A Grécia e o futuro da União Europeia
No próximo dia 30 vence o prazo para a Grécia quitar, com o Fundo Monetário Internacional (FMI), quatro parcelas de uma dívida de €U 240 bilhões. Parte do pagamento, de €U 1,6 bilhão, deveria ter sido feito em 5 de junho. Mas pela primeira vez, em cinco anos, o país adiou, no começo do mês, o pagamento de uma parcela da “ajuda financeira” obtida junto a governos da zona do euro e ao FMI. Há uma queda-de-braços entre o governo grego, a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) e a esquerda do Syriza, na Grécia, a respeito de como o país deve lidar com as medidas de austeridade que a União Europeia ainda quer impor ao país. E nesta queda-de-braços, alertam o economista Joseph Stiglitz e o intelectual David Harvey, está em jogo o futuro da Zona do Euro.
No dia 31 de maio o primeiro-ministro grego publicou, no jornal francês Le Monde, um artigo no qual explica a importância de um acordo que evite saída de seu país da União Europeia. No texto, ele divulga as medidas já aceitas pelo Syriza para chegar a este acordo. “Superávits orçamentários; abandono efetivo da demanda do Syriza, durante as eleições, de se cancelarem todas as dívidas; aumento no Imposto sobre Valor Agregado; adiamento do aumento no salário mínimo e restauração da negociação coletiva de salários para futuro vago, e só se a Organização Internacional do Trabalho aprovar; implementação de reformas para reduzir aposentadorias e reconhecimento de impostos existentes sobre a propriedade, os mesmos que o Syriza declaradamente se comprometeu a abolir”, explica Stathis Kouvelaki, integrante do Comitê Central do Syriza e crítico a essas medidas. Os artigos de Tsipras e Kouvelaki podem ser lidos aqui, em inglês.
A União Europeia disse “não”. No dia 9 de junho, veja na Reuters a notícia, as instituições que representam os credores da Grécia disseram que a proposta de reforma feita pelo país não era suficiente para fechar um acordo que destrave novos recursos — necessários para o pagamento da dívida. “O que foi entregue não é suficiente para avançar com o processo. Não é suficiente e não é aceitável para os Estados membros”, disseram duas autoridades, que não se identificaram, à agência de notícias.
Em sua coluna, Tsipras diz que as medidas de austeridade já implantadas fizeram com que, em cinco anos, o desemprego na Grécia saltasse para 28% (60% entre os mais jovens), e a renda média caísse 40%. E mesmo com todo o dano causado à população grega, o programa de nada serviu para devolver competitividade à economia e a dívida pública inchou de 124% para 180% do PIB. Ele diz que agora é hora da União Europeia decidir se pretende aprofundar a integração europeia num contexto de igualdade e de solidariedade entre povos e cidadãos. Ou se vai conduzir a Grécia à ruptura e à divisão da zona euro, e, com isso, da União Europeia.
E é esta possibilidade, de ruptura, que preocupa Stiglitz, de acordo com artigo reproduzido pelo site Outras Palavras. “Não é de interesse da Europa – ou do mundo – afastar um país periférico europeu de seus vizinhos, especialmente agora, quando a instabilidade política é tão evidente. O Oriente Médio está em chamas. O Ocidente tenta conter a Rússia. A China, já hoje a maior fonte mundial de poupança, o país com maior comercio externo e a maior economia (se levado em conta o poder de compra das moedas) confronta o Ocidente com novas realidades econômicas e estratégicas. Não é hora de uma Desunião Europeia.”
E preocupa Harvey, conforme ele explica nesta entrevista ao Opera Mundi. “Me parece muito claro que o Syriza vai sair da UE. Eles vão ser chutados do bloco, porque não vão dar default em suas promessas para a população. Mas o perigo é que, se o Syriza falhar — e voltar a registrar apenas os 3% das preferências da população grega como fazia nas eleições muitos anos atrás —, o único outro partido capaz de seguir à frente com os interesses gregos é a legenda fascista de extrema-direita, a Aurora Dourada. Eles [os líderes da União Europeia] vão se arrepender muito se pressionarem o Syriza a ponto de fazê-lo falhar, vendo, então, o crescimento de um governo fascista na Grécia. Mas, como assistimos em muitas partes da Europa, com a ascensão de correntes fascistas na Hungria, França, Bélgica e Holanda, essa tendência de ultradireita surge como uma alternativa política muito forte no momento. Dessa forma, vai ser no melhor dos interesses de todos os políticos dar apoio à esquerda.”
