terça-feira, 30 de junho de 2015

MÍDIA - A mídia brasileira sui generis.

Jorge Luis

A Mídia Brasileira Sui Generis

Uma vez definido esse ponto, e sabendo-se que o "produto" vendido por essas empresas é a notícia, devemos determinar qual o tipo de notícia que gera mais receita e, portanto, resulta em um lucro maior: notícias positivas ou negativas?
Bem, essa é fácil de responder. Já é uma máxima do jornalismo: "notícia boa não vende jornal". Isso explica muito da predileção das empresas de mídia pelas notícias negativas, deixando de lado as coisas boas, como se apenas desgraças acontecessem todos os dias.
Outra característica cada vez mais presente é a velocidade com que as notícias precisam ser transmitidas. Notícia velha também não vende. Com a competição cada vez maior com a internet, as empresas de mídia precisam apresentar conteúdo de forma constante, sob pena de perderem o ineditismo da notícia. E aí reside outro problema: quanto mais rápido, menos validações são realizadas, e maiores são as possibilidades de uma notícia falsa (totalmente ou parcialmente) ser publicada.
A concorrência com a internet também tem gerado inúmeras baixas nas empresas de mídia tradicionais, com demissões e cortes de custo, o que também prejudica a qualidade do que é publicado, chegando ao ponto de, às vezes, praticamente "fabricarem" uma notícia apenas para manterem a cota de conteúdo.
Até aqui, nada do que foi dito tem qualquer relação com um país específico. A mídia em todo o planeta se comporta dessa forma, apenas com pequenas variações de intensidade. Mesmo assim, poucas pessoas levam isso em consideração e aplicam o devido "filtro" ao que é noticiado.
Mas o objetivo deste texto é apresentar as características únicas de nossa mídia, que a transformaram em uma das mais reacionárias do mundo.
Em primeiro lugar, não devemos esquecer que o Brasil é um país jovem. Nossa república é jovem e nosso atual período democrático é quase um bebê em relação a democracias de outros países com importância internacional e economias parecidas com as nossas. Definido esse contexto, também é importantíssimo lembrar que a nossa mídia atualmente é concentrada nas mãos de meia-dúzia de famílias (Saad, da Band; Mesquita, do Estadão; Marinho, do grupo Globo; Civita, da Editora Abril; Frias, da Folha de São Paulo), todas com viés extremamente conservador. Como chegamos a esse ponto?
Como eu já disse, saímos recentemente (para os padrões de tempo que envolvem nações) de uma ditadura, marcada por uma forte repressão e censura. Jornais que não se alinhavam ao governo foram perseguidos e fechados. Jornalistas foram presos e alguns "suicidados" na prisão. Não é ilógico afirmar que as empresas de comunicação que sobreviveram, e até mesmo prosperaram, nesse período foram as que se alinharam ideologicamente com o regime vigente, justamente as famílias citadas acima, todas donas de veículos de mídia que saíram da ditadura já como grandes empresas do ramo.
Assim, não é de surpreender que elas sejam alheias à democracia e defendam o que mais existe de retrógrado na sociedade brasileira. Foi isso o que sempre fizeram. É o que estão acostumadas a fazer. Foi assim que prosperaram, enquanto outras simplesmente desapareceram.
Ah! "Mas nem todo mundo que trabalha nessas empresas, pensa dessa forma", alguém poderia dizer. Será mesmo? Se você fosse o dono de uma empresa cuja mercadoria é a notícia, algo que sempre pode ser apresentado de inúmeras maneiras, você contrataria como diretor geral uma pessoa alinhada aos seus pensamentos e interesses ou uma pessoa com pensamentos diametralmente opostos aos seus? E, seguindo na linha hierárquica, você, como diretor geral, contrataria um chefe de redação no qual confiasse, que comungasse dos mesmos interesses e opiniões que você, ou alguém que iria discordar diariamente e que precisaria ser "policiado" de forma constante para que não publicasse algo que o "patrão" não gostasse? E por aí vai, seguindo a linha hierárquica até o office-boy, passando é claro, pelos jornalistas e colunistas.
Claro, quanto mais longe do topo da hierarquia, mais possível a contratação de alguém que não reze pela mesma cartilha dos patrões, pelo menos não de forma tão "devota". Isso pode até mesmo ser proposital, para tentar passar alguma isenção, já que a credibilidade e imparcialidade são características sempre apregoadas pela imprensa, mesmo que sejam somente para efeito de marketing. Mas não se iludam, se as empresas de mídia sempre apontam o dedo ao governo toda vez que se toca no assunto da regulação, gritando "censura!", são elas as maiores praticantes desse recurso. Ou será que alguém realmente acredita que um artigo que desagrade aos patrões seria publicado? Não existe nenhum "espírito santo" que baixe nos donos da mídia e que permita publicar algo, mesmo que isso os prejudique ou vá contra a sua orientação ideológica. Da mesma forma, o dono de uma outra empresa qualquer não deixaria que um produto fosse fabricado e vendido se ele não gostasse. Alguém imagina um telefone sendo vendido pela Apple que não fosse aprovado, na época, pelo Steve Jobs?
Hoje em dia, até mesmo a necessidade dessa "censura interna" tem se reduzido. Com a crise que assola as empresas de mídia e os cortes acontecendo, adivinhe quem eles mandam primeiro para a rua? Os jornalistas, colunistas e demais funcionários que sempre escreveram o que o padrão queria, ou os que são "desalinhados" em relação aos pensamentos e ideologias de seus superiores? Estamos chegando ao ponto em que não sobra mais nenhum "desalinhado", ficando a disputa entre os mais e os menos radicais na defesa dos ideais dos patrões. Quanto mais "Pit bull", maior a chance de escapar do corte, pelo menos até que ocorra o próximo. Isso ajuda a explicar, em parte, o fenômeno da radicalização de nossa mídia no decorrer dos últimos anos. As pessoas que tinham opinião contrária a das grandes famílias da mídia foram sendo expurgadas, ficando apenas as que apoiam essas posições. Depois, até aqueles que, mesmo apoiando, pelo menos parcialmente, a opinião dos patrões, ainda faziam críticas com alguma dose de bom senso, também começaram a sair. Sobrou só isso que está aí hoje, onde os empregados talvez sejam até mais radicais do que os patrões, simplesmente para que consigam garantir que sejam eles que vão apagar a luz, no dia do fechamento final.

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