Médicos cubanos no RS. Um depoimento
"A saúde, quando eficiente, se manifesta em linguagem
universal, todos acabam entendendo, não importa se é formatada por
cubanos, brasileiros ou canadenses. Até porque os pacientes somos todos,
inclusive os médicos. O momento atual atesta que se precisa rever o
SUS, a partir da saúde e não da doença", afirma José Alberto Wenzel, ex-secretário de Saúde de Santa Cruz do Sul, RS, no artigo "Uma experiência local", publicado pelo jornal Zero Hora,
Referindio-se à presença de médicos cubanos no município, ele testemunha; ""Foi uma reviravolta no sistema de atendimento básico à saúde. Em determinada ocasião, se pretendeu transferir um dos médicos cubanos para outra unidade do PSF, hoje seria ESF, Estratégia de Saúde da Família. Tivemos que manter o médico em sua unidade original, tal foi a manifestação de apoio da população, exigindo sua permanência. Noutra ocasião, tivemos alguns problemas com a manutenção de um deles, tanto que tivemos que tomar as providências cabíveis".
Eis o artigo.
O Palácio de Convenções de Havana estava lotado. Era o dia 28 de novembro de 1997, data de encerramento do 6º Seminário Internacional de Atenção Primária de Saúde. O tema do evento Salud para Todos en Cuba, falava por si. Profissionais, gestores, gente de muitos países, haviam passado quatro dias trabalhando saúde pública básica e preventiva.
Convidados a conhecer unidades do Programa de Saúde da Família, visitamos um posto onde o médico também residia. Cada morador da área de abrangência do posto estava identificado em fichas, onde constavam os dados pessoais, familiares, laborais e sua situação de saúde, bem como os procedimentos que vinham sendo adotados, ou seja, havia um prontuário, que era atualizado a cada visita do médico, enfermeiro e equipe responsável por aquele quarteirão.
De volta a Santa Cruz do Sul, não se teve dúvida. Foi instalado o Programa de Saúde da Família (PSF), que já se organizava e implantava em algumas cidades brasileiras. Entre as dificuldades, surgiu a questão dos médicos. Era necessário disponibilizar à população adstrita à Unidade Básica de Saúde da Família um médico, enfermeiro e equipe de agentes de saúde, em turno de oito horas diárias, com visitação efetiva às famílias. Alguns médicos se disponibilizaram, mas foi necessário buscar outra alternativa: contratamos dois médicos cubanos, pagos nos mesmos termos que os demais médicos locais.
Num primeiro momento, surgiram as dificuldades comuns, como alugar casa, arrumar avalista, enfim instalar os profissionais e integrá-los à comunidade. Como haviam passado por Brasília, já vinham com a condição de atuação temporária validada.
Foi uma reviravolta no sistema de atendimento básico à saúde. Em determinada ocasião, se pretendeu transferir um dos médicos cubanos para outra unidade do PSF, hoje seria ESF, Estratégia de Saúde da Família. Tivemos que manter o médico em sua unidade original, tal foi a manifestação de apoio da população, exigindo sua permanência. Noutra ocasião, tivemos alguns problemas com a manutenção de um deles, tanto que tivemos que tomar as providências cabíveis.
O que ficou desta experiência em Santa Cruz do Sul? Primeiro, que o programa exige o trabalho em equipe, formada por médico, enfermeira, agentes comunitários de saúde e outros profissionais julgados necessários à determinada comunidade. Segundo, há que se dotar a unidade de atenção básica da estrutura adequada. Terceiro, nenhuma unidade funciona como uma ilha, há que integrá-la ao sistema de saúde. Quarto, o sistema não é apenas de abrangência nacional, estadual, intermunicipal; ele precisa ser operado resolutivamente dentro da estrutura local, envolvendo a unidade básica, as especialidades, urgências, hospitais e demais instituições ligadas à área. Por fim, a saúde, quando eficiente, se manifesta em linguagem universal, todos acabam entendendo, não importa se é formatada por cubanos, brasileiros ou canadenses. Até porque os pacientes somos todos, inclusive os médicos. O momento atual atesta que se precisa rever o SUS, a partir da saúde e não da doença.
