Quinta, 29 de agosto de 2013
“Não à intervenção na Síria”. Essa é a posição de todos os cristãos do Oriente Médio
É unânime a postura das comunidades cristãs do Oriente Médio. Um não rotundo à incursão militar que os Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, com o apoio da Turquia e da Liga Árabe, estariam preparando como resposta ao uso de armas químicas por parte do presidente sírio Al Assad.
Nas Igrejas consideram-na uma decisão que acarretará somente maiores
problemas e não a tão desejada solução para guerra que há anos açoita a Síria.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli e publicada no sítio Vatican Insider, 28-08-2013. A tradução é de André Langer.
Particularmente, ouve-se com força o não que chega de Deir Mar Musa, o mosteiro que foi fundado na Síria pelo padre Paolo Dall’Oglio, o jesuíta sequestrado há quase um mês em Raqqa e de quem não se tem notícias. Um lugar que não pode ser acusado de apoiar o regime de Assad. “Encontramo-nos numa fase de extremo sofrimento – declarou nesta quarta-feira à agência Fides o padre Jacques Mourad, que se ocupa da direção do mosteiro desde que Dall’Oglio foi expulso do país no ano passado. Esperamos que os países ocidentais assumam uma posição justa diante desta tremenda crise síria. A postura correta é rechaçar qualquer tipo de violência, deter as armas, não colocar uns contra os outros, defender e proteger os direitos humanos”. Muito mais claramente, se acaso ainda há dúvidas, expressou-se a irmã Houda Fadoul, que junto com o jesuíta italiano fundou a comunidade feminina: “Não podemos aceitar ou aprovar uma intervenção armada das potências estrangeiras – explicou também à agência Fides. Continuamos com a nossa missão, que é a de elevar a Deus um culto espiritual, sobretudo para educar os jovens para o diálogo e a paz”.
O patriarca sírio-católico Youssef III Younan também condenou com palavras muito duras a eventual intervenção, em uma entrevista para o sítio terrasanta.net: “Em vez de ajudar as diferentes partes em conflito para que encontrem vias para a reconciliação, colocar em marcha o diálogo para as reformas baseadas em um sistema pluralista de governo, até agora estas potências somente armaram os rebeldes, incitando à violência e envenenando ainda mais as relações entre sunitas e xiitas. O Ocidente acredita que se os sunitas chegarem ao governo a democracia substituirá a ditadura, mas esta é uma enorme ilusão: mudar o regime com a força, sem dar garantias aos partidos de inspiração laica, desencadeará um conflito ainda mais dramático que aquele do Iraque”.
Justamente de Badgá, o patriarca caldeu Louis Raphael Sako falou de uma “catástrofe”. A intervenção militar estadunidense, declarou à agência Fides, “seria como provocar a erupção de um vulcão com uma explosão suficientemente forte para arrasar o Iraque, o Líbano e a Palestina. E talvez haja alguém que queira justamente isto”. O patriarca dos caldeus citou o antecedente de seu país: “Após dez anos de intervenção da chamada ‘coalizão de voluntários’ que derrocou Saddam, nosso país continua sendo golpeado pelas bombas, pelos problemas de segurança, pela instabilidade da crise econômica”.
Do Líbano, o patriarca maronita Béchara Rai expressou claramente seu pensamento há alguns dias em uma entrevista à Rádio Vaticano: “Tudo o que está acontecendo no Oriente Médio (tanto no Egito como na Síria ou no Iraque) é uma guerra que tem duas dimensões. No Iraque e na Síria, a guerra é entre sunitas e xiitas; no Egito a guerra é entre fundamentalistas, entre a Irmandade Muçulmana e os moderados. São guerras sem fim, mas, e sinto dever dizê-lo, há países, sobretudo ocidentais (mas também do Oriente), que estão fomentando todos estes conflitos. É preciso encontrar uma solução para todos estes problemas”.
Grande preocupação também surge em Jerusalém, onde o Custódio da Terra Santa, o padre Pierbattista Pizzaballa, indicou: “As imagens que temos da Síria são atrozes, falam por si mesmas – comentou em uma entrevista ao Franciscan Media Center. Mas, conhecendo o Oriente Médio, é muito mais difícil saber quem faz o quê. A comunidade política internacional deve encontrar soluções imediatas, através de pressões, para que tudo isto acabe de uma vez por todas. Não creio que, atualmente, na Síria, haja pessoas que tenham razão e pessoas que não tenham razão. Quando se usa a violência todos se equivocam”.
Enquanto isso, o prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o cardeal Leonardo Sandri, também lançou um enérgico apelo para retomar, “nestas horas de instabilidade” nas quais se “intensifica a oração pela situação na Síria”: “o ardente apelo do Papa Francisco no Angelus do domingo passado” que “levou consolo a toda a população síria, como asseguraram à Congregação para as Igrejas Orientais os pastores e fiéis que seguem invocando o dom da paz. Às comunidades da pátria-mãe se unem muitos orientais espalhados pelo mundo no mesmo apelo para que a reconciliação seja mais forte que o clamor das armas”.
