Resposta da Frente Patriótica Nacionalista e Islâmica do Iraque ao discurso de Obama
Fonte: ODiario.info
Nobre Povo do Iraque
Orgulhosos e dignos lutadores pela liberdade
Filhos das nossas gloriosas nações árabe e islâmica
Pessoas livres do mundo
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Apesar de toda a propaganda que precedeu o discurso do presidente dos EUA, Barack Obama, no Cairo, em 4 de Junho de 2009, por ser o primeiro discurso de um presidente estadunidense dirigido fundamentalmente ao mundo islâmico, o que o presidente Obama disse sobre o Iraque foi muito pouco claro e suscita, além disso, muitas perguntas que exigem uma resposta e uma clarificação franca, tanto da sua parte como do seu governo.
Obama disse que o governo dos EUA ocupou o Iraque por decisão própria, mas, quem autorizou esse governo a ocupar militarmente, á margem da legalidade e contra a vontade da comunidade internacional, da Liga Árabe e da Organização da Conferência Islâmica e dos Países Não Alinhados?
Se Obama quer reparar e melhorar a imagem dos EUA depois da invasão e ocupação do Iraque deve reconhecer, clara e francamente, a da sua nação por tudo o que aquilo a que este país se viu submetido, quer o seu povo quer o Estado: as perdas humanas e materiais, a destruição da sua infra-estrutura e a obstrução do seu desenvolvimento cultural, científico e social durante os seis anos de submissão de todas as capacidades do Iraque por parte dos EUA. Além disso, o presidente Obama também afirmou que a situação do Iraque é agora melhor que antes da ocupação. E nós perguntamos: como se quantificam estes fatos e qual é o critério de preferência? Durante todos estes anos de ocupação viveu o povo iraquiano uma ambiente de segurança? Pode uma família iraquiana viver sequer uma hora do dia ou da noite sob a vossa ocupação sem se preocupar pelos seus filhos?
E onde está a democracia que o governo Bush prometeu aos iraquianos quando promoveu a invasão e a ocupação? É a democracia das dezenas de cárceres dos EUA e do governo títere, onde sucumbiu quase meio milhão de iraquianos? Ou será antes a democracia dos corpos não identificados e decapitados ou picados pelos choques elétricos, a marca dos esquadrões da morte? É esta a melhoria da situação a que Obama se refere? Ou é a democracia da divisão sectária, da partilha dos dividendos do poder e a sua transferência para contas privadas, tal como acontece com empresas, edifícios e mansões, hoje propriedade dos novos governantes? Ou é a democracia da pobreza e da indigência, numa situação em 75% do povo iraquiano vive na pobreza? Viveu o Iraque antes da ocupação o violento caos que está hoje a viver? Acaso os serviços que agora se oferecem ao povo iraquiano são muito melhores que os que oferecia o regime nacional? Era o nível educacional e de sanidade tão baixo como o é agora no Iraque democrático de «transparência e integridade» que os cidadãos detestam devido aos muitos crimes cometidos contra eles e em seu nome?
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Quem é povo iraquiano do presidente Obama?
Disse o presidente Obama no seu discurso: «Deixaremos o Iraque ao seu povo». Mas que é esse povo, segundo Obama? São-no por acaso os desprezíveis agentes que infligiram o maior sofrimento ao povo iraquiano através do seu abominável projeto, cujas conseqüências eram previsíveis, e que estão a desmantelar o tecido social iraquiano? Do ponto de vista de Obama e do seu governo, o povo iraquiano são os corruptos, os dilapidadores e ladrões que em seis anos não construíram uma só escola no Iraque e cujos escândalos financeiros e administrativos converteram o Iraque no país mais corrupto do mundo [1]?
Queremos dizer ao presidente Obama que o povo do Iraque conhece quem faz parte dele, sabe quem são as pessoas que construíram o país e a quem se deve o seu moderno renascimento científico e cultural. O senhor não quer saber a verdade, ou não quer reconhecê-la, pois ignorou no seu discurso os crimes cometidos pelas forças estadunidenses no Iraque e os crimes que os funcionários do governo de al-Maliki cometeram contra o povo iraquiano.
Presidente Obama: o senhor é culpado por o seu discurso ser tão pouco claro em relação ao Iraque e ao seu povo.
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A retirada: incumprir o anunciado
Obama anunciou que os EUA retirarão do Iraque em 2012. Este é outro ponto obscuro no que se refere ao calendário previamente anunciado pelos EUA. O «Tratado de submissão» (SOFA) [2] estabeleceu o ano de 2011 como o ano da retirada do último soldado estadunidense do Iraque. Este anúncio pressupõe uma mudança de data ou, até, que é o governo estadunidense que toma unilateralmente as decisões e que, como sempre, não respeitará nenhum acordo.
O nosso povo sabe quem são as pessoas que mantêm as suas promessas e que lutam, e sabem como conseguiram fazer sair mais de um terço dos soldados estadunidenses que serviam no Iraque. A valente resistência iraquiana de todas as tendências – patriótica, nacional e islâmica – fez fracassar o projeto de ocupação estadunidense e está em vias de frustrar o processo político. O povo iraquiano é o único gestor da resistência e das valentes pessoas que a integram para recuperar um Iraque livre, independente, árabe e muçulmano e para conseguir que os ocupantes se vão embora derrotados.
Longa vida ao Iraque, longa vida aos gloriosos mártires do Iraque e da nação árabe.
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Departamento do Comunicação da Frente Patriótica Nacionalista e Islâmica do Iraque, 5 de Junho de 2009.
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Notas de IraqSolidaridad:
1. En realidad, el tercero más corrupto, solo superado por Somalia y Myammar, según la organización Global Transparency.
2. “Acuerdo de Retirada de las Fuerzas de Estados Unidos de Iraq”, SAFO, en sus siglas en inglés. Véase en IraqSolidaridad: Pedro Rojo: Iraq, “El acuerdo de seguridad sobre la retirada de tropas estadounidenses”, un contrato de permanencia
Este texto foi publicado em Nodo50
Tradução de José Paulo Gascão com base no texto em espanhol traduzido do árabe por Imán Jamás e revisto por Beatriz Morales
Fonte:blog do Velho Comunista.
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