quinta-feira, 18 de junho de 2009

ECONOMIA - Brasil precisa de mais industrialização.

“E enquanto não tivermos industrialização os empregos gerados continuaram sendo de no maximo 2 salarios minimos ” - Requião

Governador do Paraná defende investimento maciço no setor produtivo para transpor os efeitos da crise econômica internacional

Por Mário Augusto Jakobskind

O Governador do Paraná, Roberto Requião, acredita que o Brasil está numa encruzilhada: ou se fazem fortes e maciços investimentos industriais, criando condições para o desenvolvimento real, ou “selamos a nossa história como meros produtores de commodities agrícolas, consolidando augusta presença no mundo subdesenvolvido, do atraso, da periferia”. E, se isso acontecer, acrescentou, o Brasil se reduzirá a espaço para as plantationsdas multinacionais”.

Essa opinião foi apresentada por Requião no seminário “Alternativas para o Brasil enfrentar a crise”, evento realizado na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, e organizado por dez entidades, entre as quais o Conselho Regional de Economia, além do jornal Monitor Mercantil.

No entender de Requião, uma das medidas para se enfrentar a crise financeira cada vez mais presente no setor produtivo da economia brasileira é a estatização do crédito. O governador defende que, em vez de repassar dinheiro para os bancos investirem em títulos do Tesouro, o Estado deve conduzir uma política de financiamento extremamente agressiva, forçando também o sistema bancário a abrir linhas de crédito para ao empresariado brasileiro, especialmente para a indústria. Requião cobrou a efetivação de uma política industrial, que nunca sai do papel, e lembrou o que considerou óbvio, ou seja, que “sem industrialização não há desenvolvimento”.

Investimentos em infra-estrutura

Depois de alertar para a necessidade de se investir em infra-estrutura, o governador lembrou que, com o fato de que 60% do território brasileiro não são acessados por estrada de ferro, rodovia ou avião, e não possuem energia elétrica ou telefone, não existe nenhuma chance de construirmos uma economia forte.

Além disso, defendeu o controle do câmbio. “Um país que pretenda ser zeloso de sua soberania e de suas decisões na área econômica não pode deixar o câmbio solto, sem vigilância, submetido aos azares da sorte”.

O governador defendeu também uma proposta do professor Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que perdeu o cargo no primeiro governo Lula por entrar em choque com representantes do capital financeiro, inclusive o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles: “todas as operações cambiais deveriam ser centralizadas no Banco do Brasil, cabendo ao Banco Central esclarecer as circunstâncias dos fluxos, pois o país precisa saber, sua soberania exige que saiba, as condições de todas as operações de câmbio”.

A desoneração do consumo foi também um dos pontos sugeridos por Requião para o Brasil enfrentar a crise financeira que se amplia. Para ele, é necessário uma “reforma tributária que diminua os impostos sobre os bens de consumo que o salário compra”. E observou: “estou fazendo isso no Paraná, reduzindo de 25% e 18% para l2% o ICMS sobre 95 mil produtos de consumo dos assalariados. Ao mesmo tempo, para equilibrar a arrecadação, elevo alíquotas de produtos que não influam diretamente sobre os preços do que os assalariados consomem”.

Ainda segundo Requião, no momento que o Brasil atravessa é fundamental manter e estimular o consumo, o que significa manter a produção e os empregos e, ao mesmo tempo em que “tomamos medidas que diminuam o impacto da crise sobre nós, devemos desatrelar o nosso destino da globalização neoliberal”.

Sobre a expulsão da Odebrecht do Equador, em função de falhas na construção de uma hidrelétrica, o governador do Paraná culpou a primeira. Ele consultou técnicos da empresa de energia elétrica do Paraná, que garantiram que a empresa brasileira é 100% culpada pelo que foi feito de errado na construção. Ele não analisa o fato como uma briga entre o Estado brasileiro e o do Equador, mas tão somente entre a empresa Odebrecht e o Equador, que será decidido agora por um tribunal comercial internacional.

