GRANDE MÍDIA": 10 FATOS PERTURBADORES
Por Sophie
McAdam, no “True Activism” (EUA)
“Jornal GGN - O site ‘True Activism’ criou uma lista de fatos a
respeito da grande mídia de massa internacional, relacionados a casos recentes
envolvendo jornalismo e poder.
Confira:
Confira:
1. Grande mídia só existe para dar
lucro
Qual o propósito da grande mídia? Dizer que a imprensa existe para informar, educar ou entreter é como dizer que a função principal da Apple é fazer com que a tecnologia possa enriquecer nossas vidas. Na verdade, a indústria de mídia de massa é igual a qualquer outra em uma sociedade capitalista: ela existe para dar lucro.
Qual o propósito da grande mídia? Dizer que a imprensa existe para informar, educar ou entreter é como dizer que a função principal da Apple é fazer com que a tecnologia possa enriquecer nossas vidas. Na verdade, a indústria de mídia de massa é igual a qualquer outra em uma sociedade capitalista: ela existe para dar lucro.
O “MediaLens”, site britânico que
critica o jornalismo convencional (ou empresarial), afirma que todas as
empresas, incluindo aquelas que lidam com a mídia, existem apenas para
maximizar o retorno aos acionistas – uma “lei” universalmente aceita como algo
divino, uma verdade incontestável. Sem agradar os acionistas e um conselho de
administração, as empresas de mídia de massa simplesmente não existiriam. Assim
que você entender isso, nunca mais verá as notícias da mesma forma.
2. Os anunciantes ditam o conteúdo
Como é que a busca do lucro afeta a notícia que consumimos? Corporações de mídia obtêm a maior parte - geralmente, em torno de 75% - de seu lucro com publicidade, o que significa que são os próprios anunciantes que ditam o conteúdo, não jornalistas. E certamente não são os consumidores. Imagine que você é editor de um jornal de sucesso ou de um canal de TV com altos índices de audiência. Você atrai receitas de grandes marcas e corporações multinacionais como a BP, a Monsanto e companhias aéreas dos Emirados Árabes Unidos. Como poderia, então, lidar com temas importantes, como alterações climáticas, alimentos geneticamente modificados ou desastrosos vazamentos de petróleo de uma forma que fosse honesta com seu público e favorável a seus clientes? A resposta é simples: não pode. Isso pode explicar porque Andrew Ross Sorkin, do jornal “The New York Times” – patrocinado pela “Goldman Sachs” –, é tão interessado em defender a corporação. Andrew Marr, correspondente político da BBC, resume o dilema em sua autobiografia: “A grande questão é se os limites de publicidade remodelam a agenda de notícias. Eles fazem isso, claro. É difícil fazer as somas somarem quando você está chutando as pessoas que assinam os cheques”.
3. Bilionários magnatas e monopólios de mídia ameaçam jornalismo de verdade
A monopolização da imprensa (pequenos grupos de indivíduos ou organizações que controlam partes crescentes dos meios de comunicação) está crescendo a cada ano, e isso é grave perigo para a ética e a diversidade. A política pessoal neoliberal do magnata da mídia Rupert Murdoch é repassada por seus 175 jornais e endossada por “especialistas” (vide “Fox News”) nos canais de TV que ele possui, 123 deles só nos EUA. Qualquer pessoa que não esteja preocupada com a visão de mundo desse homem, sendo consumida por milhões de pessoas em todo o mundo – dos EUA ao Reino Unido, da Nova Zelândia à Ásia, da Europa à Austrália – não está pensando suficientemente sobre as consequências.
É um monopólio abrangente, que não deixa dúvida de que Murdoch é um dos homens mais poderosos do mundo. Mas, como mostrou o escândalo de escutas telefônicas, ele certamente não é o mais honroso ou ético deles. Assim como não é Alexander Lebedev, um ex- espião da KGB e político que comprou o jornal britânico “The Independent” em 2010. Com tanta influência (o oligarca bilionário está envolvido em vários setores, desde bancos de investimentos a companhias aéreas), podemos realmente esperar que a cobertura de notícias dessa publicação, que já foi respeitada, vá continuar na mesma linha? Obviamente que não: o jornal que sempre carregou um banner em sua primeira página declarando-se “livre de preconceitos político-partidários, livre da influência do dono”, curiosamente o abandonou em setembro de 2011.
