SAN JOSÉ, 28 JUN (ANSA) - O presidente hondurenho, Manuel Zelaya, afirmou hoje na Costa Rica, onde foi levado por militares de seu país, que foi vítima de um complô orquestrado por uma "elite voraz", cujo objetivo é manter Honduras no isolamento e na extrema pobreza.
Em declarações à imprensa, já na Costa Rica, o mandatário revelou como se deu sua prisão, realizada por oficiais das Forças Armadas, e confirmou que está em San José, capital costarriquense. "Fui vítima de um sequestro realizado por um grupo de militares. Fui traído, enganado e ultrajado pela cúpula das Forças Armadas", disse.
"Acordei com tiros e gritos da minha guarda presidencial. [Os militares] invadiram minha casa a tiros. Fui empurrado e ameaçado com armas de fogo. Isto é um sequestro brutal, que não tem justificativa", relatou o presidente. "Saí com a roupa que usava para dormir, e assim estou aqui, na Costa Rica."
O mandatário disse que tentou dialogar com os oficiais que o renderam. "Avisei que estavam cumprindo ordens ilegais. Eram oito ou dez soldados com capacete e máscara. Apontaram suas armas e mandaram que eu caminhasse."
"Não me assassinaram porque os soldados vêm do povo e estavam tremendo quando me ameaçavam, eles sabem que estão recebendo ordens de uma elite voraz", que "deseja manter o país isolado e na extrema da pobreza", continuou.
Zelaya pediu ainda à embaixada dos Estados Unidos que se posicione sobre o ocorrido. "Se os Estados Unidos não estiverem por trás disso, a situação não se manterá por mais de 48 horas. Mas os Estados Unidos podem evitar este terrível golpe que estão dando ao nosso povo e à nossa democracia", considerou.
O mandatário voltou ainda a defender a realização da consulta, que ocorreria hoje no país, motivo da crise política desatada nos últimos dias. "Queríamos fazer bem a Honduras, instaurando um processo participativo. Era apenas uma pesquisa, e não se pode justificar a interrupção da democracia e um golpe por causa de uma pesquisa".
Dirigindo-se aos cidadãos hondurenhos, Zelaya pediu que seus apoiadores saiam às ruas para protestar contra o golpe, mas que o faça "pacificamente, sem violência".
"Não podemos permitir que interrompam a vontade do povo por uma grosseria de uma elite voraz que está dominando o país e que não tem limites. Honduras vai retroceder 40 anos", disse ele, reiterando que setores da sociedade civil, entre eles a Igreja Católica, devem se pronunciar sobre o golpe que o tirou do poder.
"Vou a Manágua [Nicarágua] como presidente de Honduras, meu mandato continua até 2010, os que estão traindo Honduras não têm legitimidade para nomear um presidente. Esta é a voz de um ou dois militares, não é a voz das Forças Armadas hondurenhas. Acredito que o contingente das Forças Armadas no fundo está do meu lado", disse o presidente.
No momento, o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) discute a crise em Honduras, onde o presidente do país foi vítima de um golpe de Estado.
Carlos Sosa, embaixador hondurenho ante a OEA, pediu à entidade uma condenação enérgica. "Honduras pede a vocês uma condenação enfática" ao golpe "cometido por um grupo de maus filhos de Honduras, escondidos sob um uniforme que outrora foi glorioso", disse.
Cerca de 22 soldados armados ingressaram na casa de Zelaya, localizada em Tres Caminos, leste de Tegucigalpa, por volta das 5h45 locais (8h45 no horário de Brasília). O governante foi levado à Base Aérea Militar, de onde deixou o país. (ANSA)
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