Moratória nos derivativos

No mesmo seminário, o economista Carlos Lessa defendeu, entre outras coisas, que o governo brasileiro faça uma moratória para as aplicações dos derivativos, a fim de proteger as reservas cambiais brasileiras. Lembrou que 200 grandes empresas nacionais, como a Sadia, a Aracruz Celulose e o grupo Votorantim, aplicaram pesadamente em derivativos, sofrendo enormes prejuízos.

Segundo Lessa, municípios de Santa Catarina onde a Sadia (que teve um prejuízo de 1,5 bilhão de dólares) mais atua e que são os de maior renda per capita do país serão seriamente afetados.

Lessa fez duras críticas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o principal responsável, segundo ele, pela inserção passiva do Brasil no processo de globalização. Citou, como exemplo de outra forma de inserção na globalização, ativa e benéfica aos interesses de cada país, o que fez o presidente venezuelano Hugo Chávez ao comprar títulos da dívida argentina, que posteriormente resultaram em lucros para o Estado.

Em sua longa exposição sobre os rumos da economia brasileira, Lessa defendeu a adoção de medidas protecionistas para o mercado brasileiro, sobretudo para se defender da China, que, daqui em diante, irá abusar da prática de dumping comercial.

“Efeito Casas Bahia”

Preocupado com os reflexos da crise no setor produtivo da economia, Lessa advertiu que, com o aumento do desemprego, em pouco tempo Brasil sentirá os efeitos do estouro de uma bolha, que denominou de “efeito Casas Bahia”, ou seja, uma crise de crédito provocada por endividamento de pessoas de baixo poder aquisitivo. “Esse pessoal comprou bens pela tabela price, que é muito onerosa. Com a queda de emprego e de renda, o resultado será realmente danoso”.

Ainda em sua fala, Lessa previu que, com a descoberta das reservas do pré-sal, o Brasil poderá se converter numa sociedade com boa qualidade social, mas só se souber fazer uma política de emprego e renda. Segundo o economista, o Brasil é perfeitamente viável, mas poderá se tornar inviável se não se altera a atual política econômica conduzida pelo super ministro Henrique Meirelles. Lessa teme também que as reservas internacionais brasileiras, que eram de 207 bilhões de dólares antes do início da crise, possam se evaporar.

Pior que nos EUA

A desaceleração da economia vai ser maior do que nos Estados Unidos e, se for mantida a atual política conduzida pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o Brasil vai para o buraco. Essa previsão catastrófica foi feita, durante o seminário, pelo representante da Associação dos Economistas do BNDES, Gustavo Antonio Santos..

Santos advertiu que agora acabou a fase do dinheiro barato de empréstimo do BNDES e apresentou uma proposta concreta para enfrentar a crise que tende a se ampliar: um BNDES social, voltando às origens. Para isso, assinalou, bastaria Lula ter vontade política e assinar uma disposição para que a entidade tenha acesso aos 100 bilhões de reais do Tesouro para o investimento no social. “É uma solução barata e simples para superar a crise, pois, com isso, seriam criados empregos e se ampliaria o mercado interno”, sugeriu.

O exemplo da China

Já o cientista político Theotônio dos Santos fez duras críticas à política econômica em que os neoliberais endeusam o mercado e se posicionam contra o Estado. Lembrou que, atualmente, das dez principais empresas no mundo, seis são estatais. Trata-se de uma nova realidade que contraria as teses neoliberais que sinalizam para o fortalecimento da empresa privada e o enfraquecimento do Estado. Para Theotônio dos Santos, o maior exemplo nesse sentido é a China, que tem a maior empresa do mundo, uma estatal de petróleo.

O país asiático, segundo o cientista político, demonstra concretamente que um país pode crescer e também aumentar o consumo, o que contradiz a tese defendida pelo esquema Meirelles, que tem como norma a teoria segundo a qual o consumo impede o crescimento. “Nos 30 anos de crescimento, a China provou a inutilidade da tese dos economistas neoliberais de que o crescimento do consumo é incompatível com o crescimento da economia”.

Os economistas nos Estados Unidos, lembra Theotônio, passaram 30 anos prevendo, anualmente, inflação na China. “Saía ano, entrava ano, e as previsões fracassaram, sem que os futurólogos reconhecessem os erros de previsão”, disse.
Fonte:Brasil de Fato.

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