Especial: Karl Marx tinha razão
Joaquim Palhares - Diretor da Carta Maior
O que o Especial enfatiza é que a sociedade não se livrará da servidão rentista pela lógica de mercado. É forçoso organizar a resposta política a isso.
Joaquim Palhares - Diretor da Carta Maior
Os ciclos históricos tem um começo e tem um fim.
O ciclo iniciado nas grandes greves do ABC dos anos 70 e 80 condensou impulsos que nos fizeram chegar até aqui.
Agora já não tem mais a força necessária para nos levar adiante.
As condições objetivas mudaram nesses quase 40 anos.
A classe trabalhadora brasileira também sofreu transformações. Gerações mudaram. A precarização avançou. Empregos de baixa qualidade predominam em um cenário de industrialização declinante.
Precisamos de novos instrumentos com abrangência e capilaridade para enfrentar o mais virulento cerco contra os direitos democráticos e as forças progressistas observado desde o golpe de 1964.
Sacrificar 90% da sociedade para gerar riqueza em benefício de 1%: esse é o programa econômico do conservadorismo para a encruzilhada atual do desenvolvimento brasileiro.
Não há nada mais importante nesse momento do que organizar a capacitação política do campo progressista para enfrentar a severidade dessa ofensiva que interdita a inauguração de um novo ciclo de crescimento e avanço social.
Aquilo que nos devora, que nos faz girar em círculos até a prostração, é a hesitação diante dessa tarefa incontornável.
Em 12 anos de governos de centro esquerda demos passos efetivos na construção da nova fronteira de soberania no século XXI: aquela calcada na justiça social e em alianças internacionais progressistas.
Mas descuidamos do indispensável: a contrapartida da organização popular capaz de sustentar e adicionar avanços a esse percurso.
A fatura chegou.
Sem o protagonismo de uma frente democrática e popular afundaremos no limbo de um golpe branco em que os derrotados nas urnas de 2014 comandam a economia, o judiciário, a mídia, o parlamento e o imaginário social.
A ênfase é rebaixar o custo do trabalho, desmontar o pleno emprego, minar os sindicatos, acuar o poder de barganha do trabalho, impor, enfim, o custo da crise nos ombros das famílias assalariadas.
O Brasil gasta pouco mais de 1% do PIB com todas as universidades públicas federais e com o Bolsa Família.
Mas destina 6% do PIB aos rentistas da dívida pública interna.
Cortamos o PAC, o investimento no pré-sal, o Pronatec, suspendemos a renegociação da dívida dos municípios. Mas recolocamos o país, de novo, na humilhante condição de maior taxa de juro do planeta: 7% acima da inflação faz do Brasil o principal pasto de engorda do rentismo global.
Reverter esse quadro não é obra que se possa atribuir a uma liderança ou a um partido.
O Brasil necessita urgentemente viabilizar um novo braço coletivo.
Que seja maior do que a soma das partes, capaz de sacudir o torpor da esquerda, afrontar a soberba da direita, abrir espaço para o governo recuperar seu projeto e a capacidade de iniciativa.
Listar plataformas e bandeiras é quase um truísmo, tão vertiginosa é a sua evidência na encruzilhada brasileira.
Afastar o país do desmonte neoliberal implica coibir a mobilidade dos capitais, taxar o lucro financeiro, os bancos, tributar a herança e assim destinar fôlego fiscal à infraestrutura, à saúde pública, à educação de qualidade.
Nada disso acontecerá sem romper um oligopólio de comunicação que envenena o discernimento social, sabota o pacto entre o desenvolvimento e a democracia social.
O Brasil se mexe.
Em diferentes áreas, vicejam sementes da mobilização necessária para construir uma frente ampla democrática e progressista que abrace as tarefas de hoje e de amanhã.
Carta Maior, modestamente, participa desse mutirão.
Já no final da campanha de 2014, antevendo o esgotamento de um ciclo, criamos o Fórum 21.
Intelectuais, lideranças e quadros de todas as matizes da esquerda tem se debruçado ali sobre a encruzilhada do desenvolvimento brasileiro.
Trata-se agora de sair da esfera dos colóquios dispersos e avulsos para o impulso de uma agenda unificada, prática e desassombrada.
O V Congresso do PT que começa na próxima 5ª feira pode ser o marco histórico dessa virada política.
Para isso, todavia, há um requisito.
Os senhores congressistas precisam ter a coragem histórica de assumir o papel que o partido ainda pode ter como elemento catalizador da frente ampla política que o momento brasileiro requer.
