"O cassino das finanças utiliza erro da agência Standard & Poor's para aumentar a especulação", constata Clóvis Rossi, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 09-08-2011.
Eis o artigo.
O presidente Barack Obama atacou ontem de Luiz Inácio Lula da Silva e sua propensão ao ufanismo/ bravata: "Os mercados subirão e baixarão, mas os Estados Unidos sempre seremos um país triplo A", cantou.
Não havia mesmo outra coisa a dizer, no momento em que a desconfiança sobre os Estados Unidos está no auge, até porque seus títulos de dívida deixaram de ser AAA, pelo menos para a Standard & Poor's.
Mas, para investidores e governos do G20 que compraram tais papéis, eles continuam sendo triplo A, desmoralizando ainda mais a S&P.
No desespero pela queda mundial nas Bolsas de Valores, a procura pelos títulos da dívida norte-americana só fez aumentar. Em consequência, cai o retorno, em proporção inversa ao aumento do preço. No meio da tarde de ontem, a queda no "juro" pago pelos papéis de dez anos caía 8%.
Ironizava Lou Crandall, da firma Wrightson Icap, para o "Financial Times": "O que você faz se [os títulos, chamados "treasuries"] são degradados? Compra mais treasuries".
Ironia à parte, no próprio mercado a S&P foi duramente criticada. Escreveu, por exemplo, Bill Miller, chefe de investimentos da Legg Mason Capital Management: "O rebaixamento pela S&P da dívida soberana dos EUA foi precipitada, errada e perigosa".
Nada que você não pudesse ter lido domingo neste espaço, mas, repito, em inglês e vindo de uma voz de mercado, fica sempre mais sonoro.
Se você prefere em francês, eis o que disse ao "Le Monde" de ontem Rama Cont, diretor do Centro de Engenharia Financeira da Universidade Columbia (Nova York): "Se as agências [de rating] sopram hoje o calor e o frio sobre os Estados e os mercados, é porque reguladores e legisladores lhes conferiram o estatuto de
oráculos".
Tanto é assim que o rebaixamento foi o pretexto do dia para mais uma jornada infernal nas Bolsas de Valores. O que reforça outra avaliação constante deste espaço, a de que os mercados estão crescentemente tomando o lugar dos governos.
Avaliação compartilhada por Bernd Riegert, da Deutsche Welle, a mídia pública alemã: "Instáveis investidores estão influenciando as políticas fiscal e monetária mais do que os líderes nacionais. Os políticos, nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa, olham impotentes enquanto uma massa de investidores sem rosto movimenta bilhões de euros e dólares através dos mercados mundiais, ditando as futuras políticas fiscal e econômica no percurso".
Bingo
A decisão do Banco Central Europeu de comprar papéis italianos e espanhóis não foi por convicção, mas porque os mercados vinham há duas semanas apostando contra Itália e Espanha, elevando a níveis insuportáveis os juros cobrados pelos títulos da dívida.
É verdade que a ação do BCE foi positiva: os juros caíram substancialmente, mas o mal já feito no percurso está dado.
Nem os Estados Unidos nem a Europa nem ninguém conseguirá manter o AAA ou chegar a ele se continuar esse jogo em que os mercados, não eleitos, determinam as políticas aos líderes devidamente eleitos. Estes podem ser bons ou ruins, mas têm que prestar contas regularmente aos eleitores. Os mercados, não.
Fonte: IHU
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