4. Imprensa corporativa está na cama com o governo
Além do óbvio, um dos fatos mais preocupantes que emergiu do escândalo dos grampos telefônicos de Murdoch foi a exposição de ligações obscuras entre altos funcionários do governo e magnatas da imprensa. Durante o escândalo, e ao longo do “Inquérito Leveson” sobre a ética da imprensa britânica (ou a falta dela), ficamos sabendo de encontros secretos, ameaças de Murdoch a políticos que não queriam atender o que ele queria, e que o primeiro-ministro David Cameron tem uma estreita amizade com o então editor-chefe do “Sun”, Rebekah Brooks. Como os jornalistas podem fazer o seu trabalho de manter os políticos prestarem contas quando eles estão de férias juntos ou sentam um ao lado do outro em jantares privados?
Mas o apoio do governo funciona em ambos os sentidos. Cameron tentou ajudar o filho de Murdoch a vencer uma licitação para a “BSkyB”, enquanto que, bizarramente, o belicista ex-primeiro-ministro Tony Blair é padrinho de filha de Murdoch, Grace. Esse apoio bilateral também garante uma tendência esmagadora na cobertura de notícias e campanhas eleitorais, inundando jornais com artigos baratos e fáceis, de fontes governamentais inquestionáveis. Além da ausência de criticas contra quem está no poder. Essas conexões secretas também são responsáveis por grande parte da futilidade incessante da mídia corporativa ao falso patriotismo, especialmente em períodos que antecedem ataques contra outros países.
Uma interessante análise da cobertura da atual situação na Síria, pelo “New York Times”, por exemplo, demonstra como os jornalistas estão deixando de refletir sobre o sentimento público a respeito da questão de um ataque em grande escala contra Assad pelos EUA (Estados Unidos) e seus aliados.
5. Histórias importantes são ofuscadas por trivialidades
Você poderia ser perdoado por assumir que a parte mais interessante da situação de Edward Snowden, como denunciante, foi sua viagem de avião de Hong Kong para a Rússia, ou sua longa temporada de espera em um aeroporto de Moscou para alguém – ninguém – oferecer-lhe asilo. Isso porque, com a exceção do “The Guardian”, que publicou os vazamentos, em geral, a mídia tem preferido não se concentrar nas condenatórias revelações de Snowden sobre liberdade e tirania, mas sim sobre trivialidades banais – como sua personalidade e antecedentes, se sua namorada sente falta dele, se ele é realmente um espião chinês, e claro, nos lembrar do desenho “Onde está Wally?” e como ele cruzou o mundo inteiro como um fugitivo.
O mesmo poderia ser dito sobre a mudança de sexo de Bradley Manning que, convenientemente, ofuscou a enorme injustiça de sua sentença. E o que dizer de Julian Assange? Seu perfil na mundialmente respeitada rede BBC foi dedicado quase que inteiramente a manchar seu caráter, em vez de detalhar os profundos impactos do “Wikileaks” sobre nossa visão do mundo. Em todos os casos, as principais histórias são desviadas de nossa atenção, que fica perdida em um mar de curiosidades, e habilmente retiradas dos problemas reais que temos nas mãos: aqueles que, invariavelmente, o governo quer que esqueçamos.
