Metáfora sobre médicos agora é crime. Publique-se, registre-se e intime-se…
A liberdade de expressão no Brasil está sendo executada nos tribunais.
Sobre ela, desce a lâmina inescapável do dinheiro.
O crítico literário Flávio René Kothe a pagar R$ 8 mil, a título de danos morais, ao Sindicato Médico do RS, noticia o Conjur, por um parágrafo onde faz uma metáfora com o comportamento de médicos que são gananciosos. E no condicional, vejam só:
‘‘Como os corvos no trigal de Van
Gogh, rondou-me a mente se médicos seriam como urubus dispostos a
disputar a fraqueza alheia para encher o papo. A falta de saúde dos
outros seria a saúde para a sua conta bancária. Decidi, porém, não ser
justa a comparação. Urubus não se aproveitam de seres vivos. Só descem
em círculos sobre defuntos. Quando temos o atestado de óbito, médicos
não se interessam mais por nós’’.
Perto do que já se escreveu sobre o comportamento de alguns médicos
e, sobretudo, perto do comportamento de alguns médicos – e não só
médicos: jornalistas, advogados ou lá o que seja – parece coisa de
jardim de infância dianteda famosa “Máfia de Branco” do Pasquim, nos
anos 70, quando vivíamos numa ditadura.Neste sentido, sim, talvez se possa condenar o crítico que ousou fazer a metáfora.
Urubus têm penas negras, não brancas como jalecos, mas da cor das vestes de outra corporação, que se tornou dona da liberdade de pensar e escrever.
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