“A instância superior de paz e de vida – concluiu – deve prevalecer sobre qualquer outro interesse ou ressentimento particular. Sobre qualquer outra razão, para a comunidade internacional devem ser prioritários a reconciliação, a justiça e o respeito solidário dos direitos pessoais e sociais, inclusive religiosos, de todos os elementos da população do Oriente Médio”.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli e publicada no sítio Vatican Insider, 28-08-2013. A tradução é de André Langer.
Particularmente, ouve-se com força o não que chega de Deir Mar Musa, o mosteiro que foi fundado na Síria pelo padre Paolo Dall’Oglio, o jesuíta sequestrado há quase um mês em Raqqa e de quem não se tem notícias. Um lugar que não pode ser acusado de apoiar o regime de Assad. “Encontramo-nos numa fase de extremo sofrimento – declarou nesta quarta-feira à agência Fides o padre Jacques Mourad, que se ocupa da direção do mosteiro desde que Dall’Oglio foi expulso do país no ano passado. Esperamos que os países ocidentais assumam uma posição justa diante desta tremenda crise síria. A postura correta é rechaçar qualquer tipo de violência, deter as armas, não colocar uns contra os outros, defender e proteger os direitos humanos”. Muito mais claramente, se acaso ainda há dúvidas, expressou-se a irmã Houda Fadoul, que junto com o jesuíta italiano fundou a comunidade feminina: “Não podemos aceitar ou aprovar uma intervenção armada das potências estrangeiras – explicou também à agência Fides. Continuamos com a nossa missão, que é a de elevar a Deus um culto espiritual, sobretudo para educar os jovens para o diálogo e a paz”.
O patriarca sírio-católico Youssef III Younan também condenou com palavras muito duras a eventual intervenção, em uma entrevista para o sítio terrasanta.net: “Em vez de ajudar as diferentes partes em conflito para que encontrem vias para a reconciliação, colocar em marcha o diálogo para as reformas baseadas em um sistema pluralista de governo, até agora estas potências somente armaram os rebeldes, incitando à violência e envenenando ainda mais as relações entre sunitas e xiitas. O Ocidente acredita que se os sunitas chegarem ao governo a democracia substituirá a ditadura, mas esta é uma enorme ilusão: mudar o regime com a força, sem dar garantias aos partidos de inspiração laica, desencadeará um conflito ainda mais dramático que aquele do Iraque”.
Justamente de Badgá, o patriarca caldeu Louis Raphael Sako falou de uma “catástrofe”. A intervenção militar estadunidense, declarou à agência Fides, “seria como provocar a erupção de um vulcão com uma explosão suficientemente forte para arrasar o Iraque, o Líbano e a Palestina. E talvez haja alguém que queira justamente isto”. O patriarca dos caldeus citou o antecedente de seu país: “Após dez anos de intervenção da chamada ‘coalizão de voluntários’ que derrocou Saddam, nosso país continua sendo golpeado pelas bombas, pelos problemas de segurança, pela instabilidade da crise econômica”.
Do Líbano, o patriarca maronita Béchara Rai expressou claramente seu pensamento há alguns dias em uma entrevista à Rádio Vaticano: “Tudo o que está acontecendo no Oriente Médio (tanto no Egito como na Síria ou no Iraque) é uma guerra que tem duas dimensões. No Iraque e na Síria, a guerra é entre sunitas e xiitas; no Egito a guerra é entre fundamentalistas, entre a Irmandade Muçulmana e os moderados. São guerras sem fim, mas, e sinto dever dizê-lo, há países, sobretudo ocidentais (mas também do Oriente), que estão fomentando todos estes conflitos. É preciso encontrar uma solução para todos estes problemas”.
Grande preocupação também surge em Jerusalém, onde o Custódio da Terra Santa, o padre Pierbattista Pizzaballa, indicou: “As imagens que temos da Síria são atrozes, falam por si mesmas – comentou em uma entrevista ao Franciscan Media Center. Mas, conhecendo o Oriente Médio, é muito mais difícil saber quem faz o quê. A comunidade política internacional deve encontrar soluções imediatas, através de pressões, para que tudo isto acabe de uma vez por todas. Não creio que, atualmente, na Síria, haja pessoas que tenham razão e pessoas que não tenham razão. Quando se usa a violência todos se equivocam”.
Enquanto isso, o prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o cardeal Leonardo Sandri, também lançou um enérgico apelo para retomar, “nestas horas de instabilidade” nas quais se “intensifica a oração pela situação na Síria”: “o ardente apelo do Papa Francisco no Angelus do domingo passado” que “levou consolo a toda a população síria, como asseguraram à Congregação para as Igrejas Orientais os pastores e fiéis que seguem invocando o dom da paz. Às comunidades da pátria-mãe se unem muitos orientais espalhados pelo mundo no mesmo apelo para que a reconciliação seja mais forte que o clamor das armas”.
“A instância superior de paz e de vida – concluiu – deve prevalecer sobre qualquer outro interesse ou ressentimento particular. Sobre qualquer outra razão, para a comunidade internacional devem ser prioritários a reconciliação, a justiça e o respeito solidário dos direitos pessoais e sociais, inclusive religiosos, de todos os elementos da população do Oriente Médio”.
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