Pedro do Coutto
Sem
dúvida, ao tornar clara sua irritação com o governo americano num dos
intervalos da reunião do G-20 em São Petersburgo, a presidente Dilma
Rousseff marcou pontos importantes para as eleições de 2014, ao levar o
presidente Barack Obama à defensiva e ao constrangimento de ter que
admitir, tacitamente, as ações de espionagem praticadas pela Agência de
Segurança Nacional dos Estados Unidos. Obama ficou numa posição difícil,
já que é impossível defender a prática de espionagem. O tema foi
otimamente focalizado por Clóvis Rossi, enviado especial da Folha de São
Paulo, e também por Vivian Oswald, enviada especial de O Globo. As
matérias foram publicadas nas edições de sexta-feira de ambos os
jornais.
Barack
Obama teve que optar pela tentativa do silêncio. Explicar a violação de
telefonemas , e mails e correspondência de Dilma Rousseff
impossível.Dizer que a Agência de Segurança, que se transformou numa
usina de insegurança, agiu por conta própria significaria confessar
desconhecimento do que se passa na Casa Branca. Obama não tinha (e não
tem) opção. Sai do episódio fortemente desgastado aos olhos, não só dos
brasileiros, mas diante de todos os países. A Agência de Segurança, na
ânsia de mostrar serviço, invadiu a comunicação internacional tanto no
plano político quanto na área econômica e financeira. Desastre completo.
Escândalo
absoluto revelado por Edward Snowden, um colaborador terceirizado da
área de relações internacionais de Washington. Forneceu munição ao
jornalista Glen Grenwald, autor das reportagens publicadas no jornal
inglês The Guardian, que, na verdade abalaram o mundo. Dilma Rousseff
avançou eleitoralmente recuperando, no caminho das urnas, espaços que
havia perdido, mas, como a pesquisa do Datafolha revelou, não
arrebatados por nenhum candidato. As intenções de voto que lhe foram
retiradas foram mais para o campo da indecisão. Somente três pontos
foram para a candidata Marina Silva, que subiu de 23 para 26%.
Tão
defensivo ficou que nitidamente, como Clóvis Rossi e Vivian Oswald
revelaram, que não desejou falar, passando tal atribuição ao assessor
(de Segurança Nacional) Ben Rhodes, tentando assim minimizar a força do
impacto. Não conseguiu. Como num tema dessa ordem, que envolve direitos
humanos básicos, a tarefa de se desculpar pode ser transmitida a um
assessor?
E as afirmações de Rhodes foram
as seguintes: Entendemos quanto é importante o tema para os
brasileiros. Nós entendemos a força do sentimento dos brasileiros a
respeito do assunto. O que estamos fazendo é adotar uma visão abrangente
das revelações de Glen Grenwald a partir de dados vazados por Edward
Snowden e quais são os fatos, em termos das atividades da Agência de
Segurança Nacional, responsável pelo mega esquema de espionagem. A Casa
Branca – acrescentou – pretende trabalhar com o governo brasileiro para
que tenhamos um melhor entendimento de suas inquietações. Continuaremos
com esse trabalho. Nosso foco é assegurar que os brasileiros entendam a
natureza de nossos esforços de inteligência. Nós os desenvolvemos em
praticamente todos os países do mundo.
As explicações de Ben Rhodes,
como se constata, não convencem. Ele procurou pluralizar suas palavras
na tentativa de retirar Dilma Rousseff do papel de vítima absoluta da
invasão inconcebível de privacidade estatal. Envolver a população
brasileira representa uma forma de dividir o caráter nocivo da prática
de espionagem pelos 201 milhões de habitantes de nosso país. Assim,
supõe Rhodes, a fração envolvendo a administração federal passaria a ser
menor. Por esse meio, busca reduzir gradualmente a fratura exposta do
comportamento pouco digno do governo de Washington. Procura, em vão,
buscar uma saída. Mas está difícil encontrá-la. O desastre foi total.
Nenhum comentário:
Postar um comentário