkinson que mostra isso tem sido intensamente lido e debatido por homens públicos nos países ricos. (Aqui, você pode ver um vídeo em que Wilkinson expõe suas idéias, com legendas disponíveis em várias línguas, incluído o português.)
Reduzir as desigualdades sociais é provavelmente o maior desafio do mundo moderno. Ou os governantes se mexem ou os próximos tempos serão plenos de tumultos, porque a paciência e a resignação dos excluídos têm limite — e isso ao longo da história já se manifestou em coisas como reis guilhotinados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário