sábado, 29 de outubro de 2016

POLÍTICA - Serra sumiu do noticiário da mídia golpista.



Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

O Balaio errou

Ao contrário do que escrevi no texto abaixo, o muro de proteção do PSDB conhecido por "não vem ao caso" continua firme e forte na grande imprensa brasileira. Não foi rompido.

A denúncia de delatores da Odebrecht contra o chanceler José Serra sobre os R$ 23 milhões pagos em caixa dois no Brasil e na Suíça na campanha presidencial de 2010, manchete da Folha de sexta-feira, já desapareceu misteriosamente do noticiário e não teve nenhuma repercussão nos demais veículos, ao contrário do que costuma acontecer.

A própria Folha se limita neste sábado a publicar notinha de uma coluna escondida na página A5 sob o título "Governo Temer silencia sobre acusação a Serra".

Não foi só o governo federal que silenciou, mas também os concorrentes do jornal e todos os seus colunistas, comentaristas, editorialistas e blogueiros, que evitaram tratar do assunto, não se sabe se por ordem superior ou se por livre iniciativa deles.

Gostaria apenas de saber como devem se sentir neste momento meus colegas jornalistas destas empresas. Nunca tinha visto nada parecido antes em meus mais de 50 anos de imprensa.

Bom final de semana a todos.

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Rompeu-se o muro de proteção de vazamentos das delações envolvendo políticos tucanos que ficou conhecido como "não vem ao caso".

"Odebrecht afirma ter pago caixa dois a Serra na Suíça", informa a manchete da Folha nesta sexta-feira, algo inimaginável no período pré-impeachment.

Explica-se agora todo o nervosismo que tomou conta dos políticos e deixou Brasília em transe nos últimos dias.

O conflito envolvendo membros dos três poderes foi consequência desse clima tenso pré-delações, não a causa.

Às vésperas do segundo turno das eleições municipais, começaram a vazar para todo lado, ainda em pequenas notas, as temidas delações da Odebrecht, agora podendo atingir políticos e partidos de todas as latitudes. A situação fugiu ao controle; a Lava Jato ganhou vida própria.

A assinatura dos acordos de delação premiada de Marcelo Odebrecht e 80 executivos da empreiteira está previsto para o próximo dia 8 de novembro, mas o estrago já começou.

Com nomes, codinomes, datas e números, a reportagem de Bela Megale na Folha conta como, segundo as delações de dois dos executivos, a campanha de 2010 de José Serra, hoje chanceler do governo Michel Temer, recebeu R$ 23 milhões (R$ 34 milhões em valores atualizados) em caixa dois pagos pela empreiteira em contas no Brasil e na Suíça.

"Foram implicados os ex-deputados Ronaldo Cezar Coelho (PSD-RJ), fundador do PSDB e amigo do ministro, e Márcio Fortes (PSDB-RJ), nome importante na arrecadação de recursos para tucanos como FHC e Aécio Neves", relata o jornal em sua primeira página.

A assessoria de José Serra negou as irregularidades e disse que o ministro "não vai se pronunciar sobre os supostos vazamentos de supostas delações relativas a doações feitas ao partido em suas campanhas".

Os dois delatores são Pedro Novis, presidente do grupo Odebrecht de 2002 a 2009 e atualmente membro do conselho administrativo, e o diretor Carlos Armando Paschoal, que atuava junto a políticos de São Paulo na negociação das doações.

Os operadores do PSDB, segundo as delações, eram os ex-deputados federais Ronaldo Cezar Coelho, um dos fundadores do partido, integrante da coordenação política de Serra em 2010, que cuidava das contas no exterior, e Márcio Fortes, que também atuou como arrecadador nas campanhas de Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990, e na de Aécio Neves, em 2014, responsável pelas doações em caixa dois no Brasil.

"Pedro Novis e José Serra são amigos de longa data. O tucano é chamado de "vizinho" em documentos internos da empreiteira por já ter sido vizinho do executivo. O ministro também era identificado como "careca" em algumas ocasiões", diz a matéria de Bela Megale. "Para corroborar os fatos relatados, a Odebrecht promete entregar aos investigadores comprovantes de depósitos feitos na conta no exterior e também no Brasil".

Pode ser só o começo de um tsunami de denúncias cujas proporções ninguém é capaz de prever no momento, mas não é difícil imaginar onde pode parar. Quem vai escapar?

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