6. A grande mídia não faz perguntas
“Verifique suas fontes, cheque os fatos” são regras de ouro do jornalismo, mas você não iria supor que isso é feito a partir da leitura da imprensa ou de canais de TV corporativos. Neste momento, Obama está batendo os tambores para uma guerra contra a Síria. Após acusações dos EUA e do Reino Unido de que Assad foi o responsável por um ataque químico contra seu próprio povo, no mês passado, a maioria dos grandes jornais, como o “New York Times”, não exigiu provas do ataque em grande escala. Mas há várias boas razões para que os jornalistas questionem a história oficial. Em primeiro lugar, o jornal de extrema-direita britânico “The Daily Mail” publicou uma notícia, em janeiro deste ano, sobre vazamento de e-mails de uma empresa de armas britânica, mostrando que os EUA estavam planejando um ataque químico contra civis na Síria. Eles, então, culpariam Assad para obter apoio público para uma posterior invasão em larga escala. O artigo foi rapidamente apagado, mas uma versão em cache ainda existe.
Veja abaixo a carta (visualização difícil):
(e-mail/carta de uma empresa de armas britânica, publicado no “Daily Mail” e logo apagado)
2. Os anunciantes ditam o conteúdo
Como é que a busca do lucro afeta a notícia que consumimos? Corporações de mídia obtêm a maior parte - geralmente, em torno de 75% - de seu lucro com publicidade, o que significa que são os próprios anunciantes que ditam o conteúdo, não jornalistas. E certamente não são os consumidores. Imagine que você é editor de um jornal de sucesso ou de um canal de TV com altos índices de audiência. Você atrai receitas de grandes marcas e corporações multinacionais como a BP, a Monsanto e companhias aéreas dos Emirados Árabes Unidos. Como poderia, então, lidar com temas importantes, como alterações climáticas, alimentos geneticamente modificados ou desastrosos vazamentos de petróleo de uma forma que fosse honesta com seu público e favorável a seus clientes? A resposta é simples: não pode. Isso pode explicar porque Andrew Ross Sorkin, do jornal “The New York Times” – patrocinado pela “Goldman Sachs” –, é tão interessado em defender a corporação. Andrew Marr, correspondente político da BBC, resume o dilema em sua autobiografia: “A grande questão é se os limites de publicidade remodelam a agenda de notícias. Eles fazem isso, claro. É difícil fazer as somas somarem quando você está chutando as pessoas que assinam os cheques”.
3. Bilionários magnatas e monopólios de mídia ameaçam jornalismo de verdade
A monopolização da imprensa (pequenos grupos de indivíduos ou organizações que controlam partes crescentes dos meios de comunicação) está crescendo a cada ano, e isso é grave perigo para a ética e a diversidade. A política pessoal neoliberal do magnata da mídia Rupert Murdoch é repassada por seus 175 jornais e endossada por “especialistas” (vide “Fox News”) nos canais de TV que ele possui, 123 deles só nos EUA. Qualquer pessoa que não esteja preocupada com a visão de mundo desse homem, sendo consumida por milhões de pessoas em todo o mundo – dos EUA ao Reino Unido, da Nova Zelândia à Ásia, da Europa à Austrália – não está pensando suficientemente sobre as consequências.
É um monopólio abrangente, que não deixa dúvida de que Murdoch é um dos homens mais poderosos do mundo. Mas, como mostrou o escândalo de escutas telefônicas, ele certamente não é o mais honroso ou ético deles. Assim como não é Alexander Lebedev, um ex- espião da KGB e político que comprou o jornal britânico “The Independent” em 2010. Com tanta influência (o oligarca bilionário está envolvido em vários setores, desde bancos de investimentos a companhias aéreas), podemos realmente esperar que a cobertura de notícias dessa publicação, que já foi respeitada, vá continuar na mesma linha? Obviamente que não: o jornal que sempre carregou um banner em sua primeira página declarando-se “livre de preconceitos político-partidários, livre da influência do dono”, curiosamente o abandonou em setembro de 2011.
4. Imprensa corporativa está na cama com o governo
Além do óbvio, um dos fatos mais preocupantes que emergiu do escândalo dos grampos telefônicos de Murdoch foi a exposição de ligações obscuras entre altos funcionários do governo e magnatas da imprensa. Durante o escândalo, e ao longo do “Inquérito Leveson” sobre a ética da imprensa britânica (ou a falta dela), ficamos sabendo de encontros secretos, ameaças de Murdoch a políticos que não queriam atender o que ele queria, e que o primeiro-ministro David Cameron tem uma estreita amizade com o então editor-chefe do “Sun”, Rebekah Brooks. Como os jornalistas podem fazer o seu trabalho de manter os políticos prestarem contas quando eles estão de férias juntos ou sentam um ao lado do outro em jantares privados?
Mas o apoio do governo funciona em ambos os sentidos. Cameron tentou ajudar o filho de Murdoch a vencer uma licitação para a “BSkyB”, enquanto que, bizarramente, o belicista ex-primeiro-ministro Tony Blair é padrinho de filha de Murdoch, Grace. Esse apoio bilateral também garante uma tendência esmagadora na cobertura de notícias e campanhas eleitorais, inundando jornais com artigos baratos e fáceis, de fontes governamentais inquestionáveis. Além da ausência de criticas contra quem está no poder. Essas conexões secretas também são responsáveis por grande parte da futilidade incessante da mídia corporativa ao falso patriotismo, especialmente em períodos que antecedem ataques contra outros países.
Uma interessante análise da cobertura da atual situação na Síria, pelo “New York Times”, por exemplo, demonstra como os jornalistas estão deixando de refletir sobre o sentimento público a respeito da questão de um ataque em grande escala contra Assad pelos EUA (Estados Unidos) e seus aliados.
5. Histórias importantes são ofuscadas por trivialidades
Você poderia ser perdoado por assumir que a parte mais interessante da situação de Edward Snowden, como denunciante, foi sua viagem de avião de Hong Kong para a Rússia, ou sua longa temporada de espera em um aeroporto de Moscou para alguém – ninguém – oferecer-lhe asilo. Isso porque, com a exceção do “The Guardian”, que publicou os vazamentos, em geral, a mídia tem preferido não se concentrar nas condenatórias revelações de Snowden sobre liberdade e tirania, mas sim sobre trivialidades banais – como sua personalidade e antecedentes, se sua namorada sente falta dele, se ele é realmente um espião chinês, e claro, nos lembrar do desenho “Onde está Wally?” e como ele cruzou o mundo inteiro como um fugitivo.
O mesmo poderia ser dito sobre a mudança de sexo de Bradley Manning que, convenientemente, ofuscou a enorme injustiça de sua sentença. E o que dizer de Julian Assange? Seu perfil na mundialmente respeitada rede BBC foi dedicado quase que inteiramente a manchar seu caráter, em vez de detalhar os profundos impactos do “Wikileaks” sobre nossa visão do mundo. Em todos os casos, as principais histórias são desviadas de nossa atenção, que fica perdida em um mar de curiosidades, e habilmente retiradas dos problemas reais que temos nas mãos: aqueles que, invariavelmente, o governo quer que esqueçamos.
6. A grande mídia não faz perguntas
“Verifique suas fontes, cheque os fatos” são regras de ouro do jornalismo, mas você não iria supor que isso é feito a partir da leitura da imprensa ou de canais de TV corporativos. Neste momento, Obama está batendo os tambores para uma guerra contra a Síria. Após acusações dos EUA e do Reino Unido de que Assad foi o responsável por um ataque químico contra seu próprio povo, no mês passado, a maioria dos grandes jornais, como o “New York Times”, não exigiu provas do ataque em grande escala. Mas há várias boas razões para que os jornalistas questionem a história oficial. Em primeiro lugar, o jornal de extrema-direita britânico “The Daily Mail” publicou uma notícia, em janeiro deste ano, sobre vazamento de e-mails de uma empresa de armas britânica, mostrando que os EUA estavam planejando um ataque químico contra civis na Síria. Eles, então, culpariam Assad para obter apoio público para uma posterior invasão em larga escala. O artigo foi rapidamente apagado, mas uma versão em cache ainda existe.
Veja abaixo a carta (visualização difícil):
(e-mail/carta de uma empresa de armas britânica, publicado no “Daily Mail” e logo apagado)
Outra evidência recente atinge o inacreditável. Verificou-se que os produtos
químicos usados para fazer o gás usados no ataque foram enviados do Reino
Unido, e a inteligência alemã insiste que Assad não foi o responsável pelo
ataque químico. Enquanto isso, um hacker ativista revelou evidências de envolvimento
de agências de inteligência norte-americanas no massacre, que sugerem que houve
uma conspiração tramada por potências ocidentais.
Não esqueça dos laços da mídia
corporativa tanto com grandes empresas como com o governo antes de aceitar o
que lhe é dito. Se o jornalismo está morto, você tem o direito e o dever de
fazer suas próprias perguntas.
7. Jornalistas corporativos odeiam jornalistas reais
Michael Grunwald, correspondente do “Times”, tuitou que não podia esperar para escrever uma reportagem sobre quando um drone matasse Julian Assange. O escritor David Sirota sublinhou a ironia do fato: “Aqui temos a excitação expressa de um repórter sobre a perspectiva de o governo executar o editor de informações que se tornou a base para algumas das mais importantes informações jornalísticas da última década”. Sirota passou a notar vários exemplos do que ele chama de “jornalistas contra o Clube do Jornalismo”, e cita vários exemplos, como o colunista do “The Guardian”, Glenn Greenwald, que foi atacado pela imprensa corporativa por causa dos vazamentos feitos por Snowden.
Andrew Ross Sorkin, do “New York Times”, pediu a prisão de Greenwald, enquanto David Gregory, da “NBC”, declarou que Greenwald tem “ajudado e instigado Snowden”. Quanto à questão de saber se os jornalistas podem, de fato, ser francos, Sirota observa precisamente que tudo depende se suas opiniões servem ou desafiam o status quo, e, assim, passam à lista da hipocrisia dos críticos de Greenwald: "Grunwald tem dado opiniões barulhentas que orgulhosamente apoiam os ataques aéreos do governo e de vigilância. As opiniões de Sorkin promovem os interesses de Wall Street. David Broder (do “The Washington Post”) tinha opiniões que sustentavam, entre outras coisas, a agenda comercial do “livre” serviço corporativo do governo. Bob Woodward (também do “Washington Post”) tem opiniões de apoio cada vez maiores ao orçamento do Pentágono, que enriquece empreiteiros do setor de defesa. Jeffrey Goldberg (“The Atlantic's”) promove o complexo militar-industrial, e geralmente tem opiniões pró-guerra. Thomas Friedman (“New York Times”) tem as mesmas opiniões de todos os outros, promovendo o “livre” comércio, por exemplo. Essas vozes lealmente promovem os pressupostos não declarados que servem às estruturas de poder e que dominam a política americana. Todas as suas opiniões particulares não são sequer tipicamente retratadas como opiniões, pois geralmente representam "objetividade sem polêmicas”.
8. Má notícia vende, boa notícia é censurada, e fofocas de celebridades são questões importantes
É triste mas é verdade: uma má notícia realmente vende mais jornais. Mas por quê? Será que estamos realmente tão pessimistas? Será que saboreamos o sofrimento dos outros? Estamos secretamente felizes de que algo terrível aconteceu com alguém, que não seja nós? Lendo a imprensa corporativa como um alienígena em visita à Terra, você poderá achar isso. Geralmente, a cobertura de notícias é sensacionalista e deprimente como o inferno, com tantas páginas dedicadas a homicídios, estupros e pedofilia, mas nenhuma (ou muito poucas) para as centenas de milhares de boas ações e movimentos incrivelmente inspiradores que ocorrem a cada minuto de cada dia em todo o planeta.
As razões para consumirmos más notícias é perfeitamente lógica. Em tempos de paz e harmonia, as pessoas simplesmente não sentem a necessidade de educar-se, tanto quanto o fazem em épocas de crise. Essa é uma boa notícia para quem começava a se desesperar com a ideia de que os seres humanos são apáticos, odiosos e mudos. Poder-se-ia argumentar que esse fato preocupante e simples é um grande incentivo para a indústria da comunicação social para fazer algo que vale a pena. Ela poderia começar a oferecer um ângulo positivo e de esperança para uma mudança. Poderia usar períodos obscuros de maior interesse público para transmitir uma mensagem de paz e de justiça. Poderia refletir o desejo da humanidade por soluções e nossas preocupações urgentes com o meio ambiente. Poderia atuar como a voz de uma população mundial que sofreu bastante com violência e mentiras, para fazer campanha voltada à transparência, à igualdade, à liberdade, à verdade e à verdadeira democracia. Venderia jornais? Acho que sim. Poderiam até mesmo defender alguns políticos em nome do povo. Mas, para o futuro próximo, é provável que a imprensa corporativa só venha a desviar nossa atenção com outra foto da bunda da Rihanna, outro rumor sobre os hábitos de Justin Bieber ou outro artigo sobre Kim Kardashian usando saltos altos com os tornozelos inchados durante a gravidez.
9. Quem controla a linguagem controla a população
Você já leu clássico romance de George Orwell, “1984”? Ele tornou-se uma referência-clichê na distopia de hoje, isso é verdade, mas com uma boa razão. Há muitos, muitos paralelos entre o futuro obscuro e imaginário de Orwell e nossa realidade atual, mas uma parte importante de sua visão se concentra na língua. Orwell cunhou o termo “novilíngua” para descrever uma versão simplista do idioma inglês com o objetivo de limitar o livre pensamento sobre as questões que desafiam o status quo (criatividade, paz e individualismo, por exemplo). O conceito de novilíngua inclui o que Orwell chamou de “duplipensar” – como a linguagem é construída de forma ambígua, ou mesmo invertida, para transmitir o oposto do que é verdadeiro. Em seu livro, o Ministério da Guerra é conhecido como o Ministério do Amor, por exemplo, enquanto o Ministério da Verdade lida com propaganda e entretenimento. Soa familiar?
Outro livro que investiga o tema mais profundamente é “Unspeak”, uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em linguagem e poder e, especificamente, em entender como as palavras são distorcidas para fins políticos. Termos como “mísseis mantenedores da paz”, “extremistas” e “zonas livres”, as armas sendo referidas como “espólios”, ou eufemismos comerciais enganosos como “enxugamento” para redundâncias e “por do sol” para o extermínio – esses e centenas de outros exemplos demonstram como a linguagem pode ser poderosa. Em um mundo de crescente monopolização da mídia corporativa, aqueles que exercem o poder podem manipular palavras e, portanto, a reação do público, para incentivar o cumprimento, defender o status quo, ou provocar medo.
10. A liberdade de imprensa não existe mais
A única imprensa que está atualmente livre (pelo menos por enquanto) é a publicação independente, sem anunciantes corporativos, conselho de administração, acionistas ou diretores executivos. Detalhes de como o Estado redefiniu jornalismo são mencionados no item nº 7, mas o melhor exemplo recente seria o tratamento do governo ao “The Guardian” sobre a publicação dos vazamentos de Snowden.
É bom ressaltar que é possível que esse jornal jogue conosco, assim como qualquer outro – o “Guardian Group” não é peixe pequeno, afinal. Por outro lado, deveríamos achar difícil de acreditar que, depois da publicação dos arquivos da NSA, o editor Alan Rusbridge relatou o que foi dito pelas autoridades: “você já teve o seu divertimento, agora devolva os arquivos”; que os funcionários do governo invadiram a redação e destruíram discos rígidos, ou que o parceiro de Greenwald, David Miranda, foi detido por nove horas em um aeroporto de Londres sob a “Lei de Terrorismo”, e teve apreendidos documentos relacionados com a história contada pelo colunista?
O jornalismo, lamentou Alan Rusbridge, “pode estar enfrentando uma espécie de ameaça existencial”. Conforme escreveu o âncora da “CBS Evening News”, Dan Rather: “Temos alguns príncipes e condes hoje, mas certamente eles têm seus equivalentes modernos que buscam gerenciar a notícia, fazer fatos desagradáveis desaparecerem e eleger os representantes que estão a serviço de sua própria agenda econômica e social. A 'imprensa livre' não é mais um fiscal do poder. Ela foi transformada em parte do próprio aparato de poder”.
7. Jornalistas corporativos odeiam jornalistas reais
Michael Grunwald, correspondente do “Times”, tuitou que não podia esperar para escrever uma reportagem sobre quando um drone matasse Julian Assange. O escritor David Sirota sublinhou a ironia do fato: “Aqui temos a excitação expressa de um repórter sobre a perspectiva de o governo executar o editor de informações que se tornou a base para algumas das mais importantes informações jornalísticas da última década”. Sirota passou a notar vários exemplos do que ele chama de “jornalistas contra o Clube do Jornalismo”, e cita vários exemplos, como o colunista do “The Guardian”, Glenn Greenwald, que foi atacado pela imprensa corporativa por causa dos vazamentos feitos por Snowden.
Andrew Ross Sorkin, do “New York Times”, pediu a prisão de Greenwald, enquanto David Gregory, da “NBC”, declarou que Greenwald tem “ajudado e instigado Snowden”. Quanto à questão de saber se os jornalistas podem, de fato, ser francos, Sirota observa precisamente que tudo depende se suas opiniões servem ou desafiam o status quo, e, assim, passam à lista da hipocrisia dos críticos de Greenwald: "Grunwald tem dado opiniões barulhentas que orgulhosamente apoiam os ataques aéreos do governo e de vigilância. As opiniões de Sorkin promovem os interesses de Wall Street. David Broder (do “The Washington Post”) tinha opiniões que sustentavam, entre outras coisas, a agenda comercial do “livre” serviço corporativo do governo. Bob Woodward (também do “Washington Post”) tem opiniões de apoio cada vez maiores ao orçamento do Pentágono, que enriquece empreiteiros do setor de defesa. Jeffrey Goldberg (“The Atlantic's”) promove o complexo militar-industrial, e geralmente tem opiniões pró-guerra. Thomas Friedman (“New York Times”) tem as mesmas opiniões de todos os outros, promovendo o “livre” comércio, por exemplo. Essas vozes lealmente promovem os pressupostos não declarados que servem às estruturas de poder e que dominam a política americana. Todas as suas opiniões particulares não são sequer tipicamente retratadas como opiniões, pois geralmente representam "objetividade sem polêmicas”.
8. Má notícia vende, boa notícia é censurada, e fofocas de celebridades são questões importantes
É triste mas é verdade: uma má notícia realmente vende mais jornais. Mas por quê? Será que estamos realmente tão pessimistas? Será que saboreamos o sofrimento dos outros? Estamos secretamente felizes de que algo terrível aconteceu com alguém, que não seja nós? Lendo a imprensa corporativa como um alienígena em visita à Terra, você poderá achar isso. Geralmente, a cobertura de notícias é sensacionalista e deprimente como o inferno, com tantas páginas dedicadas a homicídios, estupros e pedofilia, mas nenhuma (ou muito poucas) para as centenas de milhares de boas ações e movimentos incrivelmente inspiradores que ocorrem a cada minuto de cada dia em todo o planeta.
As razões para consumirmos más notícias é perfeitamente lógica. Em tempos de paz e harmonia, as pessoas simplesmente não sentem a necessidade de educar-se, tanto quanto o fazem em épocas de crise. Essa é uma boa notícia para quem começava a se desesperar com a ideia de que os seres humanos são apáticos, odiosos e mudos. Poder-se-ia argumentar que esse fato preocupante e simples é um grande incentivo para a indústria da comunicação social para fazer algo que vale a pena. Ela poderia começar a oferecer um ângulo positivo e de esperança para uma mudança. Poderia usar períodos obscuros de maior interesse público para transmitir uma mensagem de paz e de justiça. Poderia refletir o desejo da humanidade por soluções e nossas preocupações urgentes com o meio ambiente. Poderia atuar como a voz de uma população mundial que sofreu bastante com violência e mentiras, para fazer campanha voltada à transparência, à igualdade, à liberdade, à verdade e à verdadeira democracia. Venderia jornais? Acho que sim. Poderiam até mesmo defender alguns políticos em nome do povo. Mas, para o futuro próximo, é provável que a imprensa corporativa só venha a desviar nossa atenção com outra foto da bunda da Rihanna, outro rumor sobre os hábitos de Justin Bieber ou outro artigo sobre Kim Kardashian usando saltos altos com os tornozelos inchados durante a gravidez.
9. Quem controla a linguagem controla a população
Você já leu clássico romance de George Orwell, “1984”? Ele tornou-se uma referência-clichê na distopia de hoje, isso é verdade, mas com uma boa razão. Há muitos, muitos paralelos entre o futuro obscuro e imaginário de Orwell e nossa realidade atual, mas uma parte importante de sua visão se concentra na língua. Orwell cunhou o termo “novilíngua” para descrever uma versão simplista do idioma inglês com o objetivo de limitar o livre pensamento sobre as questões que desafiam o status quo (criatividade, paz e individualismo, por exemplo). O conceito de novilíngua inclui o que Orwell chamou de “duplipensar” – como a linguagem é construída de forma ambígua, ou mesmo invertida, para transmitir o oposto do que é verdadeiro. Em seu livro, o Ministério da Guerra é conhecido como o Ministério do Amor, por exemplo, enquanto o Ministério da Verdade lida com propaganda e entretenimento. Soa familiar?
Outro livro que investiga o tema mais profundamente é “Unspeak”, uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em linguagem e poder e, especificamente, em entender como as palavras são distorcidas para fins políticos. Termos como “mísseis mantenedores da paz”, “extremistas” e “zonas livres”, as armas sendo referidas como “espólios”, ou eufemismos comerciais enganosos como “enxugamento” para redundâncias e “por do sol” para o extermínio – esses e centenas de outros exemplos demonstram como a linguagem pode ser poderosa. Em um mundo de crescente monopolização da mídia corporativa, aqueles que exercem o poder podem manipular palavras e, portanto, a reação do público, para incentivar o cumprimento, defender o status quo, ou provocar medo.
10. A liberdade de imprensa não existe mais
A única imprensa que está atualmente livre (pelo menos por enquanto) é a publicação independente, sem anunciantes corporativos, conselho de administração, acionistas ou diretores executivos. Detalhes de como o Estado redefiniu jornalismo são mencionados no item nº 7, mas o melhor exemplo recente seria o tratamento do governo ao “The Guardian” sobre a publicação dos vazamentos de Snowden.
É bom ressaltar que é possível que esse jornal jogue conosco, assim como qualquer outro – o “Guardian Group” não é peixe pequeno, afinal. Por outro lado, deveríamos achar difícil de acreditar que, depois da publicação dos arquivos da NSA, o editor Alan Rusbridge relatou o que foi dito pelas autoridades: “você já teve o seu divertimento, agora devolva os arquivos”; que os funcionários do governo invadiram a redação e destruíram discos rígidos, ou que o parceiro de Greenwald, David Miranda, foi detido por nove horas em um aeroporto de Londres sob a “Lei de Terrorismo”, e teve apreendidos documentos relacionados com a história contada pelo colunista?
O jornalismo, lamentou Alan Rusbridge, “pode estar enfrentando uma espécie de ameaça existencial”. Conforme escreveu o âncora da “CBS Evening News”, Dan Rather: “Temos alguns príncipes e condes hoje, mas certamente eles têm seus equivalentes modernos que buscam gerenciar a notícia, fazer fatos desagradáveis desaparecerem e eleger os representantes que estão a serviço de sua própria agenda econômica e social. A 'imprensa livre' não é mais um fiscal do poder. Ela foi transformada em parte do próprio aparato de poder”.
FONTE:
escrito por Sophie McAdam,
no site “True
Activism” (EUA).
Transcrito no “Jornal GGN” (http://jornalggn.com.br/noticia/dez-fatos-perturbadores-sobre-a-grande-midia).
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