Uma Bienal preocupada com a democracia
Por Tereza Cruvinel, em seu
blog:
Com homenagens à poeta mineira Adélia Prado e ao pensador português Boaventura Sousa Santos, será aberta amanhã, no estádio Mané Garrincha, a III Bienal do Livro e da Leitura de Brasília (21 a 29 de outubro), um evento lítero-cultural que já encontrou seu lugar na agenda nacional. A programação deste ano reflete as aflições deste momento com a democracia, com os direitos humanos e com a intolerância que ameaça a convivência pluralista. “Precisamos reinventar a democracia se quisermos que ela faça parte da solução”, disse Boaventura em mensagem preliminar ao evento onde, além de homenageado, fará palestra e autografará livros no dia 28.
Os temas dos seminários programados refletem o espírito desta Bienal preocupada com a democracia e com os problemas do mundo: “Deslocamentos: Geopolítica, Cultura, Etnia, Economia e Religião”, “Novas Tecnologias e os efeitos na cultura, economia e vida cotidiana”, “Amor, afetividade e individualidade nos tempos modernos” e “ Vida urbana – Novos espaços, novos caminhos”.
A Bienal tem direção geral de Nilson Rodrigues e produção executiva de Eduardo Cabral. É uma realização do ITS – Instituto do Terceiro Setor, em parceria com a Secretaria de Cultura do GDF e apoiadores privados. Nesta edição, haverá atividades com cerca de 120 escritores convidados, entre brasileiros e estrangeiros, 100 sessões de autógrafos e lançamentos de livros, 80 sessões de contação de histórias para crianças e jovens, 40 apresentações teatrais, além de 10 shows musicais de artistas nacionais e do Distrito Federal.
Com homenagens à poeta mineira Adélia Prado e ao pensador português Boaventura Sousa Santos, será aberta amanhã, no estádio Mané Garrincha, a III Bienal do Livro e da Leitura de Brasília (21 a 29 de outubro), um evento lítero-cultural que já encontrou seu lugar na agenda nacional. A programação deste ano reflete as aflições deste momento com a democracia, com os direitos humanos e com a intolerância que ameaça a convivência pluralista. “Precisamos reinventar a democracia se quisermos que ela faça parte da solução”, disse Boaventura em mensagem preliminar ao evento onde, além de homenageado, fará palestra e autografará livros no dia 28.
Os temas dos seminários programados refletem o espírito desta Bienal preocupada com a democracia e com os problemas do mundo: “Deslocamentos: Geopolítica, Cultura, Etnia, Economia e Religião”, “Novas Tecnologias e os efeitos na cultura, economia e vida cotidiana”, “Amor, afetividade e individualidade nos tempos modernos” e “ Vida urbana – Novos espaços, novos caminhos”.
A Bienal tem direção geral de Nilson Rodrigues e produção executiva de Eduardo Cabral. É uma realização do ITS – Instituto do Terceiro Setor, em parceria com a Secretaria de Cultura do GDF e apoiadores privados. Nesta edição, haverá atividades com cerca de 120 escritores convidados, entre brasileiros e estrangeiros, 100 sessões de autógrafos e lançamentos de livros, 80 sessões de contação de histórias para crianças e jovens, 40 apresentações teatrais, além de 10 shows musicais de artistas nacionais e do Distrito Federal.
Entre os convidados estrangeiros estão a mexicana Guadalupe Nettel, o
inglês Theodore Dalrymple, a portuguesa Raquel Varela e o norte-americano Glenn
Greenwald. Entre os brasileiros, Renato Janine, Leandro Karnal, Celso Amorim,
Márcia Tiburi, Viviane Mosé e Fernando Moraes. Participam da Bienal 170
expositores, desde pequenas livrarias até grandes editoras, oferecendo um painel
da indústria editorial e livros a preços módicos. Na curadoria, além de Nilson
Rodrigues, estão os escritores Hamilton Pereira, José Rezende e Nicolas Behr e a
tradutora Lídia Luther.
No teatro, Jonas Bloch apresentará “O delírio do verbo’, inspirado em poemas de Manoel de Barros, Paulo Betti encenará seu monólogo autobiográfico e Arnaldo Antunes fará um espetáculo especial para o evento. A programação completapode ser vista aqui.
Nesta entrevista ao 247, Nilson Rodrigues fala do espírito da Bienal, de seu significado político e cultural e de suas atrações.
Quando você organizou a I Bienal do Livro de Brasília os mais céticos temeram que o evento não se firmasse, por conta das dificuldades para sustentar sua ambiciosa logística ou por receio de que um evento voltado para livros e literatura não atraísse o publico de uma cidade essencialmente administrativa. Agora, na III edição, já é possível afirmar que a Bienal virou uma tradição?
Eu sempre acreditei na vocação cosmopolita da nossa capital. Quando projetamos a Bienal tínhamos convicção de que a resposta da sociedade seria muito positiva. Brasília é patrimônio cultural da humanidade, sedia os corpos diplomáticos e desde a sua fundação se propôs a ser uma cidade moderna, aglutinando os pensamentos e a criatividade de intelectuais como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Joaquim Cardozo, Darci Ribeiro, entre muitos outros. A Bienal é um projeto de caráter internacional que reúne escritores brasileiros e estrangeiros, debate temas contemporâneos e estimula o mercado do livro. È um esforço para que a cidade continue pensando e refletindo sobre os grandes temas do Brasil e do mundo.
Quais são as dificuldades para organizar um evento desta grandeza e quais foram os obstáculos específicos desta terceira edição, num ano de recessão, ajuste fiscal e patrocinadores retraídos?
Nunca é fácil realizar projetos culturais, principalmente os que se propõem a ser provocadores, questionadores dos modelos de sociedade que temos. A Bienal se afirmou nesses anos como um dos principais projetos de livro e leitura do país, atraindo um grande público e se diferenciando dos demais pela qualidade de sua programação, pelos debates que promove. Nesse momento politico e econômico que o país vive, as possibilidades de parceria e de patrocínios diminuíram. Como a Bienal tem entrada franca para todas as atividades, esses apoios são determinantes. Entretanto, embora as dificuldades e os obstáculos sejam muitos, não podemos parar. Até porque os debates e as reflexões nos iluminam para superar as dificuldades em que vive o país.
A programação deste ano sugere que houve um maior empenho em promover artistas e escritores locais, embora sejam muitos os convidados internacionais e de outros estados. Isso procede?
Desde a primeira Bienal buscamos equilibrar a participação de artistas de Brasilia. Nacionais e internacionais. Nesta edição não foi diferente, há espaço para todos.
Você tem uma avaliação do impacto positivo que as bienais passadas tiveram sobre a dinâmica cultural e especialmente sobre a produção intelectual e a vida editorial da cidade?
Eu sempre penso no público, no cidadão, quando realizo projetos artísticos e culturais. Quando há diálogo com o publico, se o destinatário das ações é alcançado, sempre ha impacto da cultura e nas sua dinâmica. A qualidade da produção intelectual de uma país , de uma cidade depende de vários fatores. Acho que a Bienal ajuda o debate sobre grandes questões que nos afligem, contribui para que esses temas saiam das páginas dos livros e do espaço acadêmico e se encontre com um público mais amplo. E isso tem relevância política, social e cultural.
O homenageado deste ano é o pensador social português Boaventura Sousa Santos, um crítico do capitalismo global e do neoliberalismo, um defensor da radicalização da democracia e da reinvenção do pensamento de esquerda. A escolha guarda alguma relação com a conjuntura política que o Brasil atravessa, marcado pelo arranhão democrático que foi o impeachment e a emergência de um governo ultraliberal que tem sua legitimidade contestada, aqui e lá fora?
A Bienal sempre buscou estar em sintonia coma História e com as questões contemporâneas. Na primeira edição homenageamos o Nigeriano Woylle Soynka, ensaista, romancista, dramaturgo e o primeiro negro africano a ganhar o Prêmio Nobel de literatura. Portanto, um gesto de reconhecimento a contribuição africana à literatura mundial e à formação cultural do nosso país, sabidamente racista e excludente. Na segunda edição, homenageamos o uruguaio Eduardo Galeano, o grande interprete dos sonhos , das dores e das possibilidades da América Latina. Homenagear nesta terceira edição da Bienal o pensador português Boaventura de Souza Santos significa dar destaque às suas reflexões sobre direitos humanos e aos descaminhos do modelo de democracia representativa, que garroteada pelas corporações e pelo poder econômico representa, menos do que se quer e se necessita, os interesses da maioria das sociedades. Essa crise não é só no Brasil, em todo o ocidente temos visto o desgaste desse modelo. Daí a importância de homenagear um intelectual como Boaventura de Souza Santos, pelo seu compromisso com a democracia, com as possibilidades de ampliação de participação dos cidadãos nos processos políticos.
Você é ativista cultural, produtor de cinema, empresário do setor e formulador de políticas para cultura. Como se sai com estes pais numa cidade que gravita em torno do poder e não possui exatamente uma infraestrutura cultural consistente?
Brasília tem hoje uma demanda muito grande por atividades culturais. Há muitas pessoas produzindo arte e cultura e um público crescente, interessado. Paradoxalmente, a maioria dos espaços culturais está fechada ou funcionando precariamente. È uma tragédia urbana! Não há politicas públicas de cultura que dêm conta de, pelo menos, aproximar-se dos que estão excluídos, que estão na periferia, à margem. Se o Teatro Nacional está fechado h[a três anos, é possível imaginar como deve ser a oferta nas cidades satélites, de espaços para fruição e formação. O pouco que é feito é para as classes medias e altas. Essa realidade está presente em quase todos os estados, salvo uma ou outra exceção. A responsabilidade é dos governos e das corporações, que enxergam mais seus interesses próprios em detrimento do conjunto da sociedade.
No teatro, Jonas Bloch apresentará “O delírio do verbo’, inspirado em poemas de Manoel de Barros, Paulo Betti encenará seu monólogo autobiográfico e Arnaldo Antunes fará um espetáculo especial para o evento. A programação completapode ser vista aqui.
Nesta entrevista ao 247, Nilson Rodrigues fala do espírito da Bienal, de seu significado político e cultural e de suas atrações.
Quando você organizou a I Bienal do Livro de Brasília os mais céticos temeram que o evento não se firmasse, por conta das dificuldades para sustentar sua ambiciosa logística ou por receio de que um evento voltado para livros e literatura não atraísse o publico de uma cidade essencialmente administrativa. Agora, na III edição, já é possível afirmar que a Bienal virou uma tradição?
Eu sempre acreditei na vocação cosmopolita da nossa capital. Quando projetamos a Bienal tínhamos convicção de que a resposta da sociedade seria muito positiva. Brasília é patrimônio cultural da humanidade, sedia os corpos diplomáticos e desde a sua fundação se propôs a ser uma cidade moderna, aglutinando os pensamentos e a criatividade de intelectuais como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Joaquim Cardozo, Darci Ribeiro, entre muitos outros. A Bienal é um projeto de caráter internacional que reúne escritores brasileiros e estrangeiros, debate temas contemporâneos e estimula o mercado do livro. È um esforço para que a cidade continue pensando e refletindo sobre os grandes temas do Brasil e do mundo.
Quais são as dificuldades para organizar um evento desta grandeza e quais foram os obstáculos específicos desta terceira edição, num ano de recessão, ajuste fiscal e patrocinadores retraídos?