É necessário instituir um comitê provisório de organizações e personalidades para convocar um fórum permanente que coordene lutas, mobilizações e uma conferência nacional.
As eleições municipais de 2016 devem funcionar como um aquecimento do mutirão progressistas.
Mirem-se na Espanha. E, sobretudo, na plataforma que empolgou Barcelona a conclamar seus cidadãos a construir uma cidade que afronte a precariedade e a incerteza da lógica neoliberal (leia a reportagem sobre Barcelona)
É crucial dispor de um instrumento de comunicação. Bem como de recursos para promover seminários, trazer e levar conferencias e explanadores para todo o Brasil.
Sobretudo, porém, para que essa ferramenta deixe de ser uma miragem, para se tornar uma referência aglutinadora da ação, é preciso ter o discernimento claro sobre a engrenagem a afrontar.
O Especial da Carta Maior deste final de semana é uma contribuição nesse sentido.
O que ele enfatiza, com textos marxistas calcados na discussão concreta dos impasses do presente, é que a superprodução de capitais é a contraface indissociável da escassez de demanda gerada pela precarização do trabalho em nossa época.
Dessa servidão rentista a sociedade não se livrará pela lógica de mercado.
É forçoso organizar a resposta política a isso.
Nenhum ajuste de mercado o fará por nós --é esse o recado substantivo dos textos aqui reunidos.
E foi com esse objetivo que corremos o risco de publicá-los em desafio à norma da simplificação e da frivolidade dominante.
Ou as forças progressistas –e o V Congresso do PT, sobretudo— assumem a contrapartida prática desse desassombro, ou o país afundará refém da espiral descendente comandada pelos Cunhas, Aécios & assemelhados.
Os textos desse especial –repita-se-- não são afeitos à leitura apressada. Porém são dotados da urgência política que pavimenta a compreensão dos afazeres do nosso tempo.
A semana do V Congresso do PT é um pedaço do futuro interditado pela lógica de mercado (leiam também ‘O futuro empoçado’)
Desejamos, sinceramente, que os congressistas reunidos em Salvador a partir desta 5ª feira dediquem um pedaço de seu tempo a esse especial. E extraiam dele as consequências históricas para o Brasil que desejamos construir para os nosso filhos, os filhos e netos que um dia eles terão.
Mãos à obra
O ciclo iniciado nas grandes greves do ABC dos anos 70 e 80 condensou impulsos que nos fizeram chegar até aqui.
Agora já não tem mais a força necessária para nos levar adiante.
As condições objetivas mudaram nesses quase 40 anos.
A classe trabalhadora brasileira também sofreu transformações. Gerações mudaram. A precarização avançou. Empregos de baixa qualidade predominam em um cenário de industrialização declinante.
Precisamos de novos instrumentos com abrangência e capilaridade para enfrentar o mais virulento cerco contra os direitos democráticos e as forças progressistas observado desde o golpe de 1964.
Sacrificar 90% da sociedade para gerar riqueza em benefício de 1%: esse é o programa econômico do conservadorismo para a encruzilhada atual do desenvolvimento brasileiro.
Não há nada mais importante nesse momento do que organizar a capacitação política do campo progressista para enfrentar a severidade dessa ofensiva que interdita a inauguração de um novo ciclo de crescimento e avanço social.
Aquilo que nos devora, que nos faz girar em círculos até a prostração, é a hesitação diante dessa tarefa incontornável.
Em 12 anos de governos de centro esquerda demos passos efetivos na construção da nova fronteira de soberania no século XXI: aquela calcada na justiça social e em alianças internacionais progressistas.
Mas descuidamos do indispensável: a contrapartida da organização popular capaz de sustentar e adicionar avanços a esse percurso.
A fatura chegou.
Sem o protagonismo de uma frente democrática e popular afundaremos no limbo de um golpe branco em que os derrotados nas urnas de 2014 comandam a economia, o judiciário, a mídia, o parlamento e o imaginário social.
A ênfase é rebaixar o custo do trabalho, desmontar o pleno emprego, minar os sindicatos, acuar o poder de barganha do trabalho, impor, enfim, o custo da crise nos ombros das famílias assalariadas.
O Brasil gasta pouco mais de 1% do PIB com todas as universidades públicas federais e com o Bolsa Família.
Mas destina 6% do PIB aos rentistas da dívida pública interna.
