terça-feira, 27 de agosto de 2013

SÍRIA: Nova aventura americana?


O vespeiro sírio

"Depois das experiências negativas no Iraque e no Afeganistão, a última coisa que Obama (e seus compatriotas) quer é embarcar em outra dispendiosa guerra no Oriente Médio. Principalmente quando, neste caso, todas as opções são ruins: de um lado, Assad, Irã e Hizbollah; do outro, uma frente rebelde dividida, na qual predominam os islâmicos radicais, alguns aliados da Al Qaeda", afirma editorial do jornal El País, 27-08-2013 e reproduzido pelo portal Uol.
Eis o editorial.
O suposto ataque químico denunciado pela oposição síria tirou de seu marasmo a comunidade internacional, embora a cacofonia de vozes e a complexa situação em campo não permitam vislumbrar uma saída clara.
O regime sírio concordou, no último domingo (25), que uma equipe da ONU visite os bairros do leste de Damasco, onde, segundo os rebeldes, centenas de pessoas morreram na última quarta-feira. A Médicos Sem Fronteiras confirmou que houve um ataque com gás na área indicada.
E rebeldes e governo se acusam mutuamente pela agressão, que coincidiu com a chegada da missão da ONU a Damasco para investigar três supostos ataques anteriores. No sábado, o regime denunciou ter encontrado galões com material tóxico em túneis usados pelos rebeldes no distrito de Jobar, o que também não pôde ser verificado.
Enquanto o Reino Unido e a França apontam diretamente  para Bashar el Assad e fazem campanha por uma intervenção imediata e contundente, Rússia e Irã culpam os rebeldes por terem orquestrado o ataque para desencadear uma operação internacional no momento em que as tropas do regime consolidam suas posições. Algo que, acrescentam, não vão tolerar de braços cruzados.
Os olhares se voltam para Obama, cuja credibilidade está em jogo há um ano, desde que prometeu atuar na Síria caso fossem utilizadas armas de destruição em massa. Mais por pressão externa do que por sua própria convicção, o presidente americano reforçou a presença naval na zona, mas deixou claro que não tem intenção de intervir militarmente enquanto não tiver todos os elementos na mão e, se possível, o improvável apoio da ONU.
Depois das experiências negativas no Iraque e no Afeganistão, a última coisa que Obama (e seus compatriotas) quer é embarcar em outra dispendiosa guerra no Oriente Médio. Principalmente quando, neste caso, todas as opções são ruins: de um lado, Assad, Irã e Hizbollah; do outro, uma frente rebelde dividida, na qual predominam os islâmicos radicais, alguns aliados da Al Qaeda.
As potências ocidentais demoraram para se envolver na Síria porque pensaram que Assad tivesse os dias contados. E essa mesma demora é que dificulta agora extraordinariamente a intervenção. Ao contrário do que aconteceu na Líbia, o regime não implodiu, e a situação derivou, depois de dois anos e meio, em uma brutal guerra sectária entre sunitas, xiitas, alauítas, cristãos e curdos.
Ninguém quer pôr as botas na Síria, e se estuda uma ofensiva com mísseis terra-ar contra alvos militares e talvez uma zona de exclusão aérea. As opções são escassas e o risco de inflamar toda a região é alto. Mas a inação, ao mesmo tempo, mandaria um péssimo sinal. Com as espadas erguidas, a conferência sobre a Síria prevista para outubro em Genebra parece um sarcasmo, mas é a única alternativa pacífica que resta.

Nenhum comentário: