quinta-feira, 25 de junho de 2009

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS DE OBAMA.

Por James Petras

"Os Deltas são uns psicopatas… Tem de ser um psicopata certificado para entrares na Força Delta…", disse-me em Fort Bragg, aí pelos anos oitenta, um coronel do exército estadunidense. Agora, o Presidente Obama acaba de nomear o mais infame dos psicopatas, o general Stanley McCrhystal, para a chefia do comando militar estadunidense e da OTAN no Afeganistão. A nomeação de McCrhystal para esse cargo dirigente está manchada pelo seu papel fundamental desenvolvido na direção das equipes de operações especiais encarregadas de executar assassínios extra-judiciais, torturas sistemáticas, bombardeamentos de comunidades civis e missões de investigação e destruição. A brutalidade e a sede de sangue que acompanham a construção do império dirigido pelo exército são por ele incorporados em plenitude. Entre setembro de 2003 e agosto de 2008, McChrystal esteve como comandante das operações especiais conjuntas do Pentágono (JSO, na sua sigla em inglês) que se utilizam de equipes especiais para perpetrar assassínios fora do país.

O que importa destacar sobre as equipes de "Operações Especiais" (SOT, na sua sigla em inglês) é que entre os seus opositores não fazem distinção entre civis e militares, entre ativistas e simpatizantes e a resistência armada. As SOT são especializadas em criar esquadrões de morte e recrutar e treinar forças paramilitares para aterrorizarem as comunidades, os bairros e os movimentos sociais que se oponham aos regimes subservientes aos EUA. O "contra-terrorismo" dos SOT é terrorismo ao contrário.

Os SOT de McChrystal selecionaram como objetivos os dirigentes da resistência nacional e local no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, atacando-os através de ações de comandos e bombardeamentos aéreos. Durante os últimos cinco anos do período Bush-Cheney-Rumsfeld, os SOT estiveram profundamente implicados nas torturas de prisioneiros políticos e simples suspeitos. McCrhystal é particularmente querido de Rumsfeld e Cheney por ter estado encarregue das forças de "Ação Directa" das "Unidades de Missões Especiais". Os operativos de "Ação Directa" são torturadores e esquadrões de morte, e o seu único dever é desencadear o terror, nunca o de fazer propaganda. Comprometem-se na "propaganda a partir dos mortos", nos assassínios de dirigentes locais com o objetivo de "ensinar" a população local a submeter-se à ocupação. A nomeação de McChrystal por Obama para o comando supremo reflete uma grave e nova escalada militar da sua guerra do Afeganistão face aos avanços da resistência por todo o país.

A deterioração da posição dos EUA é patente no endurecimento do cerco em volta de todas as estradas que entram e saem da capital afegã, Cabul, bem como no alargamento do controle e influência talebã ao longo da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. A incapacidade de Obama recrutar novos reforços por parte da OTAN significa que a única saída que a Casa Branca tem para continuar no seu avanço militar imperialista é aumentar o número de tropas estadunidenses, e incrementar o ratio de morte entre todos e cada um dos suspeitos civis nos territórios controlados pela resistência armada afegã.

A Casa Branca e o Pentágono afirmam que a nomeação de McChrystal é devida a "complexidades" da situação no terreno e à necessidade de "uma mudança na estratégia". O termo "complexidade" é um eufemismo para ocultar o aumento massivo da oposição aos EUA, o que complica as tradicionais operações de "impeza militar e bombardeamentos". A nova estratégia a pôr em prática por McCrhystal necessita de "operações especiais", a longo prazo e em grande escala, para devastar redes sociais locais e assassinar os seus dirigentes, que são quem proporciona o sistema de apoios que a resistência armada precisa.

A decisão de Obama de impedir a publicação de dezenas de fotografias que documentam as torturas aos prisioneiros levadas a cabo pelas tropas e os "interrogadores" estadunidenses (particularmente sob o comando das "Forças Especiais") está diretamente relacionada com a nomeação de McCrhystal, cujas forças SOT estão profundamente implicadas nas extensas práticas de tortura executadas por todo o Iraque. Igualmente importante é que sob o comando de McChrystal, o DELTA, o SEAL e as equipes de Operações Especiais terão um papel maior na nova "estratégia de contra-insurreição". A afirmação de Obama de que a publicação dessas fotos afetaria negativamente as "tropas" tem um significado especial: a exposição gráfica do modus operandi de McChrystal durante os cinco últimos anos do mandato do Presidente Bush minaria a sua eficácia, precisamente no momento de executar idênticas operações, agora sob a administração de Obama.

A decisão de Obama de recuperar os tribunais militares secretos para julgar os prisioneiros políticos estrangeiros que estão no campo de Guatánamo não é uma simples repetição das políticas de Bush-Cheney, que Obama tinha condenado e prometido eliminar durante a campanha presidencial, mas faz parte da sua política mais ampla de militarização, e coincide com a aprovação das maiores operações secretas de vigilância policial desencadeadas contra cidadãos estadunidenses.

Encarregar McChrystal das alargadas operações militares afegano-paquistanesas significa colocar um tristemente célebre profissional do terrorismo militar – da tortura e assassínio de quantos se opõem às políticas estadunidenses – no centro da política externa dos EUA. A expansão quantitativa e qualitativa de Obama da guerra dos EUA no Sul da Ásia significa cifras massivas de refugiados, fugindo da destruição dos seus campos, casa e povoações; dezenas de milhar de mortes de civis e a erradicação de comunidades inteiras. Tudo isto é o que se vai ver a administração de Obama executar na sua tentativa de "capturar o peixe (ativistas e insurreição armada) esvaziando o lago (deslocar povoações inteiras)".

A restauração por parte de Obama de todas as políticas mais nefastas da Era Bush e a nomeação do seu mais brutal comandante baseiam-se na sua incondicional adesão à ideologia de construção do império através do exército. Quando alguém acredita (como Obama) que o poder e a expansão estadunidense se baseiam na contra-insurreição e nas conquistas militares, qualquer outra consideração econômica, moral, diplomática e ideológica estará sempre subordinada ao militarismo. Ao centrarem-se todos os recursos na conquista militar, não poderá prestar-se atenção aos custos suportados pelos povos espezinhados pela conquista nem às necessidades da economia interna e do Tesouro estadunidenses. Está claro desde início: no meio de uma profunda recessão/depressão, com milhões de estadunidenses a perderem os seus empregos e casas, o presidente Obama aumentou o orçamento militar em 4%, elevando-o acima dos 800.000 milhões de dólares.

A adesão de Obama ao militarismo ficou patente a partir da sua decisão de ampliar a guerra do Afeganistão, apesar da rejeição dos países da OTAN em se comprometerem com o envio de mais tropas. É óbvio, face à designação do general das forças Especiais mais duro e infame da era Bush-Cheney para encabeçar um comando militar, que este tem como missão fazer ajoelhar as zonas fronteiriças do Paquistão.

É o que George Orwell descrevia na sua Revolução dos Bichos: os porcos democratas estão agora metidos nas mesmas brutais políticas militaristas dos seus predecessores, os porqueiros republicanos, só que agora tudo se faz em nome dos povos e da paz. Orwell poderia parafrasear a política do presidente Barack Obama dizendo: "Guerras maiores e mais sanguinárias equivalem a justiça e paz"

James Petras, é rofessor da Universidade de Nova Iorque, é amigo e colaborador Odiario.info.Este texto foi publicada em www.rosa-blindada.info.

Tradução de José Paulo Gascã
Fonte:Revista Fórum

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