No próximo dia 30 vence o prazo para a Grécia quitar, com o Fundo Monetário Internacional (FMI), quatro parcelas de uma dívida de €U 240 bilhões. Parte do pagamento, de €U 1,6 bilhão, deveria ter sido feito em 5 de junho. Mas pela primeira vez, em cinco anos, o país adiou, no começo do mês, o pagamento de uma parcela da “ajuda financeira” obtida junto a governos da zona do euro e ao FMI. Há uma queda-de-braços entre o governo grego, a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) e a esquerda do Syriza, na Grécia, a respeito de como o país deve lidar com as medidas de austeridade que a União Europeia ainda quer impor ao país. E nesta queda-de-braços, alertam o economista Joseph Stiglitz e o intelectual David Harvey, está em jogo o futuro da Zona do Euro.
No dia 31 de maio o primeiro-ministro grego publicou, no jornal francês Le Monde, um artigo no qual explica a importância de um acordo que evite saída de seu país da União Europeia. No texto, ele divulga as medidas já aceitas pelo Syriza para chegar a este acordo. “Superávits orçamentários; abandono efetivo da demanda do Syriza, durante as eleições, de se cancelarem todas as dívidas; aumento no Imposto sobre Valor Agregado; adiamento do aumento no salário mínimo e restauração da negociação coletiva de salários para futuro vago, e só se a Organização Internacional do Trabalho aprovar; implementação de reformas para reduzir aposentadorias e reconhecimento de impostos existentes sobre a propriedade, os mesmos que o Syriza declaradamente se comprometeu a abolir”, explica Stathis Kouvelaki, integrante do Comitê Central do Syriza e crítico a essas medidas. Os artigos de Tsipras e Kouvelaki podem ser lidos aqui, em inglês.
A União Europeia disse “não”. No dia 9 de junho, veja na Reuters a notícia, as instituições que representam os credores da Grécia disseram que a proposta de reforma feita pelo país não era suficiente para fechar um acordo que destrave novos recursos — necessários para o pagamento da dívida. “O que foi entregue não é suficiente para avançar com o processo. Não é suficiente e não é aceitável para os Estados membros”, disseram duas autoridades, que não se identificaram, à agência de notícias.
Em sua coluna, Tsipras diz que as medidas de austeridade já implantadas fizeram com que, em cinco anos, o desemprego na Grécia saltasse para 28% (60% entre os mais jovens), e a renda média caísse 40%. E mesmo com todo o dano causado à população grega, o programa de nada serviu para devolver competitividade à economia e a dívida pública inchou de 124% para 180% do PIB. Ele diz que agora é hora da União Europeia decidir se pretende aprofundar a integração europeia num contexto de igualdade e de solidariedade entre povos e cidadãos. Ou se vai conduzir a Grécia à ruptura e à divisão da zona euro, e, com isso, da União Europeia.
E é esta possibilidade, de ruptura, que preocupa Stiglitz, de acordo com artigo reproduzido pelo site Outras Palavras. “Não é de interesse da Europa – ou do mundo – afastar um país periférico europeu de seus vizinhos, especialmente agora, quando a instabilidade política é tão evidente. O Oriente Médio está em chamas. O Ocidente tenta conter a Rússia. A China, já hoje a maior fonte mundial de poupança, o país com maior comercio externo e a maior economia (se levado em conta o poder de compra das moedas) confronta o Ocidente com novas realidades econômicas e estratégicas. Não é hora de uma Desunião Europeia.”
E preocupa Harvey, conforme ele explica nesta entrevista ao Opera Mundi. “Me parece muito claro que o Syriza vai sair da UE. Eles vão ser chutados do bloco, porque não vão dar default em suas promessas para a população. Mas o perigo é que, se o Syriza falhar — e voltar a registrar apenas os 3% das preferências da população grega como fazia nas eleições muitos anos atrás —, o único outro partido capaz de seguir à frente com os interesses gregos é a legenda fascista de extrema-direita, a Aurora Dourada. Eles [os líderes da União Europeia] vão se arrepender muito se pressionarem o Syriza a ponto de fazê-lo falhar, vendo, então, o crescimento de um governo fascista na Grécia. Mas, como assistimos em muitas partes da Europa, com a ascensão de correntes fascistas na Hungria, França, Bélgica e Holanda, essa tendência de ultradireita surge como uma alternativa política muito forte no momento. Dessa forma, vai ser no melhor dos interesses de todos os políticos dar apoio à esquerda.”
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