sexta-feira, 31 de maio de 2013

POLÍTICA - Extrema direita em ação.

Extrema-direita usa Faroeste Caboclo contra ex-presidente Lula

Jornal Correio do Brasil

O filme veiculado no Youtube com a paródia a Faroeste Caboclo é realizado com técnicas aprimoradas de edição e design
Em uma nova ação orquestrada de setores articulados da extrema-direita brasileira, a estreia do filme Faroeste Caboclo, que chegou às telas dos cinemas nesta quinta-feira sob a direção de René Sampaio, em seu filme de début na carreira, foi bombardeada nas redes sociais por um vídeo que parodia a música do legionário urbano Renato Russo.
A peça publicitária, com traços de uma produção em estúdio e evidente esmero na edição, ainda que apócrifo, não chega a ser um hit de público e contava, até o fechamento desta matéria, com 3,6 mil acessos em 20 dias de exposição, na média de apenas 180 visitas por dia.
“Não podemos negar, nota 10!!… para criatividade, capacidade artística e até senso de humor! É uma grande pena que o senso crítico e político seja inversamente proporcional. Realmente, é triste ver pessoas tão capazes, talentosas, bem nutridas, altamente escolarizadas se deixando ser manipuladas pelo Grupo 1º de Abril e Rede Globo! Tem que ler muita Veja e assistir muito Bom(?) Dia Brasil para adquirir esse conteúdo!”, afirmou o internauta João Naleto, em um dos pouco mais de 20 comentários publicados na página do YouTube, na maioria que segue nessa mesma linha.
Ainda assim, o filho do autor, Giuliano Manfredini, ingressou com um pedido na Justiça para que a peça publicitária da extrema-direita fosse retirada do ar, o que deverá ampliar os níveis de acesso ao vídeo e aumentar a pressão para que mais pessoas o assistam e, dessa forma, pressionem para que siga veiculado. Assim, poderá servir como argumento para a defesa da liberdade de expressão no país.
Manfredini alega como motivo para a ação judicial a necessidade de preservar a memória e a obra artística do pai, como o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo publicou em uma de suas colunas, nesta quinta-feira. A intenção, no entanto, segundo consultor jurídico ouvido pelo Correio do Brasil, que prefere a condição do anonimato, pode seguir em rumos diametralmente opostos.
– Não creio que uma ação desse tipo siga além da primeira instância, com ganho de causa para oYouTube, no sentido de permitir que o vídeo permaneça acessível. Não é preciso ser ministro do Supremo Tribunal Federal para perceber que cairá no vazio um pedido desses para impedir a transmissão de uma peça publicitária, evidentemente de extrema-direita, sim, mas nada além do que uma obra de ficção e opinativa. Um processo em torno disso tem apenas o poder de divulgar ainda mais o vídeo que querem tirar do ar – afirmou.
Nos cinemas
Mas o filme de verdade, sobre a canção escrita por Renato Russo na qual a saga pessoal de João de Santo Cristo (vivido por Fabrício Boliveira) serve como pano de fundo para a paródia contra o nordestino Luiz Inácio Lula da Silva, no canal de vídeos da internet, segue em uma linha mais inteligente e sensível à obra do autor. Absorve elementos importantes da composição para deixar de lado o faroeste calango e focar em uma história de amor.
O roteiro percorre os caminhos conhecidos por todos aqueles que, na década de 80, ouviram a música sobre a história do João que decide reiniciar sua vida na cidade de Brasília. Entre oportunidades que aparecem à sua frente com a ajuda do primo bastardo Pablo (César Troncoso), seu destino cruza o da jovem Maria Lúcia (Ísis Valverde, em seu primeiro longa metragem), por quem se apaixona e que será a responsável pelas reviravoltas a partir de então.
A decisão do diretor foi trazer a moça o quanto antes para a trama, e aumentar sensivelmente a presença dela na fita. Os dramas sociais que João de Santo Cristo vive, porém, distanciam o casal e as cenas amorosas acabam em segundo plano por diversas vezes. Até mesmo as complicações pessoais de Maria Lúcia parecem pouco trabalhadas no roteiro.
A atuação de Felipe Abib no papel do traficante Jeremias, por sua afetação, ganha destaque no filme, com o seu desejo desenfreado por quilos de cocaína. René Sampaio, em recente entrevista, disse que seu desejo nunca foi “criar um videoclipe para a canção”, o que abre uma nova perspectiva sobre um dos raros faroestes legitimamente brasileiros.

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