*Ex-secretário de Saúde de Santa Cruz do Sul
Referindio-se à presença de médicos cubanos no município, ele testemunha; ""Foi uma reviravolta no sistema de atendimento básico à saúde. Em determinada ocasião, se pretendeu transferir um dos médicos cubanos para outra unidade do PSF, hoje seria ESF, Estratégia de Saúde da Família. Tivemos que manter o médico em sua unidade original, tal foi a manifestação de apoio da população, exigindo sua permanência. Noutra ocasião, tivemos alguns problemas com a manutenção de um deles, tanto que tivemos que tomar as providências cabíveis".
Eis o artigo.
O Palácio de Convenções de Havana estava lotado. Era o dia 28 de novembro de 1997, data de encerramento do 6º Seminário Internacional de Atenção Primária de Saúde. O tema do evento Salud para Todos en Cuba, falava por si. Profissionais, gestores, gente de muitos países, haviam passado quatro dias trabalhando saúde pública básica e preventiva.
Convidados a conhecer unidades do Programa de Saúde da Família, visitamos um posto onde o médico também residia. Cada morador da área de abrangência do posto estava identificado em fichas, onde constavam os dados pessoais, familiares, laborais e sua situação de saúde, bem como os procedimentos que vinham sendo adotados, ou seja, havia um prontuário, que era atualizado a cada visita do médico, enfermeiro e equipe responsável por aquele quarteirão.
De volta a Santa Cruz do Sul, não se teve dúvida. Foi instalado o Programa de Saúde da Família (PSF), que já se organizava e implantava em algumas cidades brasileiras. Entre as dificuldades, surgiu a questão dos médicos. Era necessário disponibilizar à população adstrita à Unidade Básica de Saúde da Família um médico, enfermeiro e equipe de agentes de saúde, em turno de oito horas diárias, com visitação efetiva às famílias. Alguns médicos se disponibilizaram, mas foi necessário buscar outra alternativa: contratamos dois médicos cubanos, pagos nos mesmos termos que os demais médicos locais.
Num primeiro momento, surgiram as dificuldades comuns, como alugar casa, arrumar avalista, enfim instalar os profissionais e integrá-los à comunidade. Como haviam passado por Brasília, já vinham com a condição de atuação temporária validada.
Foi uma reviravolta no sistema de atendimento básico à saúde. Em determinada ocasião, se pretendeu transferir um dos médicos cubanos para outra unidade do PSF, hoje seria ESF, Estratégia de Saúde da Família. Tivemos que manter o médico em sua unidade original, tal foi a manifestação de apoio da população, exigindo sua permanência. Noutra ocasião, tivemos alguns problemas com a manutenção de um deles, tanto que tivemos que tomar as providências cabíveis.
O que ficou desta experiência em Santa Cruz do Sul? Primeiro, que o programa exige o trabalho em equipe, formada por médico, enfermeira, agentes comunitários de saúde e outros profissionais julgados necessários à determinada comunidade. Segundo, há que se dotar a unidade de atenção básica da estrutura adequada. Terceiro, nenhuma unidade funciona como uma ilha, há que integrá-la ao sistema de saúde. Quarto, o sistema não é apenas de abrangência nacional, estadual, intermunicipal; ele precisa ser operado resolutivamente dentro da estrutura local, envolvendo a unidade básica, as especialidades, urgências, hospitais e demais instituições ligadas à área. Por fim, a saúde, quando eficiente, se manifesta em linguagem universal, todos acabam entendendo, não importa se é formatada por cubanos, brasileiros ou canadenses. Até porque os pacientes somos todos, inclusive os médicos. O momento atual atesta que se precisa rever o SUS, a partir da saúde e não da doença.
*Ex-secretário de Saúde de Santa Cruz do Sul
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