Nunca é fácil realizar projetos culturais, principalmente os que se propõem a ser provocadores, questionadores dos modelos de sociedade que temos. A Bienal se afirmou nesses anos como um dos principais projetos de livro e leitura do país, atraindo um grande público e se diferenciando dos demais pela qualidade de sua programação, pelos debates que promove. Nesse momento politico e econômico que o país vive, as possibilidades de parceria e de patrocínios diminuíram. Como a Bienal tem entrada franca para todas as atividades, esses apoios são determinantes. Entretanto, embora as dificuldades e os obstáculos sejam muitos, não podemos parar. Até porque os debates e as reflexões nos iluminam para superar as dificuldades em que vive o país.
A programação deste ano sugere que houve um maior empenho em promover artistas e escritores locais, embora sejam muitos os convidados internacionais e de outros estados. Isso procede?
Desde a primeira Bienal buscamos equilibrar a participação de artistas de Brasilia. Nacionais e internacionais. Nesta edição não foi diferente, há espaço para todos.
Você tem uma avaliação do impacto positivo que as bienais passadas tiveram sobre a dinâmica cultural e especialmente sobre a produção intelectual e a vida editorial da cidade?
Eu sempre penso no público, no cidadão, quando realizo projetos artísticos e culturais. Quando há diálogo com o publico, se o destinatário das ações é alcançado, sempre ha impacto da cultura e nas sua dinâmica. A qualidade da produção intelectual de uma país , de uma cidade depende de vários fatores. Acho que a Bienal ajuda o debate sobre grandes questões que nos afligem, contribui para que esses temas saiam das páginas dos livros e do espaço acadêmico e se encontre com um público mais amplo. E isso tem relevância política, social e cultural.
O homenageado deste ano é o pensador social português Boaventura Sousa Santos, um crítico do capitalismo global e do neoliberalismo, um defensor da radicalização da democracia e da reinvenção do pensamento de esquerda. A escolha guarda alguma relação com a conjuntura política que o Brasil atravessa, marcado pelo arranhão democrático que foi o impeachment e a emergência de um governo ultraliberal que tem sua legitimidade contestada, aqui e lá fora?
A Bienal sempre buscou estar em sintonia coma História e com as questões contemporâneas. Na primeira edição homenageamos o Nigeriano Woylle Soynka, ensaista, romancista, dramaturgo e o primeiro negro africano a ganhar o Prêmio Nobel de literatura. Portanto, um gesto de reconhecimento a contribuição africana à literatura mundial e à formação cultural do nosso país, sabidamente racista e excludente. Na segunda edição, homenageamos o uruguaio Eduardo Galeano, o grande interprete dos sonhos , das dores e das possibilidades da América Latina. Homenagear nesta terceira edição da Bienal o pensador português Boaventura de Souza Santos significa dar destaque às suas reflexões sobre direitos humanos e aos descaminhos do modelo de democracia representativa, que garroteada pelas corporações e pelo poder econômico representa, menos do que se quer e se necessita, os interesses da maioria das sociedades. Essa crise não é só no Brasil, em todo o ocidente temos visto o desgaste desse modelo. Daí a importância de homenagear um intelectual como Boaventura de Souza Santos, pelo seu compromisso com a democracia, com as possibilidades de ampliação de participação dos cidadãos nos processos políticos.
Você é ativista cultural, produtor de cinema, empresário do setor e formulador de políticas para cultura. Como se sai com estes pais numa cidade que gravita em torno do poder e não possui exatamente uma infraestrutura cultural consistente?
Brasília tem hoje uma demanda muito grande por atividades culturais. Há muitas pessoas produzindo arte e cultura e um público crescente, interessado. Paradoxalmente, a maioria dos espaços culturais está fechada ou funcionando precariamente. È uma tragédia urbana! Não há politicas públicas de cultura que dêm conta de, pelo menos, aproximar-se dos que estão excluídos, que estão na periferia, à margem. Se o Teatro Nacional está fechado h[a três anos, é possível imaginar como deve ser a oferta nas cidades satélites, de espaços para fruição e formação. O pouco que é feito é para as classes medias e altas. Essa realidade está presente em quase todos os estados, salvo uma ou outra exceção. A responsabilidade é dos governos e das corporações, que enxergam mais seus interesses próprios em detrimento do conjunto da sociedade.
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