Cortamos o PAC, o investimento no pré-sal, o Pronatec, suspendemos a renegociação da dívida dos municípios. Mas recolocamos o país, de novo, na humilhante condição de maior taxa de juro do planeta: 7% acima da inflação faz do Brasil o principal pasto de engorda do rentismo global.
Reverter esse quadro não é obra que se possa atribuir a uma liderança ou a um partido.
O Brasil necessita urgentemente viabilizar um novo braço coletivo.
Que seja maior do que a soma das partes, capaz de sacudir o torpor da esquerda, afrontar a soberba da direita, abrir espaço para o governo recuperar seu projeto e a capacidade de iniciativa.
Listar plataformas e bandeiras é quase um truísmo, tão vertiginosa é a sua evidência na encruzilhada brasileira.
Afastar o país do desmonte neoliberal implica coibir a mobilidade dos capitais, taxar o lucro financeiro, os bancos, tributar a herança e assim destinar fôlego fiscal à infraestrutura, à saúde pública, à educação de qualidade.
Nada disso acontecerá sem romper um oligopólio de comunicação que envenena o discernimento social, sabota o pacto entre o desenvolvimento e a democracia social.
O Brasil se mexe.
Em diferentes áreas, vicejam sementes da mobilização necessária para construir uma frente ampla democrática e progressista que abrace as tarefas de hoje e de amanhã.
Carta Maior, modestamente, participa desse mutirão.
Já no final da campanha de 2014, antevendo o esgotamento de um ciclo, criamos o Fórum 21.
Intelectuais, lideranças e quadros de todas as matizes da esquerda tem se debruçado ali sobre a encruzilhada do desenvolvimento brasileiro.
Trata-se agora de sair da esfera dos colóquios dispersos e avulsos para o impulso de uma agenda unificada, prática e desassombrada.
O V Congresso do PT que começa na próxima 5ª feira pode ser o marco histórico dessa virada política.
Para isso, todavia, há um requisito.
Os senhores congressistas precisam ter a coragem histórica de assumir o papel que o partido ainda pode ter como elemento catalizador da frente ampla política que o momento brasileiro requer.
É necessário instituir um comitê provisório de organizações e personalidades para convocar um fórum permanente que coordene lutas, mobilizações e uma conferência nacional.
As eleições municipais de 2016 devem funcionar como um aquecimento do mutirão progressistas.
Mirem-se na Espanha. E, sobretudo, na plataforma que empolgou Barcelona a conclamar seus cidadãos a construir uma cidade que afronte a precariedade e a incerteza da lógica neoliberal (leia a reportagem sobre Barcelona)
É crucial dispor de um instrumento de comunicação. Bem como de recursos para promover seminários, trazer e levar conferencias e explanadores para todo o Brasil.
Sobretudo, porém, para que essa ferramenta deixe de ser uma miragem, para se tornar uma referência aglutinadora da ação, é preciso ter o discernimento claro sobre a engrenagem a afrontar.
O Especial da Carta Maior deste final de semana é uma contribuição nesse sentido.
O que ele enfatiza, com textos marxistas calcados na discussão concreta dos impasses do presente, é que a superprodução de capitais é a contraface indissociável da escassez de demanda gerada pela precarização do trabalho em nossa época.
Dessa servidão rentista a sociedade não se livrará pela lógica de mercado.
É forçoso organizar a resposta política a isso.
Nenhum ajuste de mercado o fará por nós --é esse o recado substantivo dos textos aqui reunidos.
E foi com esse objetivo que corremos o risco de publicá-los em desafio à norma da simplificação e da frivolidade dominante.
Ou as forças progressistas –e o V Congresso do PT, sobretudo— assumem a contrapartida prática desse desassombro, ou o país afundará refém da espiral descendente comandada pelos Cunhas, Aécios & assemelhados.
Os textos desse especial –repita-se-- não são afeitos à leitura apressada. Porém são dotados da urgência política que pavimenta a compreensão dos afazeres do nosso tempo.
A semana do V Congresso do PT é um pedaço do futuro interditado pela lógica de mercado (leiam também ‘O futuro empoçado’)
Desejamos, sinceramente, que os congressistas reunidos em Salvador a partir desta 5ª feira dediquem um pedaço de seu tempo a esse especial. E extraiam dele as consequências históricas para o Brasil que desejamos construir para os nosso filhos, os filhos e netos que um dia eles terão.
Mãos à obra
Nenhum comentário:
Postar um comentário