Ofensiva de Eduardo Cunha atropela Aécio e Alckmin
Os fatos se atropelam: pode parecer absurdo, mas a corrida pela sucessão presidencial já começou, menos de seis meses após o início do novo governo. Surfando no comando da onda conservadora que assola o país, sai na frente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que já se lançou ostensivamente em campanha, ao propor o rompimento do PMDB com o PT e se aliar ao PSDB na CPI da Petrobras.
No mesmo final de semana em que Cunha se utilizou mais uma vez do Twitter para ganhar as manchetes, subindo o tom das suas críticas ao governo e partido aliados, as convenções estaduais do PSDB em Minas Gerais e São Paulo se apressavam em lançar as candidaturas presidenciais de Aécio Neves e Geraldo Alckmin, respectivamente, mas ninguém deu muita bola aos tucanos.
O dono da bola agora é o fominha Eduardo Cunha, que deu mais um passo em sua cruzada rumo ao poder central ao receber nesta segunda-feira, em São Paulo, o epicentro da ação reacionária, 30 representantes de 10 grupos organizados para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Não por acaso, o porta-voz dos grupos foi o advogado Danilo Amaral, típico playboy paulistano, integrante do movimento Acorda Brasil, de quem até outro dia ninguém havia ouvido falar, é aquele cidadão que no mês passado afrontou o ex-ministro Alexandre Padilha num restaurante da cidade.
"Todos temos simpatia pelas ações do Cunha, e pela saída da presidente _ ou por impeachment ou por renúncia", disse Amaral à imprensa que lhe ofereceu câmeras e microfones após o encontro. Os neogolpistas cobraram Cunha sobre o andamento do pedido de impeachment da presidente, que lhe foi entregue dias atrás pelo Movimento Brasil Livre, ao final da marcha fracassada de alguns gatos pingados de São Paulo até Brasília.
Ações sincronizadas agora se voltam para o Tribunal de Contas da União. Sai de cena o jurista Miguel Reale Junior, que não entregou os pareceres com o mesmo objetivo encomendados pelo PSDB, e entra o presidente do TCU, Augusto Nardes, que já marcou para esta quarta-feira o julgamento das contas do governo federal de 2014, com as chamadas "pedaladas fiscais", aguardado pelas oposições para fundamentar um novo pedido. Eles não desistem. A Folha já se antecipou e informa que, com base no que o tribunal decidir, "caso os parlamentares não aprovem o balanço, qualquer cidadão poderá pedir à Câmara abertura de um processo de impeachment".
Em outro flanco, Cunha, Aécio e Alckmin apostam alto nas investigações promovidas pela frente formada por Justiça Federal, Ministério Público Federal e Polícia Federal, com o alegre apoio da mídia hegemônica, para investigar Lula e tirar o ex-presidente da disputa de 2018, que é o que eles mais temem. Na retaguarda, fica o ministro Gilmar Mendes, aliado de Cunha e líder da oposição no STF.
Pelos últimos movimentos dos correligionários dos três, temos a impressão de que não querem esperar até lá. Na sofreguidão para garantir a dianteira na corrida presidencial, parece até que temos novas eleições marcadas para a semana que vem.
Aos que acham que estou vendo chifres em cabeça de cavalo, lembro apenas que, quando Fernando Collor, de quem Eduardo Cunha foi cria, lançou sua candidatura a presidente da República, em 1989, também ninguém o levava a sério nem acreditava ser possível a sua chegada ao Palácio do Planalto.
Autonomeado dono do PMDB e de todas as suas instâncias partidárias, em nome de quem tem lançado seus ataques ao PT e ao governo, controlador de ampla bancada suprapartidária que manda na Câmara, praticamente sem adversários políticos à vista, nem no governo nem na oposição, o principal objetivo de Cunha no momento é tirar da frente o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o investiga na Operação Lava Jato e é o único que pode obstar suas pretensões.
Aécio Neves e Geraldo Alckmin, que já começaram a trocar finas farpas, podem ficar para depois, mas desde já o todo poderoso presidente da Câmara atropela meio mundo na ânsia de garantir todos os espaços possíveis.
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