Quando a gente pensa que essa de general derrubar presidente é coisa do passado, eis que isto acontece em Honduras.
Carlos Dória
Golpe militar da direita em Honduras; condenação geral
O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi preso pelo Exército do país na madrugada deste domingo (28), pouco antes da realização do referendo sobre um processo constituinte. Um secretário do presidente disse que ele foi levado para uma base aérea fora da capital, Tegucigalpa. Segundo a imprensa local, o presidente foi retirado ''à força'' de sua casa no início da manhã.
Zelaya, deposto pelo exército como nos anos 70 O líder sindical e aliado de Zelaya, Rafael Alegria, classificou a ação de ''golpe de Estado''. ''É lamentável'', disse ele à rádio hondurenha Cadena de Noticias. Segundo Alegria, tiros foram disparados durante a prisão de Zelaya, mas ''não se sabe exatamente o que aconteceu''.
Tanques nas ruas como nos velhos tempos
Carros blindados e tanques saíram hoje às ruas de Tegucigalpa, horas depois do alto escalão das Forças Armadas prender o presidente de Honduras. Os veículos militares tomaram as ruas que dão acesso à residência presidencial, segundo a Agência Efe, enquanto aviões caça sobrevoam a capital hondurenha.
Zelaya havia prometido realizar uma consulta popular para decidir se a Constituição pode ser alterada, o que poderia permitir a reeleição presidencial. O plano do presidente foi considerado ilegal pelo Congresso e pela Justiça do país, enfrenta a oposição também do Exército.
Protestos de vários lados
Começou às 12 horas (de Brasília), em Washington, reunião de emergência da Organização dos Estados Americanos OEA) para analisar a situação.
Em Caracas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, condenou hoje o ''golpe de Estado troglodita'' cometido contra seu colega de Honduras, Manuel Zelaya, e destacou que ''chegou a hora do povo'' e dos movimentos sociais desse país. Chávez também pediu ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ''que se pronuncie'', já que, disse, ''o império tem muito a ver'' com o que acontece em Honduras.
Em La Paz, o presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu hoje aos organismos internacionais, aos seus colegas da América Latina e aos líderes de movimentos sociais que ''condenem e repudiem o golpe de Estado militar em Honduras''. Em declarações no Palácio do Governo, Morales disse que neste momento há uma ''emergência internacional'' em Honduras, onde o presidente Manuel Zelaya foi detido pelos militares e levado para uma base da Força Aérea.
Porém a condenação não se circunscreve à esquerda latino-americana, da qual Zelaya se aproximou em busca de mudanças de fundo em seu país. A União Europeia (UE), dominada por conservadores, já condenou o golpe militar. Comunicado divulgado pelos 27 chanceleres da UE classificou a deposição de ''inaceitável violação da ordem constitucional em Honduras''. A UE exigiu ainda a imediata libertação de Zelaya e ''a volta à normalidade constitucional''.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também se declarou "profundamente consternado com os informes que chegam de Honduras sobre a detenção e expulsão do presidente Zelaya". Obama disse que as disputas no país "devem ser resolvidas pacificamente através de diálogo livre de qualquer interferência externa".
Centenas de soldados tomam a capital
Zelaya foi eleito em 2006 e, sob a atual Constituição hondurenha, não pode disputar a reeleição. Ele queria realizar uma consulta popular para decidir se uma Assembléia Constituinte deve ser convocada para fazer mudanças constitucionais junto com as eleições, marcadas para novembro. O presidente disse que não tem intenção de concorrer novamente ao cargo, mas que quer apenas que presidentes futuros tenham essa chance.
Na terça-feira, o Congresso aprovou uma lei que proíbe a realização de referendos ou plebiscitos 180 dias antes ou depois de eleições gerais, feita sob medida para impossibilitar os planos do presidente. Em seguida, o chefe do Exército disse que não ajudaria na organização do referendo para não desrespeitar a lei.
Na quinta-feira, o presidente e seus simpatizantes entraram em uma base militar e retiraram as urnas que estavam guardadas lá. ''Nós não vamos obedecer a Suprema Corte'', disse o presidente a uma multidão de simpatizantes em frente à sede do governo. ''A corte, que apenas faz justiça aos poderosos, ricos e banqueiros, só causa problemas para a democracia.''
No sábado, o presidente ignorou uma decisão da Suprema Corte para devolver o cargo ao chefe do Exército, general Romeo Vasquez, que foi demitido após se negar a ajudar na preparação do referendo.
Líderes militares se recusaram a entregar urnas para a votação, uma decisão que levou à demissão do general Vasquez e à renúncia do ministro da Defesa, Edmundo Orellana. Os chefes da Marinha e da Aeronáutica também renunciaram em protesto. O Exército, por sua vez, colocou centenas de soldados nas ruas da capital, dizendo que quer prevenir que os aliados do presidente causem confusão.
Da redação, com agências/Site O Vermelho.
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